Correio de Carajás

Escritores de Marabá comemoram seleção em edital da Lei Aldir Blanc

Airton Souza, Evilangela Lima, Adão Almeida, Cezamar de Oliveira e Adalberto Marcos da Silva, o Bertin Di Carmelita, comemoram nesta semana a inclusão dos nomes na lista de selecionados pelo edital de Livro e Leitura previsto no inciso III da Lei Aldir Blanc, lançado pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult). Em breve deverá ser divulgada a lista final dos contemplados, passado o prazo de 48 horas para recurso dos não selecionados.

A premiação é de R$ 20 mil – descontados os impostos – para que cada escritor publique e lance as obras detalhadas nos projetos inscritos. Para Airton Souza, o momento é vitorioso para os marabaenses. “Tenho a impressão que o número de selecionados foi muito expressivo, acho que a nossa região ficou bem representada. É a possibilidade de mostrar um pouco das coisas que vêm sendo feitas há bastante tempo em Marabá, sobre a literatura”.

O escritor destaca, ainda, que os contemplados produzem obras em diferentes estilos, o que também é positivo. “A gente vai ter livros de prosa, de contos, de poesia, infantil…”, diz, acrescentando que este último, inclusive, será o meio escolhido para falar sobre a lenda de Matinta Pereira.

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Para Adão Almeida, primeira vez contemplado por edital, esta será a forma de dar vida aos escritos acumulados. “Muitas vezes a gente tem alguma coisa engavetada e tá sem condições (de publicar), então esse edital veio pra fomentar isso e nos ajudar a fazer essas publicações”.

O trabalho dele contará a história de como o Saci Amazônico perdeu a perna. “Acho que ninguém contou essa história ainda e eu fico me sinto bastante feliz por poder fazer isso. Nesse momento que nós estamos vivendo tempos difíceis, em decorrência dessa pandemia e muitas vezes de renda defasada, o edital chegou numa boa hora”, defende.

Para Evilangela, o sabor de ter sido contemplada só não está mais realçado por ter sido a única mulher entre os selecionados. Conforme ela, o número de escritoras produzindo em Marabá é grande, mas as duplas e até triplas jornadas femininas as impedem de se inscreverem ou mesmo de terem conhecimento da existência dos editais.

“Eu fico muito feliz de ver Marabá com tantos contemplados, mas um pouco triste, frustrada, por ver que eu sou a única mulher. Elas não conseguiram alcançar isso, mas é porque elas não conseguiram se inscrever. Devido às próprias demandas, é difícil conciliar esse mundo todo e escrever ainda é considerado um hobby”, destaca.

Ela acrescenta ser necessário incentivar tanto a escrita como também a leitura de mulheres. “Porque quando a mulher fala, ela não vai falar coisinhas, ela vai falar sobre situações que ela vive e que precisam, às vezes, até serem olhadas com cuidado na sociedade, pra ter uma mudança social”, diz, informando que irá publicar um livro de contos defendendo justamente que as mulheres não dependem dos homens.

FOMENTO

Airton Souza, que já publicou diversos livros, afirma que o valor pago pela Lei Aldir Blanc pode ser considerado adequado para um lançamento de qualidade. “A falas (dos escritores) são muito coerentes em relação a não haver um projeto de incentivo. Esse é o grande projeto de incentivo dos últimos anos e pra quem não tinha um real, pra quem não tinha um centavo, esse valor é muito expressivo”, afirma.

Evilangela, por sua vez, destaca que o recurso não satisfaz apenas o desejo pessoal do escritor em ter uma obra publicada, mas também contribui oferecendo retorno cultural à sociedade. “Teremos livros para vender e também livros serão doados, então esse comércio se movimenta, assim como o mercado editorial. É importante a gente observar que essa verba liberada pela Lei Aldir Blanc é fundamental para a economia do país nesse momento”.

CONTRAPARTIDA

Não está especificado em edital que os escritores precisem ofertar contrapartida pela publicação dos livros. Assim mesmo, os três autores entrevistados pelo Correio de Carajás pretendem realizar oficinas com parte da verba recebida.

Adão Almeida, por exemplo, quer ministrá-las nos presídios, escolas e no lar dos idosos. Já Evilangela quer promover duas oficinas voltada pra meninas de treze a dezoito anos, em situação de risco. “Queremos fazer essa leitura de textos e essa reflexão sobre a questão da mulher, fortalecendo o empoderamento”, diz.

Airton, que também vai promover as oficinas e doações, ressalta a importância de não limitar a produção apenas ao livro em si. “Como contrapartida a gente vai devolvendo isso porque é um dinheiro público e queremos fazer esse livro circular nas mãos das pessoas”, finaliza.

MAIS PRÊMIOS

Enquanto a Secult Pará já lista os selecionados, a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Marabá lança editais para distribuição de recursos da mesma lei. Um deles, publicado nesta semana, engloba a literatura e irá premiar 26 obras autorais com R$ 6 mil cada. Já o edital “Cultura em Movimento”, que possui prêmios para diferentes expressões artísticas, irá contemplar mais seis projetos em arte literária. (Luciana Marschall)