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Em entrevista exclusiva, Tião Miranda revela motivação para mudar de partido

Em entrevista exclusiva, Tião Miranda revela motivação para mudar de partido

A menos de um ano das eleições, os bastidores da disputa pela Prefeitura de Marabá revelam dois movimentos simultâneos que podem definir o desenho da corrida à PMM no ano que vem. De um lado, o deputado Toni Cunha usa as redes sociais para tentar atrair a atenção de uma plateia restrita atacando a gestão municipal, buscando macular a imagem do atual prefeito, Tião Miranda. Calado e sem dar resposta há um bom tempo, Tião acaba de fincar o pé de vez na eleição de 2020 ao anunciar que muda de partido.

Na campanha eleitoral de 2020, o marabaense não ouvirá mais o bordão tradicional “Tião 14”, número relacionado a seu partido anterior, o PTB. No lugar dele, entra o 55, do PSD. E um novo jingle já está preparado e deverá ser lançado no dia 18 deste mês de novembro, numa cerimônia que ocorrerá na Câmara Municipal, envolvendo caciques do novo partido no Pará e até do cenário nacional.

Numa longa entrevista exclusiva ao Portal CORREIO DE CARAJÁS, na manhã desta quinta-feira, 7, Tião falou sobre sua saída do PTB, partido em que estava há 20 anos; praticamente sela que deverá disputar eleição em 2020; comenta as críticas que vem recebendo do deputado estadual e seu ex-vice-prefeito Toni Cunha nas redes sociais; e fala de obras em andamento e as projetadas para o ano que vem.

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Um detalhe: em nenhum momento – em meia hora de entrevista – o prefeito pronunciou o nome de Toni Cunha, referindo-se a ele apenas como “deputado”.

Tião Miranda: “Ninguém muda passado; ele só serve de referência pra gente não errar no futuro”

Acompanhe a entrevista:

CORREIO DE CARAJÁS – Por quantos anos o senhor ficou no PTB?

TIÃO MIRANDA – Em mais de 30 anos de vida pública, fui filiado ao PMDB, inicialmente, e depois no PSDB. O PTB foi o partido que fiquei por mais tempo, ao todo 20 anos. E realmente a mudança foi para novos caminhos, porque achei esse novo caminho muito mais salutar.

CORREIO DE CARAJÁS – O que aconteceu de desagradável para sair do PTB e filiar-se ao PSD?

TIÃO MIRANDA – Euestava incomodado no PTB. Minha relação mais próxima era com o Josué (Bengston), que hoje não é mais presidente do partido no Pará, mas sim o filho dele. E havia um deputado que queria ser candidato a prefeito de Marabá dentro do nosso partido. Eu acho bom ele ser candidato. Eu sou republicano, acho que o povo tem de ter opções para escolher e decidir o que é melhor para a cidade.

CORREIO DE CARAJÁS – Com a sua chegada ao PSD, quantos correligionários mais estão aderindo ao novo partido?

TIÃO MIRANDA – Os vereadores só podem abandonar seus partidos atuais na janela do mês de março. Neste momento, algumas lideranças ligadas a mim devem fazer a mudança e isso é natural quando você passa para outro partido, tendo a liberdade para decidir se quer lhe acompanhar na nova sigla.

CORREIO DE CARAJÁS – Para algumas pessoas, o senhor cometeu um erro ao aceitar Toni Cunha como seu vice-prefeito na eleição de 2016. Convidá-lo para o seu partido, o PTB, foi um segundo erro?

TIÃO MIRANDA – Eu não acredito que tenha sido um erro. Eu acho que, ao longo da minha vida política – são quase 30 anos militando nesta seara – cada um oferece o que tem. Sempre ajo com extrema boa fé com as pessoas. Se as pessoas não agem da mesma forma, lamento, são eles quem decide isso. Eu sempre procurei ao longo da minha carreira política ser ético, respeitar as pessoas.

