Rodeada pelas prateleiras abarrotadas de livros – novos e velhos – da biblioteca da Escola Dr. Geraldo Veloso, Jamily da Silva Araújo, de 15 anos, surpreende por suas escolhas literárias. Nomes como Gabriel Garcia Márquez e Lígia Fagundes Telles saltam aos olhos da menina e levam suas mãos a obras que raramente despertam o interesse de leitores da sua idade: Cem anos de Solidão e Ciranda de Pedra.
O sorriso fácil, plantado na face em formato de coração, e as tranças, que remetem à infância, camuflam a alma madura da garota. Basta uma conversa de cinco minutos para que seja possível perceber que seus interesses e a maneira que se comunica não é típica de sua idade.
“Eu gosto muito de ler romances e coisas que podem me ajudar futuramente, temas ligados à educação, como falar com as pessoas e ter empatia”, diz, com ares de quem conhece o mundo.
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Nascida em Marabá e criada na Vila União, zona rural do município, a jovem leitora cursa o 1º ano do Ensino Médio e daqui poucos dias vai completar ‘16 primaveras’. Foi apenas no ano passado que ela se rendeu por completo ao universo dos livros. A porta de entrada foram os romances, mas conforme saboreia mais e mais palavras, o apetite por diferentes gêneros vai aumentando.
“Eu comecei lendo livros aqui da biblioteca mesmo, também lia no aplicativo do celular”, explica com naturalidade. Devoradora de histórias, ela concilia a leitura com as demais atividades diárias, em uma rotina que impressiona.
Atualmente morando com a tia, Jamily desperta no silêncio das primeiras horas do dia, às 5 horas. Pouco depois, às 7h30, é o momento de ser atenciosa com a saúde e o corpo e, para isso, ela sai do aconchego do lar e vai para a academia. Quando retorna da malhação, a menina adia, por hora, o encontro com seus personagens, pois dedica-se às atividades domésticas e ajuda a cuidar da prima mais nova.
A desbravadora de livros vai para a escola, chegando antes do início das aulas, o momento ideal para mergulhar nas palavras impressas, ou digitais. Uma, duas, três, sete páginas, é a quantidade que ela consegue ler antes de sentar na carteira e trocar a ‘skin’ leitora pela de estudante. Mas Jamily já é expert em fazer essas duas versões coexistirem, uma vez que ela aproveita os intervalos entre uma lição e outra para retomar a leitura.
“Toda vez que eu tenho um tempinho, que já terminei a atividade, pego o livro e leio um pouquinho. Ou, então, se estou em algum lugar que dá para ler legal, eu faço isso”, diz, em tom de quem explica uma obviedade.
Já à noite, os livros são carinhosamente deixados de lado. É nesse momento que a adolescente libera sua alma vaidosa e se põe a arrumar as unhas ou fazer um penteado. Quem também recebe sua atenção é o celular e seu novo hobby, pintar ‘Bobbie Goods’, os livros de colorir que são a febre do momento.
Mas, apesar de consumir histórias de romances, a palavra ‘namoro’ ainda não tem espaço em sua vida. Ela afirma que ainda não há interesse mesmo no assunto. O que realmente faz seu coração acelerar é o sonho de cursar a faculdade.
“Se tudo der certo, eu vou fazer Direito”, finaliza com esperança.
(Luciana Araújo e Ulisses Pompeu)