Correio de Carajás

Em Marabá, pecuaristas da região discutem produção sustentável

O evento reuniu cerca de 200 pessoas, entre produtores, autoridades e sociedade civil Foto: Evangelista Rocha

Marabá sediou nesta quinta-feira (16), no Centro de Convenções Carajás, o primeiro evento do Diálogos Boi na Linha, uma iniciativa do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), que busca fortalecer os compromissos na cadeia da pecuária, promovendo a implementação de práticas sustentáveis. O programa, realizado em parceria com o Ministério Público Federal, visa fomentar a conduta ética na produção de carne, promovendo o diálogo, organização, unificação de protocolos e monitoramento de fazendas na Amazônia.

A reportagem deste CORREIO esteve na abertura da programação, e conversou com Lisandro Nakaki, gerente de projetos do Imaflora e coordenador do “Boi na Linha”: “O evento é uma oportunidade para reunir diversos atores da cadeia pecuária, incluindo frigoríficos, setor produtivo, Ministério Público Federal, bancos e varejo”, salienta.

Kakaki afirma que o foco das discussões abrange desafios enfrentados na cadeia, com ênfase no monitoramento ambiental e social das fazendas. O evento possui uma organização diferente e foi estruturado em quatro mesas de discussões, com debates e diálogos entre os participantes. As discussões abordam temas como o monitoramento de fazendas, reinclusão de propriedades com problemas, práticas sustentáveis na pecuária, e o desafio da rastreabilidade para garantir uma cadeia responsável e sustentável.

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Coordenador do diálogo, Lisandro Nakaki, afirma que a ênfase é o monitoramento ambiental das fazendas. Foto: Evangelista Rocha

“Recebemos cerca de de 200 pessoas, com representantes da região de Marabá e áreas circunvizinhas, pensando na importância estratégica da região para a pecuária, destacando a presença significativa de indústrias frigoríficas e produtores na localidade”, destacou Lisandro.

O programa busca influenciar lideranças do setor e promover a transição para uma pecuária responsável na Amazônia. A escolha de Marabá como sede do evento visa a descentralizar o debate, dando voz à região que desempenha um papel crucial na agropecuária.
Lisandro Nakaki reforçou que a pecuária na Amazônia precisa ser discutida e qualificada, e eventos como este são passos importantes nessa direção.

“As mesas de conversas terão participação de aproximadamente 20 painelistas, representando diferentes segmentos da cadeia pecuária. As mesas de discussão foram moderadas pela equipe do Boi na Linha, buscando uma diversidade de opiniões e contribuições para impulsionar a sustentabilidade na pecuária amazônica”, diz.

IMAFLORA

Marina Piatto, diretora-executiva do Imaflora, expressou seu prazer em discutir o desenvolvimento sustentável da pecuária no Pará: “Um tópico importante, não apenas para a economia e geração de empregos, mas também para a proteção alimentar, inclusão social, conservação ambiental e a manutenção climática”, iniciou.

Ela enfatizou a relevância do diálogo promovido pelo programa e fez uma recapitulação diante da iniciativa da entidade que coordena, que se trata de uma organização não governamental da sociedade civil atuante há quase 30 anos em prol do desenvolvimento sustentável em todo o Brasil, nas áreas agrícola e florestal.

Marina Piatto, diretora do Imaflora, reforça o compromisso da organização com o meio ambiente e o Pará. Foto: Evangelista Rocha

“Temos dois escritórios regionais no estado. Um em Belém, atuando na região de Oriximiná com comunidades quilombolas, e outro em Altamira, trabalhando com agricultura familiar e projetos no entorno do Xingu. A organização promove o comércio ético dos produtos de origem brasileira, estimula a criação de áreas de concessões florestais e projetos de carbono”, conta.

Ao justificar a escolha do Pará como foco da discussão, Marina aproveitou para compartilhar dados relevantes, indicando que o estado possui mais de 99 mil propriedades, sendo que a maioria, cerca de 70%, possui até 300 hectares. Essa diversidade de propriedades destaca um perfil de produtor peculiar, o que reforça a importância de abordagens adaptadas para promover a sustentabilidade na pecuária paraense.

A diretora ressaltou que os desafios ambientais são valorizados como uma ferramenta para impulsionar a produção: “Não somente atendendo à demanda de mercado, mas também enfrentando os desafios ambientais de maneira proativa”, disse.

MEIO AMBIENTE DE OLHO

Raul Protázio Romão, secretário adjunto de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS-PA), também esteve presente e pontuou o encontrou como um evento de grande relevância no cenário agropecuário paraense, no que tange a questão da integridade na produção de carne, que foi discutida em profundidade.

“Antes mesmo de ser uma questão ambiental, trata-se, primariamente, de uma questão de mercado. A crescente demanda exige cada vez mais produtos, especialmente a carne, com garantias de integridade em sua produção”, levanta.

Segundo Raul, o mercado atual exige que os produtos, em especial a carne, estejam desvinculados de práticas como o trabalho escravo e que não provenham de áreas com desmatamento legal. A integridade tornou-se um requisito fundamental para garantir a confiança do consumidor e manter a competitividade no mercado.

“Diante desse cenário, é gigante a necessidade de ferramentas de rastreabilidade e transparência que permitam conhecer a trajetória do animal e as condições de sua produção”, enfatiza.
Para ele, o movimento em direção à integridade na produção de carne não é apenas uma tendência local, mas sim um fenômeno global. No Brasil, e em especial no Pará, que abriga o segundo maior rebanho do país, é vital adaptar-se a essas exigências para não perder espaço no mercado. O alcance de um mercado mais amplo pode resultar em melhores preços para os produtores, que enfrentam desafios devido aos baixos valores praticados atualmente.

“É necessário também o entendimento por parte dos produtores sobre a relevância dessa agenda. Cumprir as obrigações ambientais e sociais não é um custo adicional, mas uma condição indispensável para acessar o mercado”, diz.

Em sua perspectiva, uma das maiores dificuldades identificadas é garantir que os produtores compreendam que essas obrigações não são meros encargos, mas sim requisitos para o acesso ao mercado.

Raul aponta que muitos produtores ainda são cautelosos ou hesitantes em relação a essa mudança de paradigma. Segundo ele, o diálogo é uma ferramenta crucial para esclarecer e engajar os produtores nesse novo ambiente, onde a integridade na produção de carne é uma prioridade incontestável.

GESTÃO ESTADUAL

Também representando o Estado no evento, o Secretário de Governo do Sul e Sudeste do Pará, João Chamon Neto analisou a importância e relevância da discussão e considera este um evento dedicado à discussão do desenvolvimento, agronegócio e visões externas para enriquecer as lições locais em busca de uma sociedade mais qualitativa. “Vale destacar o compromisso em participar ativamente de todas as discussões relacionadas a uma abordagem mais eficaz para o Estado”, disse ele.

 

O secretário de Governo reconhece que é preciso buscar soluções conjuntas com as organizações. [Foto: Evangelista Rocha]

Ao salientar a importância do diálogo com as demais lideranças do agronegócio, o representante governamental reforçou o compromisso em buscar soluções conjuntas e integradas para impulsionar o desenvolvimento sustentável da pecuária na região.

“A presença e a participação do Governo do Estado indicam uma abordagem aberta e colaborativa para enfrentar os desafios e melhorar as práticas na pecuária, visando um futuro mais promissor e sustentável para o Pará”, finaliza Chamon. (Thays Araujo)