Correio de Carajás

Especialistas indicam como selecionar melhor os livros para crianças e jovens

Texturas, imagens em pop-ups (aquelas janelinhas que se abrem de forma diferenciada nas páginas de um livro), letras com ou sem serifa? As variadas opções de livros para crianças deixam muitas dúvidas a pais e educadores sobre a melhor escolha para os filhos ou leitores iniciantes.

Para a professora Sheila Maués, a melhor escolha literária é aquela que provoca o leitor a fazer uma experimentação no sentido de degustação. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras/ Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará, e bolsista da Capes, Sheila pesquisa literatura há 20 anos e recentemente ministrou uma palestra em parceria com o professor Marcelo Freitas dando dicas sobre como escolher bons livros para crianças, para um público de educadores, gestores, estudantes e escritores.

Há cinco critérios importantes para a escolha de livros literários para crianças e jovens, de acordo com Sheila Maués. “A primeira coisa a fazer é levar em consideração o gosto da criança, suas escolhas. No entanto, isso não é suficiente, pois é importante ampliar seu repertório de leitura e, como leitores mais experientes, devemos mediar esse processo oferecendo livros surpreendentes e interessantes”, indica.

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O segundo ponto é a qualidade verbal do livro. A linguagem deve ser trabalhada de modo mais artístico, utilizando formas diferentes daquelas do cotidiano. Deve haver, por exemplo, uso de figuras de linguagem, isenção de clichês, linguagem poética, deixando espaço para que os leitores possam imaginar e criar novos significados.

O terceiro critério, destaca Sheila, é o da visualidade. “Hoje as imagens são uma narrativa paralela à verbal, pois além de satisfazer esteticamente, também ajudam a preencher vazios do texto verbal. As ilustrações devem interagir com os textos, misturar cores, texturas, técnicas e sugerir múltiplos sentidos, estimulando a imaginação infantil”.

Avaliar o projeto gráfico-editorial é quarto passo para escolher um bom livro. “Deve-se observar de que forma imagens e texto se relacionam, se a diagramação estimula a leitura, se as fontes são adequadas e legíveis, se há excesso de texto desestimulando a leitura”, ensina Sheila. Além disso é importante, segundo ela, que o livro apresente contextualizações de autores e ilustradores.

O último ponto relevante é que o tema seja adequado à faixa etária do leitor, mas deve fugir de superficialidades apresentando confrontos entre formas diferenciadas de ver o mundo, além de não fazer apologias a comportamentos excludentes ou preconceituosos.

EXEMPLO CASEIRO

O professor Marcelo Freitas considera que o maior dos desafios da leitura começa em casa. “Primeiro desafio que pais e a família de forma geral têm a vencer hoje para conduzir a criança ou o jovem à leitura é dar o próprio exemplo. O pai, a mãe, os familiares têm de ser exemplos de leitores. Além disso é importante que os pais propiciem a experiência da leitura, convidem seus parentes para experimentar a leitura”, analisa.

Leitora voraz de livros, a estudante de engenharia elétrica Luiza Maués, filha de Sheila, confirma a tese. “O gosto pela leitura me formou enquanto ser humano, e eu dedico muito à minha mãe, que me ensinou isso. Sempre gostei desse universo, ler livros, apreciar obras de arte, filmes cults, música clássica”.

Um tipo de história para cada idade

(Foto: Wagner Santana/Diário do Pará)

Cada fase da criança possui características específicas para a leitura, conforme avalia a professora Sheila Maués. “Esse pré-leitor tem características específicas. Livros com texturas, ilustrações variadas são importantes, mas devem estar conectados a uma narrativa para provocar uma experiência literária. A história deve ser contada com personagens, uma coisa mais envolvente, porque só dar nomes aos personagens, a criança fica entediada. Mas se o contexto leva a uma narrativa, mesmo que seja uma historinha simples, ela já desperta mais o interesse da pessoa. Tem muitos livros pedagógicos, que são para ensinar as coisas, mas muitas vezes a criança ela só quer se divertir. Ela quer satisfazer o lado estético dela, não quer ficar apenas aprendendo”, considera.

Essa característica do pedagógico, inclusive, pode desencadear outra reação, que não seja a esperada. “Essa coisa de ficar sempre ensinando as coisas, enchendo a cabeça da criança, pode até desestimular. A textura é muito legal, mas tem que envolver e despertar a curiosidade dela. O ser humano desde muito cedo é fascinado por escutar histórias, pode ser história da vida dos outros, da família, mas é história”.

(Fonte:Diário do Pará)