Correio de Carajás

Escolas particulares de Marabá relatam desafios na volta às aulas na pandemia

Em março deste ano, como parte dos desafios impostos pela pandemia, instituições da rede particular precisaram se adequar a uma nova metodologia de ensino que possibilitasse a manutenção do calendário letivo, com o oferecimento de aulas remotas. Em Marabá, as aulas das redes pública e privada foram suspensas no dia 20 do mesmo mês por meio do decreto municipal de número 22.

Cinco meses depois, as aulas presenciais já foram retomadas em algumas escolas, mas muitas famílias, receosas com o risco de contágio, decidiram manter os alunos na modalidade alternativa, em casa. O bem-estar físico e mental das crianças tem sido usado também como argumento por gestores para defender a volta às aulas.

Raimundo Nonato Júnior, diretor do Grupo Futuro Educacional, explica a retomada da rede particular em linhas gerais, frisando que acontece de maneira facultativa e escalonada. “As escolas particulares de Marabá voltaram a funcionar a partir do dia 3 de agosto, de maneira facultativa. Algumas voltaram no dia 3, como o Grupo Futuro, a Disneylândia, a Escola Globo e a Prince Baby, por exemplo. Outras retornaram no dia 10, algumas estão retornando nesta semana. As escolas estão obedecendo a um protocolo de segurança estabelecido pelo decreto municipal, que segue em linha com os do Brasil inteiro”, destaca ele.

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Quanto ao percentual de alunos que retornaram, Júnior pondera que o índice oscila de escola para escola. “Nas escolas das crianças menores, o percentual é maior. No caso do Futuro Kids, voltaram em torno de 70%. Já nos maiores, do Ensino Fundamental II e Médio, o percentual está girando em torno de 50%. Para as famílias que não se sentiram seguras de mandarem os filhos de volta para a escola, as aulas remotas continuam. Está havendo aula presencial, transmitida para as famílias em casa”, pontua o diretor, que também é presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá (ACIM).

A inadimplência, segundo Júnior, subiu de modo considerável no Futuro, assim como em outras escolas. Ele também adianta a data prevista para o término do ano letivo no colégio. “Algumas escolas cederam descontos por causa da lei estadual, outras até mesmo de forma voluntária, porque essa lei não atingiu a maioria das escolas que são micro e pequenas empresas. A previsão do ano letivo terminar é na semana que antecede o Natal, por volta do dia 20 de dezembro. As escolas estão seguindo todos os protocolos previstos para garantir aulas seguras”, finaliza.

A fim de saber se as escolas de fato se prepararam para o retorno e se estão aplicando os dispositivos de prevenção, o CORREIO visitou espaços e conversou com diretores e responsáveis.

Uma das escolas que percorremos é o Centro Educacional Tia Cecília, situado na Folha 28, Núcleo Nova Marabá, que existe há mais de 25 anos. Ceiça Holanda, diretora da instituição, argumenta que as aulas remotas, uma novidade para professores e alunos, têm dado certo. Com retorno no último dia 3, o colégio de nível médio voltou a ministrar aulas presenciais para 40% dos alunos, enquanto os demais continuam com as aulas on-line, já que pais ou avós integram o grupo de risco ou ainda não se sentem confortáveis para enviar os filhos.

Para Ceiça, as aulas remotas dependem de boa relação entre pais, alunos e diretores, de modo a garantir a eficácia do mecanismo. “A escola tem conseguido trabalhar bem, mesmo nas dificuldades da pandemia. Nesse retorno, o tratamento tem sido mais cauteloso quanto à higienização dos alunos e da própria instituição, contendo pia do lado de fora do colégio, álcool na entrada e em todas as salas, sabonete líquido nos banheiros, tapetes desinfetantes, verificação de temperatura dos alunos, exigência de máscaras, proibição de pessoas não autorizadas dentro do estabelecimento e a pulverização, com cloro, antes e depois de cada período de aula”, explica ela.

Em contraponto, Rogimar Costa Mota, diretora do Centro de Alfabetização, na Marabá Pioneira, revela que a educação infantil sofreu grande evasão após a suspensão das aulas presenciais e a impossibilidade de oferecer o ensino remoto. Outro ponto é que, por não ter como dispor os 200 dias letivos, o centro deverá efetivar 800 horas durante os próximos quatro meses. “Isso acaba se tornando uma dificuldade em meio aos feriados”, arrazoa.

Na avaliação de Rogimar, é essencial que os alunos estejam em sala de aula. Ela se declara defensora da retomada total das escolas. Neste sentido, também revela aumento na quantidade de matriculados a partir do dia 3. “É nas escolas que os alunos aprendem sobre a pandemia e que atitudes adotar para enfrentá-la. Houve um aumento de alunos após o retorno às aulas, principalmente crianças de escolas públicas, pois os pais querem ver o aprendizado dos filhos”, sustenta.

A diretora enfatiza que deu desconto aos alunos novatos e não cobrou pelo período em que o colégio ficou sem aulas. “Nós temos aqui do pré até o 5º ano, seguindo todas as normas propostas pelo MEC, tais como o distanciamento entre os alunos, uso de máscaras, medição de temperatura de cada aluno na entrada e saída. A escola também formulou um termo de compromisso, que é assinado pelos pais, em que garante que o filho está bem de saúde e não faz parte do grupo de risco e há, uma vez por semana, a visitação de uma enfermeira para verificar todo o corpo escolar”, garante ela.

