Correio de Carajás

Epstein disse em e-mail que Trump passou horas com vítima de abuso

Novos documentos levantam novas dúvidas sobre a relação entre os dois homens, segundo democratas do Congresso dos EUA, que publicaram e-mails nesta quarta-feira (12). Presidente dos EUA nega envolvimento com esquema do bilionário, que morreu na prisão em 2019.

Donald Trump processa jornal por divulgar suposta carta a Jeffrey Epstein — Foto: Reprodução/TV Globo

Jeffrey Epstein alegou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “sabia” de suas condutas e que certa vez Trump “passou horas” em sua casa com uma vítima de abuso, segundo e-mails publicados pelo Congresso dos EUA nesta quarta-feira (12).

Segundo os democratas do Congresso, os e-mails levantam novas dúvidas sobre a relação entre Trump e Epstein. Em uma das mensagens vistas pelos congressistas, o bilionário afirma categoricamente que Trump “sabia sobre as meninas” —muitas das quais foram posteriormente identificadas pelos investigadores como menores de idade.

A Casa Branca acusou os democratas do Congresso de “vazamento seletivo” dos e-mails para manchar a reputação de Trump.

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Jeffrey Epstein, um empresário dos EUA conhecido por sua vasta rede de contatos com políticos, celebridades e empresários de alto nível, foi acusado de ter abusado de mais de 250 meninas menores de idade e de operar uma rede de exploração sexual. Ele foi preso em julho de 2019 e, segundo as autoridades dos EUA, tirou a própria vida cerca de um mês depois dentro de sua cela. Desde então, o caso e as condições de sua morte ganharam notoriedade pública.

Em um e-mail de abril de 2011, Epstein disse a Ghislaine Maxwell, sua assistente e confidente que mais tarde seria condenada por acusações relacionadas à facilitação de seus crimes: “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump.” Ele acrescentou que uma vítima não identificada “passou horas na minha casa com ele … e nunca foi mencionada uma única vez.”

 

Em outro e-mail divulgado nesta quarta, Epstein reflete sobre como deveria responder a perguntas da imprensa sobre sua relação com Trump, que à época começava a ganhar destaque como figura política nacional.

Outros documentos revelados pela Câmara em julho incluem uma suposta carta enviada Trump a Epstein. O registro traz uma mensagem datilografada dentro da silhueta de uma mulher nua desenhada à mão.

A assinatura “Donald” aparece abaixo da cintura da figura. O texto termina com a frase: “Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.”

O conteúdo da carta havia sido revelado pela primeira vez pelo jornal The Wall Street Journal, que reproduziu apenas o texto, sem mostrar o documento original. Na ocasião, Trump negou a autoria, entrou com um processo contra o jornal e pediu uma indenização de US$ 10 bilhões.

Leia, a seguir, a tradução da suposta carta:

  • Narrador: Deve haver mais na vida do que ter tudo.
  • Donald: Sim, existe, mas não vou te dizer o que é.
  • Jeffrey: Nem eu, já que também sei o que é.
  • Donald: Temos certas coisas em comum, Jeffrey.
  • Jeffrey: É verdade, pensando bem.
  • Donald: Enigmas nunca envelhecem, você já notou?
  • Jeffrey: Na verdade, isso ficou claro para mim da última vez que te vi.
  • Donald: Um amigo é uma coisa maravilhosa. Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.

Em julho, Trump negou ter escrito a carta ou desenhado uma mulher nua: “Nunca pintei um quadro na minha vida. Não desenho mulheres”, disse. “Não é a minha linguagem. Não são as minhas palavras.”

Partido Democrata divulga suposta carta de Trump a Epstein com desenho de mulher nua — Foto: Reprodução
Partido Democrata divulga suposta carta de Trump a Epstein com desenho de mulher nua — Foto: Reprodução

Logo após a divulgação do arquivo, o vice-chefe de Gabinete da Casa Branca, Taylor Budowich, questionou a autenticidade da carta e disse que a assinatura que aparece na correspondência é diferente da usada por Trump.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, classificou a carta como falsa e afirmou que “está muito claro que o presidente Trump não desenhou essa imagem e nem a assinou”.

“A equipe jurídica do presidente continuará a levar adiante o processo [contra o Wall Street Journal] de forma agressiva”, publicou.

 

Apesar das dúvidas levantadas pela Casa Branca, veículos da imprensa americana resgataram documentos da década de 1990 nos quais Trump assina de forma semelhante à que consta na suposta carta.

Epstein x Trump

Jeffrey Epstein tinha conexões com milionários, artistas e políticos influentes. Entre 2002 e 2005, ele foi acusado de aliciar dezenas de meninas menores de idade para encontros sexuais em suas mansões.

Em 2008, Epstein chegou a firmar um acordo com a Justiça para se declarar culpado. Em 2019, o caso voltou à tona, quando autoridades federais consideraram o acordo inválido e determinaram a prisão do bilionário por tráfico sexual.

O bilionário morreu na cadeia poucos dias depois de ser preso. Segundo as autoridades, ele tirou a própria vida.

Durante a campanha eleitoral de 2024, o então candidato Trump prometeu divulgar uma lista com os nomes de pessoas supostamente envolvidas no esquema de exploração sexual liderado por Epstein. Em fevereiro deste ano, alguns documentos chegaram a ser publicados pelo governo.

Em um desses arquivos, o nome de Trump aparece ao lado de outras pessoas em registros de voos ligados ao bilionário. É de conhecimento público que os dois foram próximos nos anos 1990. Trump, no entanto, não é investigado nesse caso.

Ainda em fevereiro, a procuradora-geral Pam Bondi chegou a insinuar que havia uma lista de clientes de Epstein sobre a mesa dela para ser revisada. Esse documento, no entanto, nunca foi divulgado.

Mais recentemente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos informou que não existe nenhuma lista de clientes nos documentos relacionados à investigação. O próprio presidente Trump passou a afirmar que a tal documento é uma farsa.

A mudança de versão irritou a base de apoiadores do republicano. Muitos desses eleitores compartilham teorias da conspiração sobre o caso Epstein e exigem a divulgação completa das informações sobre a rede de exploração sexual.

(Fonte:G1)