Nesta semana, o projeto eco-cultural e socioeducativo Rios de Encontro da comunidade Cabelo Seco foi contemplado pelo Edital de Livro e Leitura na modalidade “Bibliotecas Comunitárias” da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural do Pará, para realizar o projeto em tempos de pandemia: ‘Biblioteca Comunitária Folhas da Vida “Bem Viver”.
O Rios de Encontro também celebra a aprovação do Projeto de Dança’ ‘A Baleia e a Dançarina’, neste mesmo edital, contemplado pela Jovem Dançarina Camylla Alves, bolsista de Rios de Encontro até 2019 e co-fundadora da Cia de Dança AfroMundi, de Marabá. Após a criação dos espetáculos de dança ‘Raízes e Antenas’ (2013), ‘Lágrimas Secas’ (2014) e ‘Nascentes em Chamas’ (2015), Camylla contribuiu com as criações do Coletivo AfroRaiz e coordenou a escola de dança AfroMundi Juvenil e Infantil.
“Uma manhã, bem cedo, acordei com uma mensagem grande chegando de Camylla, contando seu sonho sobre uma baleia cheia de tecnologia na sua barriga. Na hora, conversamos sobre o significado da visita dessa mamífera, reconhecida em muitas culturas como guardiã da memória inteira da Terra, incentivadora de reflexão transformadora. No mesmo dia, imaginamos a narrativa de uma bailarina, presa em casa, sem distanciamento social durante a pandemia, sonhando sobre um futuro bem viver,” conta Dan Baron, co-fundador do Rios de Encontro. Sua quarta colaboração como diretor artístico, ‘A Baleia e a Dançarina’, terá 30 minutos de duração.
Leia mais:“Vou criar um solo de dança amazônica virtual, que dramatizará a busca por um horizonte de esperança de uma jovem dançarina em tempos de pandemia. Acredito que a dança possa inspirar coragem e esperança nas escolas e comunidades aqui em Marabá, no Brasil, e na região Pan-Amazônica”, explica Camylla Alves, participante do projeto desde 2009.
Após 18 meses de formação profissional que culminou com a turnê europeia, os integrantes de AfroRaiz se despediram de Rios de Encontro em dezembro de 2019, para vivenciar sua capacidade de liderança.
Mas chegou a pandemia. Camylla passou 2020 esperando assumir seu primeiro cargo profissional como diretora de dança em Canaã dos Carajás. Durante este ano, ela escreveu sua memória do projeto através da pesquisa pedagógica com a Universidade de Cambridge, sob a co-orientação de Dan, que poderá ser transformada em um livro.
A Biblioteca Comunitária Folhas da Vida foi idealizada em 2012, gestionada por jovens de Cabelo Seco apoiados por Manoela Souza, incentivando alfabetização literária na rua, na praça e nas paredes da comunidade.
“Vestimos de poesia nas camisetas do projeto e com a emergência climática, passamos de casa em casa não somente entregando livros, mas também mudas de plantas medicinais. Surgiu nosso projeto Salus, Deusa da Saúde, resgatando os saberes populares e o cultivo de jardins bem viver nas escolas e nas famílias”, explica Manoela.
Sabendo que toda comunidade no mundo precisará de calma e de esperança após tanto pânico e isolamento durante o colapso climático, a direção do projeto reorganizará a biblioteca durante a pandemia para cultivar cura em casa. “Na semana de lançamento, prevista para março de 2021, vamos ver quantas bibliotecas e jardins bem viver conseguimos plantar no Cabelo Seco”, diz Manoela.