Correio de Carajás

Eleição em Portugal tem vitória apertada da centro-direita

Os partidos mais votados foram Aliança Democrática, Partido Socialista e Chega --a bancada da extrema direita pode ser triplicada no Parlamento.

O líder da Aliança Democrática, Luis Montenegro, em discurso após as eleições portuguesas — Foto: Pedro Nunes/Reuters

Com 99% das urnas apuradas nas eleições legislativas em Portugal deste domingo (10), a Aliança Democrática (AD), a coligação liderada pelo Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, ganhou por estreita margem do Partido Socialista (PS).

A disputa ficou marcada também pela ascensão do Chega, de extrema direita, que aumentou significativamente o número de cadeiras no Parlamento e terminou em terceiro lugar. Previsto originalmente em 2026 e realizado poucos meses após a renúncia do então primeiro-ministro, o pleito sucedeu um recente cenário de instabilidade que voltou a tomar conta do país (leia mais abaixo).

A Assembleia da República, como é chamado o Parlamento português, tem 230 deputados. Os legisladores eleitos neste domingo é que vão escolher um novo governo. Com 99% das urnas apuradas, haviam sido definidos 226 nomes.

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Entre os três partidos que lideraram a disputa, a divisão era a seguinte, até a última atualização desta reportagem:

  • Aliança Democrática (AD) – 79 parlamentares (antes, os três partidos que agora formam a aliança tinham 77);
  • Partido Socialista (PS) – 77 parlamentares (antes, tinha 120);
  • Chega (de extrema direita) – 48 parlamentares (antes, tinha 12).

Mesmo sem que estivesse definido o número exato de cadeiras de cada partido ao término da apuração, era possível assegurar que nenhum deles fez a maioria.

De acordo com o jornal português “Público”, a AD só conseguirá formar maioria se fizer uma aliança com o Chega. Ainda segundo a publicação, o PS não conseguirá conceber nem mesmo um governo de coalizão, caso conte somente com outras siglas de esquerda.

O líder da AD, Luis Montenegro, disse neste domingo que o partido deverá agir de forma responsável. Não ficou claro se a coligação de centro-direita vai fazer uma coalizão com a extrema direita. Já o líder do PS reconheceu a vitória da AD.

Veja, abaixo, como se distribuíram os votos com 99,01% das urnas apuradas:

  • AD – 29,54% dos votos.
  • PS – 28,66% dos votos.
  • Chega – 18,05% dos votos

 

A votação terminou às 19h de Lisboa (16h de Brasília), com de cerca de 33% de abstenção, que é uma porcentagem significativamente abaixo da média das votações mais recentes.

Durante as últimas décadas, Portugal foi liderado durante por dois partidos moderados:

  • PS, de centro esquerda;
  • e o AD, de centro-direita.

 

Nos últimos meses, políticos das duas legendas foram denunciados por esquemas de corrupção. Nesse cenário, o Chega, de extrema direita, teve uma votação significativa. Nas eleições anteriores, por exemplo, o partido havia tido 7,2%.

 

Há apenas um ano, Portugal tinha um dos governos mais sólidos e estáveis da Europa, formado por maioria absoluta — ou seja, uma única sigla, o PS, tinha mais de metade dos assentos, uma raridade nos sistemas parlamentaristas do continente.

Os anos de crise financeira profunda e da chamada “geringonça” – o pacto inédito entre socialistas, comunistas e esquerda radical em 2015 – haviam ficado para trás.

Bastaram alguns meses, no entanto, para a instabilidade voltar a tomar conta do país: em novembro, o primeiro-ministro António Costa, do PS, renunciou — após o Ministério Público anunciar que ele era investigado em um caso de corrupção.

Entretanto, semanas depois, o próprio MP reconheceu que havia errado; o acusado não era o primeiro-ministro, mas sim um homônimo. A renúncia fez Portugal antecipar as eleições, que só aconteceriam em 2026.

Foi nesse cenário que, neste domingo, cerca de 10,8 milhões de eleitores de Portugal voltaram às urnas.

Os líderes dos três principais partidos

 

Montagem mostra Pedro Nuno Santos (PS), Luís Montenegro (PSD) e André Ventura (Chega) — Foto: Reuters
Montagem mostra Pedro Nuno Santos (PS), Luís Montenegro (PSD) e André Ventura (Chega) — Foto: Reuters

Em Portugal, os votos na eleição legislativa, diferentemente do que ocorre no Brasil, são para um partido, não em um candidato.

O partido que obtiver mais votos pode ganhar o controle do Legislativo, mas só se conquistar um número mínimo de assentos no Parlamento.

Veja abaixo quem são os líderes os três principais partidos.

Partido Socialista

O líder dos socialistas é Pedro Nuno Santos, de 46 anos. Ele é deputado e já foi ministro de Moradia e Infraestrutura de Portugal.

Ele pediu demissão do governo por dois casos que tiveram repercussão ruim no país:

  • A forma como o governo resgatou financeiramente a empresa aérea TAP.
  • Uma disputa sobre a localização de um novo aeroporto em Lisboa.

