Correio de Carajás

Especialista ensina como identificar e lidar com pessoas narcisistas

Correio de Carajás entrevistou a psicóloga Daniela Dias, que ensina a identificar e lidar com quem tem esse perfil

O narcisista nato, aquele que nasce com esse traço de personalidade, pode até parecer caricatural devido à sua percepção de superioridade. No entanto, isso não necessariamente implica que a pessoa tenha a intenção de destruir ou invalidar os outros. Por outro lado, o narcisista por compensação, que desenvolveu essas características como resultado de experiências difíceis e humilhantes, pode ser mais problemático. Essas pessoas, ao se sentirem invalidadas no passado, adotam comportamentos de superioridade para compensar suas inseguranças. Elas frequentemente buscam humilhar e desmerecer os outros para se sentirem superiores.

O narcisista é, de fato, uma pessoa com emoções complexas, capaz de amar e odiar. Seu amor, no entanto, tende a ser invalidatório e centrado em suas próprias necessidades. Eles se atraem por pessoas generosas e admiráveis, e são conscientes de que o comportamento deles causa danos. Relacionar-se com um narcisista é muitas vezes tóxico, pois, se estão irritados, provocam o mesmo sentimento no outro, detalha a especialista.

No início de um relacionamento amoroso, o narcisista costuma ser encantador e sedutor. No entanto, conforme o relacionamento avança, pode começar a sentir inveja e buscar exercer controle e poder sobre o parceiro.  A psicóloga Daniela destaca que caso o narcisista não seja o principal provedor financeiro, pode tentar se aproveitar economicamente ou controlar o dinheiro. Embora possam parecer ótimos à distância, é ao conviver de perto que se revelam suas características problemáticas. Quem se relaciona com um narcisista frequentemente sente que está “pisando em ovos”, pois o narcisista faz tudo o que pode para manter o parceiro psicologicamente instável, e, se não conseguir atingi-lo diretamente, pode difamá-lo para amigos e familiares.

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Quando confrontados, os narcisistas costumam se fazer de vítimas. Para se proteger de pessoas com essas características, a principal estratégia é manter distância total sempre que possível. Nos casos em que o distanciamento não é viável, como em situações envolvendo chefe, pai ou mãe, é fundamental evitar reações emocionais. O melhor é ser desinteressado, pois qualquer sinal de sofrimento ou angústia alimenta o comportamento narcisista. A indiferença é a forma mais eficaz de proteção, ensina a psicóloga.

Daniela defende que o que vivenciamos em nossa história não precisa definir o que aceitaremos. Muitas vezes, comportamentos abusivos podem ser naturalizados, perpetuando ciclos de maus-tratos. A crença de que “se meu pai fez isso, não era tão grave, estava me educando” pode mascarar a gravidade do abuso psicológico, físico ou sexual. Abuso é abuso, independentemente da intenção. A especialista observa que vítimas frequentemente naturalizam tais comportamentos na tentativa de continuar amando quem as agrediu.

É raro que narcisistas procurem ajuda profissional. Em vinte anos de carreira, a especialista encontrou poucos casos de narcisistas em terapia. É mais comum que pacientes que já estão em tratamento por outros motivos reconheçam comportamentos narcisistas em si mesmos. No entanto, mesmo quando esse reconhecimento ocorre, se a pessoa não estiver disposta a buscar tratamento, mudanças significativas são improváveis.

(Theíza Cristhine)