Em termos de publicidade de papel, o governo do prefeito Ismael Gonçalves Barbosa, em Jacundá, vem esbanjando recursos públicos. Um levantamento exclusivo realizado pela Reportagem do CORREIO revela que 105 outdoors foram adquiridos pela atual gestão municipal no período de 5 de agosto a 12 de setembro deste ano. Um detalhe chama a atenção: a PMJ não dispõe de locais para colocar tantas as peças publicitárias.
A fonte é o Portal da Transparência, site onde está hospedada toda a vida da Prefeitura de Jacundá e pode ser consultada por qualquer cidadão.
Quatros secretarias estão envolvidas na compra. Administração e Planejamento (66 peças), comandada pelo genro do prefeito, Eduardo Barth; Meio Ambiente e Turismo (5 unidades), gerida pela professora Glaucinete Lacerda; Educação (19), sob o comando da mulher do atual prefeito, Leila Gonçalves Barbosa; e Assistência Social (15), pasta de responsabilidade de Valkíria Vale. Juntas, as quatro secretarias contrataram, ao valor de R$ 52.803,00, as 105 peças de outdoor, das quais quatro foram confeccionadas em lona, que custaram R$ 1.812,00 a unidade e totalizou R$ 7.248,00. Cada uma delas mede o tamanho de 3 metros de altura por 9 metros de largura, totalizando 2.835 metros quadrados.
Leia mais:A PMJ pagou em média R$ 451,00 para confeccionar cada peça de outdoor de papel ou lona em uma empresa local vencedora do processo licitatório que custou a bagatela de R$ 3,5 milhões no ano passado e que continua valendo. A Arteiros Comunicação Visual Ltda-ME, com sede em Jacundá, emitiu notas fiscais nesse período de 37 dias que totalizam R$ 294.913,74. Estão incluídos, além das peças de outdoors, banners, faixas em papel, panfletos, blocos e carimbos. “Nunca vi isso na minha vida. Na minha época a licitação não chegava a R$ 250 mil durante o ano todo”, disse um ex-prefeito do município jacundaense.
Poucos eventos, poucas placas
A Reportagem cruzou os eventos públicos realizados no período com os locais onde poderiam ser exibidas as peças. De agosto a setembro, pelos registros oficiais, apenas dois eventos tiveram relevância popular.
O primeiro deles trata da assinatura do termo de cessão de exploração de água. O evento aconteceu no salão da Maçonaria. O segundo é o tradicional 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil. Com menos visibilidade, a Prefeitura de Jacundá entregou a escola Peter Pan e a quadra da escola Cristo Rei.
Para colar as 105 mídias de outdoors, a Prefeitura de Jacundá precisaria de placas próprias ou terceirizadas (locadas). Nem uma coisa nem outra. Das cinco placas de uso próprio, existe apenas o esqueleto de uma. Ela está situada no pátio da Escola Rosália Correia. As demais foram ao chão. E na cidade toda existe apenas 7 placas de uso privado, das quais três pertencem à Arteiros. Somados os eventos com o número inexistente de placas, o excesso é evidente. Seria necessário colar diariamente 3 peças durante 35 dias.
Nos dias 10, 11 e 12 de setembro, doze notas fiscais foram emitidas em nome da PMJ e totalizam o montante de R$ 151.572,62. A NF 221, emitida no dia 12, no valor de R$ 24.739,90 traz a compra de 7 outdoors. A nota com numeração seguinte, cujo valor é de 23.579,35, mais 10 peças de outdoors foram adquiridas.
No dia 10 de setembro, por exemplo, a NF 217, no valor de R$ 10.800,00, traz a compra de outros 12 outdoors. E assim a exorbitância na encomenda de outdoors continua a todo vapor.
O que diz a Prefeitura?
Durante três dias, a Reportagem ligou para o número celular do prefeito Ismael Barbosa na tentativa de ouvi-lo sobre a compra das peças de outdoors. Ele não atendeu nem retornou as chamadas. O mesmo aconteceu com o secretário de Administração, Eduardo Barth. Na manhã de quarta-feira, 16, o chefe de Gabinete, Carlos Elias, foi procurado, mas sem sucesso, porque o número de pessoas para falar com ele era grande. (Antonio Barroso)