Eu lembro que tive uma relação com o Doutor (Geraldo) Veloso de prefeito e vice. Ao chegar à época das eleições, a gente estava no mesmo partido, que era o PSDB. Algumas pessoas chegaram a cogitar de eu ser candidato a prefeito em detrimento dele, e naquele momento eu tinha mais o controle do Diretório do partido, mas não aceitei porque eu tinha um pacto com ele. Já que tínhamos ido juntos no primeiro mandato, a gente iria fazer o mesmo no segundo. Acho que essas coisas, ao longo da vida da gente, vão delineando o nosso perfil, de ética, de lealdade. Acho que esse é o meu perfil. Eu sempre digo aos meus auxiliares, secretários e comunidade geral, que ninguém muda passado, passado só serve de referência para gente não errar no futuro.

CORREIO DE CARAJÁS – Quando Tião Miranda decide mudar de partido faltando um ano para eleição, significa que ele vai disputar a reeleição em 2020?

TIÃO MIRANDA – O futuro a Deus pertence. É logico que a gente já deixa toda a expectativa favorável, mas eu sempre digo que a gente não prevê o futuro. O que a gente tem de fazer é o seguinte: preparar as coisas em cima de um projeto que você tenha em sua cabeça. O importante é fazer um bom trabalho na cidade, para que a comunidade queira que você fique. É importante ter um apoio maciço da comunidade. Até porque ser prefeito, gerenciar uma cidade não é uma coisa tão fácil, tão simples. O prefeito hoje é muito visado, cobrado, fiscalizado e ele tem de andar sempre fazendo as coisas muito respaldado, dentro da legalidade.

CORREIO DE CARAJÁS – O senhor foi criticado em 2008 e em 2012 por demorar a escolher o indicado a prefeito e, depois, o candidato a vice-prefeito. Quando pretende anunciar quem será seu vice para a eleição de 2020?

TIÃO MIRANDA – Política é decidida na época, na hora. A gente prepara uma conjuntura, tem o perfil das pessoas que possivelmente estarão com você. Mas o importante é agregar as pessoas que comunguem do mesmo projeto político. Essas questões do passado… Houve eleições que ganhamos, outras que perdemos, mas o importante é que a gente conseguiu resgatar uma credibilidade na cidade no atual mandato.

CORREIO DE CARAJÁS – Avalie os nomes abaixo e diga qual deles não poderia, sob nenhuma hipótese, ser seu candidato a vice-prefeito:

a)        Luciano Dias

b)        Pedrinho Corrêa

c)        João Chamon

d)        Manoel Veloso

e)        Pádua Andrade

f)         Irismar Melo

TIÃO MIRANDA – Eu prefiro não entrar nesses detalhes. Acho que são detalhes muito específicos, está muito longe (da eleição). Vamos deixar a coisa acontecendo naturalmente. Política é uma coisa que muda, é como o tempo. Hoje o sol tá brilhando, amanhã tá chovendo ou tá nublado, e precisamos ter uma noção do que pode acontecer no futuro.

CORREIO DE CARAJÁS – Existe possibilidade de criação de uma chapa puro sangue, dentro do PSD, para disputa da prefeitura, ou isso está fora de cogitação?

TIÃO MIRANDA – Como disse anteriormente, o futuro a Deus pertence. Essas conjecturas ainda não foram trabalhadas na nossa cabeça, tudo tem a hora certa. A hora agora é de fazer a filiação, arregimentar pessoas, organizar com os partidos que vão estar na base e futuramente as coisas vão acontecer. Em política você não pode ser ansioso nem indeciso. Quanto mais candidatos melhor para a população ter mais possibilidade de escolha.

CORREIO DE CARAJÁS – O deputado Toni Cunha, pretenso candidato a prefeito ano que vem, vem usando as redes sociais para fazer duras críticas a sua gestão, especialmente a saúde. Não rebatê-lo a cada manifestação é uma estratégia para não dar IBOPE a ele?

TIÃO MIRANDA – Se eu pegasse todo o orçamento de Marabá e investisse na saúde ainda iriam falar mal. Por quê? Porque saúde não tem preço. A gente sabe o quanto que a saúde é importante. E neste setor nós temos um problema sério, porque o nosso Hospital Municipal e o pronto socorro que funciona lá dentro são regionais e atendem outros 20 municípios.

