Eles estão por toda parte — de brinquedos a cosméticos, passando por móveis, panelas e até na água potável. De difícil eliminação, alguns dos chamados químicos eternos (Pfas) têm sido associados a diversas doenças, incluindo câncer. Agora, um estudo da Universidade da Califórnia em San Francisco, publicado no Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology, afirma que mulheres com histórico oncológico têm maiores concentrações dessas substâncias no organismo.
Esses compostos contaminam água, alimentos e pessoas por meio de produtos como panelas de teflon, roupas impermeáveis, maquiagens, tapetes e tecidos resistentes a manchas e embalagens de alimentos. “Esses produtos químicos parecem perturbar a função hormonal nas mulheres, e a chamada disrupção endócrina é um mecanismo potencial que aumenta os riscos de câncer”, destaca Amber Cathey, coautora e pesquisadora da Universidade de Michigan.
Mama
Na Universidade Amherst de Massachusetts, nos EUA, a professora de epidemiologia Katherine Reeves vai estudar, pela primeira vez, como o tecido mamário é afetado por Pfas. “Estamos expostos a esses compostos de várias maneiras”, justifica Reeves, que conduzirá a pesquisa pelos próximos dois anos. “Beber água é, certamente, uma forma muito comum de exposição. Embora esses produtos químicos estejam sendo gradualmente eliminados, ainda utilizamos os produtos de consumo que os contêm. Pense no sofá que comprou há 15 anos que foi protegido com retardador de chamas. Você ainda está sendo exposto. E os efeitos na saúde não são totalmente conhecidos.”
Segundo Reeves, estudos experimentais anteriores em animais demonstraram que os Pfas têm efeitos prejudiciais no desenvolvimento e na função da glândula mamária. “Existem alguns estudos em humanos que mostram que as mulheres com maior exposição a esses produtos químicos amamentam durante um período mais curto, possivelmente porque os seus seios param de produzir leite”, conta a especialista em saúde pública.
Na pesquisa, Reeves utilizará dados preexistentes e espécimes biológicas do Banco de Tecidos Susan G. Komen, que inclui cerca de 9 mil amostras mamárias doadas por voluntários saudáveis, juntamente com o seu histórico médico e reprodutivo. A equipe examinará as informações de 286 mulheres na pós-menopausa que também forneceram uma amostra de sangue e deram acesso às suas mamografias e às medições das unidades ductais lobulares terminais (TDL), que produzem o leite após o parto e de onde surgem as maiorias dos tumores do órgão.
Os pesquisadores medirão as concentrações dos cincos Pfas mais comuns nas amostras de soro sanguíneo. Eles também usarão os arquivos de mamografia digital dos voluntários para examinar a densidade das mamas. “Há anos que sabemos que uma maior densidade mamográfica está relacionada com um risco aumentado de câncer da mama”, diz Reeves. “Vamos fazer a pergunta: a concentração de Pfas no sangue está relacionada com a densidade que vemos na mama?”.
Mais de 12 mil substâncias
Os Pfas são um grupo de mais de 12 mil substâncias químicas e compostos artificiais utilizados em todos os tipos de produtos desde a década de 1940. Os fabricantes utilizam versões desses químicos em produtos diversos, incluindo espuma de combate a incêndios, materiais de construção, utensílios antiaderentes, cosméticos, vestuário e recipientes para alimentos.Essas substâncias são constituídas por uma cadeia de átomos de carbono e flúor ligados entre si. Como não se degradam facilmente no ambiente e no corpo humano, ganharam a alcunha de “químicos para sempre”.
Os tipos mais estudados de Pfas são o ácido perfluoro-octanoico (PFOA) e o ácido perfluoro-octanossulfônico (Pfos). Ambos foram, na sua maioria, eliminados em meados da década de 2000 pelos fabricantes. O Brasil não tem regulamentação a respeito dos químicos eternos, embora existam limites de concentração de alguns deles.
(Fonte: Correio Braziliense)