Correio de Carajás

Em disputa acirrada, argentinos vão às urnas para eleger um novo presidente

Candidatos Sergio Massa e Javier Milei mantêm estratégias e aparecem empatados tecnicamente em pesquisas

Sergio Massa e Javier Milei chegam ambos com chances reais de ganhar o segundo turno (Instagram / sergiomassaok e javiermilei)

A eleição presidencial na Argentina chega ao fim neste domingo (19) com as pesquisas apontando empate técnico entre o peronista Sergio Massa e o libertário Javier Milei. O segundo turno foi marcado pela continuação dos discursos adotados por cada lado, mas também pela tentativa de conciliação entre Milei e indecisos.

Durante o processo eleitoral, a campanha de Sergio Massa buscou aliar o rival libertário ao extremismo político, explorando a sua vitória como uma ameaça à democracia argentina. Isso ocorreu após discursos efusivos de Milei, que já sugeriu “dinamitar o Banco Central” e pôs em descrédito o número de mortos durante a ditadura argentina. O resultado final do primeiro turno, consagrando a inesperada vitória do peronista, mostrou que a estratégia de Massa deu certo.

Milei afirma que não vai privatizar a educação
Desde então, Milei tem reiterado que não vai privatizar a educação e nem permitir o acesso desenfreado de cidadãos ao porte de armas, em uma tentativa de acalmar os ânimos dos indecisos. Para isso, o libertário também tem recebido ajuda do ex-presidente, Maurício Macri, e da terceira colocada no primeiro turno, Patricia Bullrich, que adotaram um tom conciliador no apoio a Javier Milei.

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O ex-presidente, em entrevista na última semana, pediu que os cidadãos argentinos não deixem de votar. “Tem coisas que ele propõe que não gostamos e que ele não vai aprovar porque não terá os votos, mas estaremos lá para ajudar Milei, com toda a calma, a conduzir este país à mudança que necessitamos. Votar em branco é negar a esperança”, afirmou.

Do outro lado, o peronista enfrenta desafios de popularidade que estão em jogo na votação. A sua aliança, União pela Pátria, busca se manter no poder enquanto defende uma plataforma política que está em baixa com a população, graças à rejeição histórica do atual governo de Alberto Fernández, também peronista.

Massa foi transformado em “superministro”
Em agosto de 2022, os peronistas forçaram Alberto Fernández a transformar o então presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa, em superministro, unificando pastas de Desenvolvimento e Agricultura, Pesca e Economia. A missão de salvar uma economia que caminhava para 90% de inflação ao ano, não surtiu o efeito esperado. Pouco mais de um ano depois, a inflação ultrapassou a casa dos 140% e o aumento da pobreza atingiu a margem de 40% da população, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec).

Em entrevista ao O Globo, um vendedor em Buenos Aires opinou sobre os candidatos: “Massa é o desastre que já vivemos, Milei o extremista que assusta. Votei nele nas primárias para enfraquecer o peronismo, depois em Bullrich no primeiro turno. Agora acho que acabarei votando em branco”.

O excesso de adversidades fez com que o presidente Lula, aliado aos peronistas, passasse a se envolver indiretamente na campanha de Massa. Embora não tenha declarado voto, recebeu o candidato em Brasília durante o processo eleitoral e enviou assessores para ajudar na campanha. Segundo analistas do canal argentino C5N, a ajuda de Lula foi providencial para a vitória de Massa no primeiro turno.

Este esforço se dá pelo receio das relações com a Argentina em caso de vitória de Milei. Em diversas oportunidades, o candidato libertário chamou o presidente brasileiro de “ex-presidiário” e afirmou que não terá relações pessoais com chefes de Estado “comunistas”, referindo-se, também, a Lula.

Brasil entra na pauta dos candidatos
O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, que ocupa a terceira posição na lista de parceiros do Brasil. A relação comercial entre os dois países é histórica e importante para a América do Sul, mas a divergência ideológica não seria um entrave inédito entre presidentes.

Nos últimos anos, Alberto Fernández e Jair Bolsonaro também não desfrutavam de boa relação. Durante seu governo, o ex-presidente brasileiro criticou reiteradas vezes o governo argentino, embora nunca tenha falado em não ter relações com Fernández.

Para tranquilizar investidores, Milei afirmou que as relações comerciais seguirão normalmente entre os dois países, diferente das relações pessoais. Segundo ele, o foco será em países livres, citando Estados Unidos, Israel e países da União Europeia.

Na última quinta-feira, Milei reuniu uma multidão na principal avenida de Córdoba para encerrar sua campanha eleitoral, e pediu que os argentinos “votem sem medo”. Em Buenos Aires, Sergio Massa discursou para estudantes de uma escola estatal, reafirmando seu compromisso com uma educação “pública e de qualidade”.

O número de eleitores que não se identifica nem com Massa ou Milei é alto, consolidando as expectativas para a eleição de hoje: o futuro da Argentina está nas mãos dos indecisos.

(O Liberal)