Dias atrás, por exemplo, teve um acidente com um ônibus em São Geraldo do Araguaia e todo mundo veio pra cá. Se é em Jacundá, Itupiranga, acontece a mesma coisa, porque o HMM é quem realiza as cirurgias. A demanda que temos é muito grande, a gente sabe disso. Eu gostaria de não ter só um Hospital Municipal e um Materno Infantil. Preferia ter dez hospitais, mas uma casa de saúde dessas para você construir e equipar é o mais fácil; difícil é ter a verba para o custeio.

Só para efeito de comparação, se você gastar R$ 50 milhões para construir um hospital, você vai aplicar esse mesmo valor para manter ele por um ano. Então, a saúde hoje é o maior investimento que o município faz. Ano passado investimos 32% de recursos próprios, e este ano já passamos de 30%. A gente prioriza a saúde porque entendemos que ela é a coisa mais valiosa para o ser humano. A gente não faz política de saúde beneficiando A ou B. As pessoas chegam ao hospital doente, fragilizadas estão precisando de ajuda. Precisamos continuar buscando meios para melhorar a saúde de Marabá. Não dá para resolver todos os problemas da saúde, mas dá para melhorar muito e já melhorou, tenho certeza disso.

Agora, crítica, cada um pode fazer como quiser. Acho que é natural. Eu não vou ficar rebatendo crítica porque eu tenho uma filosofia que é a seguinte: ao longo da nossa vida a gente tem duas maneiras de gastar a vida da gente; ou positiva ou negativamente. Negativa é rebatendo crítica e positiva é realizando, melhorando, fazendo as coisas acontecerem, e é isso que estou fazendo. Quando acordo, penso: vamos trabalha, fazer, realizar, deixa quem quiser criticar que critique, não vou perder a minha energia com isso.

CORREIO DE CARAJÁS – A última acusação de Toni em relação à saúde, dá conta que estaria havendo influência política na regulação de paciente no Hospital Municipal de Marabá. Isso não parece estranho, já que o HMM é um hospital de portas abertas, praticamente?

TIÃO MIRANDA – Isso é o tipo da crítica infrutífera, sem fundamento e infeliz. Até porque a gente não controla quem entra no Hospital Municipal e as pessoas que entram lá estão doentes, ninguém vai lá passear, fazer exames desnecessários, são pessoas que estão fragilizadas. As pessoas se apegam, me pedem para fazer cirurgia, pra ir pro (Hospital) Regional, a gente tenta ajudar do jeito que pode. Muitas são pessoas que nunca vi, mas tenho o prazer de ajudar na área de saúde. Procuro ajudar independente de questão partidária. Não pergunto se a pessoa vota aqui, em Itupiranga ou Jacundá. Acho que o importante é ter a consciência limpa de que você faz o melhor para a comunidade. Para mim, saúde é coisa muito séria, uma coisa que a gente tem que zelar, melhorar, atender bem quem está doente, sem perguntar nome, quem é. O SUS é assim, universal, é para todos. Chegou um doente no Municipal, de qualquer lugar do Brasil, ele é atendido. E assim é o nosso procedimento aqui.

CORREIO DE CARAJÁS – Olhando para os três últimos anos, o senhor considera que o trabalho do dia a dia o tem ajudado a superar o problema de depressão?

TIÃO MIRANDA – Talvez o meu problema fosse que a minha cabeça precisava estar ocupada, pensando, raciocinando, trabalhando. Eu sempre fui apaixonado por cálculo, física química, biologia. Sou engenheiro eletricista, fiz faculdade na UFMG, então eu mexia muito com meu cérebro. Pessoas com mentes rápidas não podem ficar com o cérebro ocioso, como eu estava. Talvez se eu ficar um dia aposentado vou ter de fazer alguma coisa da vida porque é muito ruim passar o dia e não ter o que fazer. A vida de prefeito é intensa, eu acho que o meu cérebro funciona de maneira intensa. São muitas coisas para resolver no dia a dia, é iluminação pública, limpeza pública, é o Materno Infantil, é o HMM, são as escolas, reformas, tapa buraco na cidade, sinalização, ponte, cobrança… O prefeito é cobrado de todas as maneiras, então isso talvez deixe meu cérebro em movimento e contribuiu para eu está muito mais ativo hoje. (Ulisses Pompeu e Bianca Levy)

Observação:

Leia a íntegra da entrevista na edição do Jornal Correio deste sábado, dia 9 de novembro.