Correio de Carajás

Endocrinologista explica o diabetes e o processo educacional dos pacientes

A doença é dividida em vários tipos e cada um possui particularidades e diferentes tratamentos

No próximo domingo (14) é comemorado o Dia Mundial do Combate ao Diabetes. Com o objetivo de alertar sobre a importância da prevenção e do controle da doença, e oferecer alternativas para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes.

O Correio de Carajás entrevistou o médico endocrinologista Wild Cavalcante para falar sobre o assunto.

Formado pela Universidade do Estado do Pará, Wild conta que foi na residência, realizada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que começou a estudar e se aprofundar cada vez mais no tema. “Tive uma professora que era, na época, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e aprendi muito. Ela dizia que essa doença iria lotar muitos hospitais no futuro e que era avassaladora. Acabou deixando uma sementinha, que cresceu”, relata.

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Tipos de Diabetes

O diabetes pode se apresentar de diversas formas e possui diferentes tipos. Segundo Wild, o diabetes tipo 2 é o mais comum entre a população. Ele aparece com o avançar da idade e acarreta cerca de 95% das pessoas com diabetes. “Não se pode e nem deve dizer e taxar o paciente de ‘diabético’, porque ele pode deixar de ter diabetes. Quando falamos ‘diabético’ estamos priorizando a doença e não olhando o ser humano”, ratifica o endocrinologista.

O diabetes tipo 1, diferente do anterior, possui influência genética. Porém, o médico afirma que existem diversos fatores que levam à uma doença autoimune. “A causa ainda é obscura. Existem anticorpos que combatem a célula que produz insulina, e nesse caso o pâncreas não funciona”.Os diabetes tipo 1 e tipo 2 são os mais comuns. Mas existem outros, como o gestacional, iada e mody.

O que todos eles têm em comum? O açúcar elevado no sangue.

“Geralmente, o tipo 1 acomete crianças e jovens. Já o tipo 2 é muito comum em adultos. Porém, a gente tem começado a ver muitos jovens desenvolvendo a doença. Dez anos atrás eu não encontrava no consultório. Hoje as crianças estão ficando cada vez mais sedentárias e acima do peso”, fala o médico.

Ele ressalta que o diabetes tipo 2 é decorrente de um estilo de vida. Wild explica que apenas 20% está ligado ao fator da influência genética. “Se o pai ou a mãe tem diabetes, você tem uma predisposição de 20% para desenvolver o diabetes tipo 2. Os 80% restantes é o que a pessoa tem para modificar, que é seu estilo de vida. Herda-se o fator genético, porém, se permanece comendo errado, com sedentarismo, estressado, em um ambiente que chamamos de diabetogênico, aqueles 20% do fator genético vão ser ativados. Então o diabetes tipo 2 tem tudo a ver com o estilo de vida”.

Tratamento

Os pacientes de diabetes tipo 1 e tipo 2 passam por tratamentos completamente diferentes. O tipo 1 é quando o pâncreas perde totalmente a capacidade de produzir insulina. Então, geralmente, quando o paciente é diagnosticado ele já precisa ser insulinizado (receber a insulina) o mais rápido possível.

“Como a maioria dos casos são em crianças e jovens, o mais importante no tratamento é o processo educacional. Não é só medicar o paciente. No caso do tipo 1 a gente precisa ensinar a família inteira”, explica.

É nesse momento que o médico conversa, principalmente com o pai e a mãe, e pede para que seja feito um monitoramento da criança. O especialista ressalta para os pais que o tratamento depende de um conjunto de fatores e, caso o pai ou a mãe encare a doença com uma postura negativa, o filho vai encarar como algo muito ruim. Mas, se o perfil dos pais for positivo e impulsionar e ensinar a criança, ele vai se adaptar à nova rotina.

“Convido para que eles sejam um pai e uma mãe pâncreas. Eles precisam tirar um tempo para oportunizar ao filho uma qualidade de vida, fazendo o papel do pâncreas”, fala, ensinando a terminologia utilizada para pais e mãe de crianças que possuem o diabetes tipo 1.

O tratamento do diabetes tipo 2 é feito com medicamentos antidiabéticos que podem atuar tanto aumentando a produção de insulina no pâncreas e melhorando a sensibilidade do organismo à insulina, como diminuindo a absorção de glicose na alimentação. “Mas o tratamento principal é a mudança de hábitos. Mudar o estilo de vida. Cuidar da alimentação, praticar atividade física, e cuidar da saúde mental”, pontua Wild.

Diabetes tem cura?

O diabetes tipo 2 tem uma reversão, mas não cura. O endocrinologista Wild Cavalcante afirma que é possível controlar o diabetes a níveis normais, sem precisar fazer uso de medicamento. “A gente consegue reverter o quadro. Mas cura é quando você leva um paciente para um estado que, se ele fizer qualquer coisa, a doença não volta. E o que conseguimos é adormecer a doença, e se o paciente volta a ter hábitos ruins, ganho de peso… a doença está só ali esperando e volta com tudo”.

Já no caso do diabetes tipo 1 não existe nem a remissão, apenas o controle. Por isso Wild ressalta que com esses pacientes o processo educacional é fundamental para uma boa qualidade de vida.

“As pessoas recebem o diagnóstico como um luto. Digo que é um puxão de orelha pra dizer ‘cuida de você, antes você não era obrigado a ser saudável e a partir de hoje você tem essa obrigação”, finaliza.

(Ana Mangas)