Correio de Carajás

Estado de costas para a Educação

Insegurança para alunos e professores, não pagamento do piso nacional, escolas sucateadas e alunos chegando ao Enem sem condições de competir por vagas no Ensino Superior. Esses são alguns dos relatos feitos por educadores e estudantes da rede estadual em entrevista à Rádio Correio FM, nesta segunda-feira (15). Em depoimentos chocantes, eles revelaram a triste realidade das escolas públicas em Marabá, na gestão do governador Simão Jatene, literalmente de costas para a Educação e o desenvolvimento dos estudantes. A denúncia ajuda a explicar o Pará com o pior Ensino Médio em toda a região Norte e o penúltimo do Brasil, segundo os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação.

Conforme os números mais recentes, referentes a 2017, a nota das escolas públicas e privadas paraenses foi de apenas 3,1, em uma escala que vai de zero a 10. O resultado ficou aquém da meta prevista de 4,1. É um resultado alarmante, porque revela a falta de capacidade do Estado para resolver o antigo problema.

O Pará ficou estagnado com a mesma nota do Ideb 2015, ficando atrás de Acre (3,8), Roraima (3,5), Rondônia (4,0), Amazonas (3,5), Tocantins (3,8) e Amapá (3,2). Em comparação com todos os Estados da federação, o estado paraense ficou à frente apenas da Bahia (3,0).

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Na Roda de conversa da Correio FM, participaram, a convite, os alunos Gislaine Rodrigues e Airton Almeida, mais os professores Ronildo Guilherme Sales, Adenilson Godinho, Rosemere Nascimento e Glaydes Cordeiro (esta também e mãe de aluno). Eles foram entrevistados pelo comunicador Leverson Oliveira e por Patrick Roberto, do Jornal CORREIO.

INSEGURANÇA

A professora Rosemere Nascimento relatou de forma emocionada que já passou pela grave situação de ter de encarar estudante armado dentro de sala de aula, com ameaça a sua vida. “Já cheguei ao ponto de debater com aluno armado dentro de escola e ele apontar a arma na minha cara e dar um tiro na parede, por situações de descaso, de omissão, descaso de quem comanda para com a qualidade do ensino”.

Para ela, o pouco de qualidade que pode ser visto no ensino médio é mérito 100% dos educadores e da sua dedicação ao ofício. “O ensino, ele é público e o que se percebe hoje é uma educação em que muitas vezes o aluno sai pior do que entra em uma escola”.

O relato sobre a violência é corroborado pela professora Glaydes Cordeiro, também mãe de aluno, e que fala de assaltos dentro das escolas. “Há pouco tempo ocorreram alguns assaltos dentro do prédio da escola, então alguém entrou, pulou o muro que é muito baixo e assaltou. Quando me ligaram dizendo que o meu filho estava lá e que tinham acabado de assaltar, colocando faca no pescoço de alunos, eu fiquei desesperada”, conta.

Glaydes Cordeiro, mãe de aluno, fala do pânico ao ser avisada de assalto a mão armada em escola

FALTA DE ESTRUTURA

Também foi discutida na entrevista a notória falta de estrutura das escolas mantidas pelo Governo do Estado, com casos de queda de telhado, como na Gaspar Viana este ano, e a divisão de algumas escolas em anexos – prédios alugados em outros locais, uma vez que a Seduc não criou nem inaugurou novos colégios.

Segundo o professor Ronildo Guilherme Sales, ali na Escola Estadual de Ensino Médio Gaspar Vianna uma ala inteira em que funcionavam dois laboratórios e uma biblioteca foi a que desabou por conta de rachaduras e infiltrações. “Os outros estados conseguem alavancar os recursos do Ministério da Educação e fazer com que esse recurso chegue a escola, no nosso estado, infelizmente, isso não tem acontecido, é lamentável”.

Observada pela professora Rosemere, aluna Gislaine faz pedido de socorro à Educação

LOCAIS DESUMANOS

A situação se mostra ainda pior quando relatada pelos alunos. Gislaine Rodrigues, aluna da Escola Gabriel Sales Pimenta, destaca como precárias as condições da infraestrutura escolar. Ela cita salas superlotadas e quentes, e que parecem mais espaços de presídios. Na visão dela, isso também tem reflexo no interesse e na aprendizagem. “O aluno não quer sair da sua casa para ir um lugar em que ele vai sofrer mais do que aprender”.

A questionamento de um ouvinte da rádio sobre quais saídas vislumbra para esse problema, Adenilson Godinho disse que uma das alternativas para enfrentar o descaso com a educação no Estado seria o diálogo com os professores e alunos. “A Secretaria de Estado de Educação precisa fazer essa autocrítica. O que a gente percebe é a falta de infraestrutura das escolas, a falta de laboratórios, com internet, computadores a disposição para o aluno fazer pesquisa. Toda essa falta de tecnologia hoje na escola promove um verdadeiro escarcéu da educação. É um convite ao abandono, é um convite a ociosidade”

Sobre que recado mandaria ao governador Simão Jatene, se pudesse estar frente à frente com ele no Dia do Professor, Rosemere Nascimento disse: “Eu vim de Belém para Marabá, sou professora do sistema modular, há 18 anos e eu só espero que ele (Jatene) não enterre esse projeto, que não foi ele que criou. Que ele priorize pagar o piso salarial da educação. Que ele nos pague”. Ela se refere à briga judicial que o governo cobra para não fazer frente ao piso dos educadores no Pará.

Em índices que medem a qualidade da educação no Brasil o Pará costuma estar entre os piores. Evasão escolar, falta de infraestrutura nos colégios, violência, má formação dos professores, reformas que se arrastam por anos. A lista é extensa.

(Da Redação)