Correio de Carajás

Estudantes cobram bolsas e fecham a Unifesspa em Marabá

Movimento é liderado por acadêmicos indígenas, quilombolas e estudantes do campo, que ocuparam entrada da Unidade III, no Cidade Jardim

Indígenas, quilombolas e estudantes do campo protestam por bolsa no Campus 3 da Unifesspa/Fotos: Evangelista Rocha

Estudantes indígenas, quilombolas e do curso de educação do campo cobraram, em um ato pacífico na manhã desta quarta-feira (9), em frente ao Campus III da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), ações que garantam o acesso e permanência de alunos de origem das duas etnias na instituição pública de ensino. Existem, atualmente, 18 bolsas para 110 estudantes ingressos na universidade.

Entre as principais reivindicações do movimento estudantil, está o reestabelecimento do auxílio financeiro federal do Programa de Bolsa Permanência, do Ministério da Educação (MEC). Em entrevista à reportagem deste CORREIO, o líder estudantil David Kakoktyire, pertencente à etnia Gavião Akrãtikatêjê, explica que a mobilização é para manter os estudantes na instituição.

O líder estudantil David Kakoktyire apresenta reivindicações de bolsas para os “excluídos”

Ele destaca a importância da união de três movimentos: o indígena, o quilombola e o da educação do campo, representando uma ampla gama de estudantes em busca de direitos educacionais.

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A questão central levantada pelo líder estudantil é a carência de apoio financeiro para esses estudantes. David enfatiza que a luta visa à obtenção de bolsas de permanência, auxílio financeiro e outras formas de suporte que possam assegurar a continuidade dos estudos. Ele também fez questão de ressaltar que muitos alunos estão enfrentando dificuldades financeiras sérias devido à ausência desses auxílios.

“Desde 2021, alunos não são contemplados com bolsas disponibilizadas pelo MEC, e isso ocorre principalmente com estudantes indígenas e quilombolas. Há também o caso da educação do campo, que são alunos que vêm de muito longe e não são contemplados dentro desse sistema de bolsa”, reclama.

Segundo ele, a falta de suporte educacional se tornou ainda mais evidente na gestão anterior do governo federal. Mesmo com um aumento no número de bolsas disponíveis e no valor, muitos estudantes das instituições da Amazônia Oriental ainda se encontram desamparados. Apenas uma pequena porcentagem dos alunos indígenas e quilombolas foi contemplada com as bolsas, levando a uma defasagem significativa.

Cartazes dos alunos mostram as principais reivindicações na academia, em Marabá

David ressalta que o movimento busca não apenas a garantia de recursos financeiros, mas também o reconhecimento da importância desses estudantes dentro das instituições de ensino. A luta por uma educação inclusiva, que valorize e respeite a diversidade cultural e étnica do país, permanece no centro das reivindicações do líder estudantil.

UNIFESSPA SE MANIFESTA

Em nota, a assessoria de comunicação da Unifesspa informou o seguinte:

“A Administração Superior está aberta aos espaços de diálogo. Entendemos que a permanência dos estudantes é prioridade máxima. Em contrapartida, o orçamento da Unifesspa está abaixo do que é preciso para se manter. Ainda assim, estamos em busca de soluções para as reivindicações apresentadas”, destaca a Profa. Dra. Lucélia Cavalcante, no exercício da reitoria.

Como encaminhamento às reivindicações de bolsas permanência para indígenas e quilombolas e consolidação da alternância pedagógica para a educação do campo, ficou definido que, de forma emergencial, estará assegurado o pagamento de bolsas aos 95 estudantes inscritos no Bolsa MEC (PBP) e que não foram contemplados no programa do governo federal.

Os recursos virão do PNAES, sendo pagos em agosto e recebimento em setembro, após o remanejamento de recursos de outras áreas, e serão pagas por meio do Programa de Auxílio Permanência Emergencial para Discentes Indígenas e Quilombolas (Apeiq). A administração Superior também propôs a criação de um grupo que irá discutir as próximas ações, bem como participar de reuniões no Ministério da Educação e com demais autoridades que ajudem a sanar a problemática. A Unifesspa segue com sua postura e compromisso enquanto uma universidade pública, plural, de qualidade, inclusiva e protagonista na luta por justiça social”.

A assessoria informou também à reportagem deste CORREIO que o Campus III permanecerá fechado até esta quinta-feira (10). (Thays Araujo)