O Colégio Adventista de Marabá, no Novo Horizonte, também retornou às aulas presenciais. De acordo com o diretor Mayko Cordeiro, as aulas estão sendo híbridas. Em primeiro momento, apenas a educação infantil até o 5º ano retornaram, mas a previsão é de que, nesta segunda-feira, dia 24, o ensino fundamental II e o ensino médio também voltem. “O colégio migrou para o ensino virtual, mas não houve alteração no ano letivo. Os que retornaram às aulas hibridas foram divididos em dois grupos: o A e o B, sendo 50% de atividades para cada grupo”, pontua.

Quanto aos alunos que não retornaram ao ensino presencial por decisão da família, Mayko afirma que o colégio continua garantindo as aulas remotas, inclusive com a compra de equipamentos para docentes, a fim de facilitar o acesso. Ele também relata aumento de aproximadamente 15% na inadimplência (falta de pagamentos) no período de quarentena, além da evasão. “Os pais preferiram que os filhos perdessem o ano devido à falta financeira para mantê-los na instituição ou por quererem que eles tivessem aulas presenciais para um bom aproveitamento”, analisa o diretor. (Ulisses Pompeu, com colaboração de Vinícius Soares e Karoline Bezerra)

Segurança e cuidados redobrados são a palavra de ordem nas escolas particulares

SEGURANÇA E REPOSIÇÃO DAS AULAS

Realidade semelhante é vista no Colégio A+ Ensino. Ao veículo de comunicação, Marcelo Almeida Araújo, diretor, narra que a unidade dispõe de todos os instrumentos necessários para o recebimento dos alunos. “Temos álcool em todas as salas, na entrada há tapete desinfetante, termômetro, e os alunos trocam de máscara duas vezes durante o período de aula. Os professores usam todas as proteções, e há um critério específico para ir ao banheiro e o intervalo está sendo dentro da sala de aula, além do distanciamento entre cada aluno. A ideia é repor tudo quando puder, incluindo aulas aos sábados”, afiança ele.

A previsão da escola é de que o calendário letivo de 2020 se encerre em janeiro de 2021, mesmo não cobrindo o número de aulas perdidas. Marcelo garante que não haverá prejuízo. “O retorno teve início apenas com 50% de quatro turmas, sendo primeira, segunda e terceira séries do ensino médio e depois nono ano, porém o ensino fundamental como um todo ainda não tem previsão para retorno presencial. Essas quatro turmas foram divididas em grupos para que a cada dia um grupo de alunos pudesse assistir às aulas”, declara Marcelo.

Os alunos cujos pais ou familiares pertencem ao grupo de risco seguem com as aulas remotas, assim como aqueles não autorizados por decisão da casa. Não diferente das demais escolas visitadas, o A+ Ensino teve ganho de alunos com o retorno e a inadimplência também foi problema durante a pandemia, segundo seu diretor.

NOVO NORMAL É DESAFIO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Se há um segmento na educação que está enfrentando maiores dilemas com evasão escolar durante a pandemia, este é a educação infantil, que recebe alunos de 3 a 5 anos de idade. Esta modalidade de ensino não é obrigatória, mas ajuda na formação das crianças antes de chegarem ao 1º ano do Fundamental (antiga Alfabetização).

Além da evasão, as escolas infantis enfrentam outro problema também grave, que é a inadimplência, que beira os 50%, segundo seis proprietários de estabelecimentos deste segmento consultados pelo Portal Correio em Marabá.

Diante dos desafios financeiros, como, por exemplo, o aumento da inadimplência, 60% delas demitiram funcionários. As escolas também recorreram à suspensão temporária do contrato de trabalho e redução da carga horária.

Várias escolas pequenas, de educação infantil em Marabá, fecharam turmas por falta de alunos

O grande dilema para a educação infantil, segundo a pedagoga Marta Silva Guedes, é que durante os meses que as escolas ficaram paradas, prover aulas virtuais para crianças de 3 a 5 anos não tem o mesmo efeito que para os maiores. Muitos pais perceberam isso e, por questão de economia, resolveram cancelar a matrícula dos filhos. “Vi que a maioria das aulas que enviavam para o celular da minha esposa era com músicas que a gente encontra no Youtube. Assim, a gente não precisa de gastar muito dinheiro, porque podemos fazer isso por conta própria”, diz Antônio Freitas, pai de uma menina de 4 anos que estudava em uma escola infantil no núcleo Cidade Nova.

Por outro lado, Cláudia Gomes, dona de uma escola particular deste segmento na Nova Marabá, atesta que a inadimplência e evasão foram enormes, mas à medida que os pais precisam voltar ao trabalho, não têm com quem deixar os filhos. “Estamos voltando aos poucos, muitos alunos ainda não retornaram, mas estamos confiantes que este cenário vai mudar nas próximas semanas”, prevê ela.

A educadora diz que estão trabalhando com número reduzido de alunos por sala, mantendo todas as orientações de distanciamento e higienização. “É um momento para educarmos as crianças também sobre hábitos saudáveis”, descreve.

As crianças da pré-escola não podem mais fazer as aulas sentadas lado a lado no carpete, como de costume, mas sim enfileiradas em carteiras — um modelo de sala de aula mais antiquado e menos interativo. (Ulisses Pompeu)