 

Nuno Santos é de uma família rica do norte de Portugal. Quando ele era bem mais jovem, o socialista chegou a dirigir um Porsche, mas, segundo ele, não se sentiu bem com o carro e o vendeu.

Partido Social Democrata

Luis Montenegro, o líder do Partido Social Democrata, de 51 anos, é advogado de formação e está no Parlamento há 16 anos.

O Partido Social Democrata formou uma frente eleitoral para concorrer nas eleições, a Aliança Democrática, com pequenos partidos de centro direita.

A polícia chegou a investigar Montenegro em 2017, quando ele era suspeito de ter recebido viagens para jogos de futebol pagas por uma empresa de mídia, mas os agentes desistiram do caso.

Chega

O líder do Chega, André Ventura, de 41 anos, não deve ter votos suficientes para se tornar primeiro-ministro, mas após as eleições o partido dele pode ser fundamental para formar alianças para que algum grupo tenha maioria no Parlamento.

Ventura foi advogado e professor de direito tributário a comentarista de futebol na TV.

Como são as eleições em Portugal

 

  • Em Portugal, o regime não é igual ao Brasil. O país europeu funciona sob o regime semipresidencialista, formado por um presidente e por um primeiro-ministro. Neste domingo, os eleitores votarão para escolher deputados da Assembleia da República, como é chamado o Parlamento português.
  • Nas eleições de 2022, o Partido Socialista (PS), de esquerda, obteve 117 das 230 cadeiras do Parlamento e conseguiu a maioria absoluta para governar, sem depender de alianças;
  • Caso isso não ocorra, o partido vencedor pode tentar se associar a outras siglas até chegar ao número mínimo de assentos no Parlamento necessários para governar. O primeiro-ministro inclusive pode vir de um desses partidos coligados.

 

Como era a composição do Parlamento

 

Até as eleições deste domingo (10), o Partido Socialista tinha, sozinho, 120 das 230 cadeiras da Assembleia.

A segunda maior bancada era a do Partido Social Democrata (PSD), com 77 — agora, o PSD faz parte da Aliança Democrática.

O Chega já era a terceira força, mas com 12 deputados, um número de deputados bem menor do que deve obter agora.

Com discurso radical, Ventura, o presidente do partido, explora o tema da corrupção no país e evoca pautas comuns à extrema direita, como o combate a uma suposta “ideologia de gênero” e postura contrária à imigração. É aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, na quinta-feira (7), afirmou que proibiria a entrada do presidente Lula (PT) em Portugal caso vencesse as eleições.

Ventura, um ex-comentarista de futebol e professor universitário que quase se tornou padre, costuma fazer seus discursos incendiários em púlpitos e tem o lema “Portugal precisa de limpeza”.

O cartaz faz referência aos imigrantes do país, que atualmente representam quase 8% da população. Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF), o país fechou o ano com quase 800 mil imigrantes. A maioria é de brasileiros.

Jovens portugueses seguram folhetos com o slogan "Portugal precisa de uma limpeza" durante ato do partido de extrema direita Chega, em fevereiro de 2024. — Foto: Patrícia de Melo Moreira/ AFP
Jovens portugueses seguram folhetos com o slogan “Portugal precisa de uma limpeza” durante ato do partido de extrema direita Chega, em fevereiro de 2024. — Foto: Patrícia de Melo Moreira/ AFP

Eleições antecipadas

As eleições foram convocadas pelo presidente de Portugal, Marcelo de Sousa, no ano passado, após Costa renunciar em um dos episódios mais inusitados da política recente em Portugal.

Em novembro de 2023, o Ministério Público de Portugal tornou pública uma investigação que conduzia contra o então primeiro-ministro. O nome do premiê havia sido citado em um inquérito sobre suposto esquema irregular de exploração de lítio e de hidrogênio verde.

Diante da investigação, Costa anunciou sua renúncia, embora tenha negado envolvimento no esquema.

A reviravolta, no entanto, veio semanas depois, quando o Ministério Público reconheceu que o então premiê havia sido indiciado por engano – o verdadeiro alvo era um homônimo de António Costa.

 

A renúncia de Costa, no entanto, já havia sido aceita pelo presidente português, que atua como chefe de Estado no país – o premiê é o chefe de governo –, protocolada e publicada no Diário Oficial.

O ex-premiê socialista cumpria no seu terceiro mandato, o mais forte deles. Em janeiro de 2022, após dissolver seu então governo da geringonça, ele venceu as eleições com maioria absoluta.

Costa era considerado um dos chefes de governo mais estáveis e experientes em exercício da Europa, e seu governo, uma das principais referências para a esquerda do continente —apenas em Portugal e em Malta a esquerda governava sem qualquer aliança.

Sua queda mudou esse quadro e deve lançar o país de volta nas negociações pela formação de um governo após os resultados deste domingo, segundo as principais projeções.

O ex-premiê de Portugal António Costa (no centro, segurando o guarda-chuva), ao lado do atual líder do Partido Socialista de Portugal, Pedro Nuno Santos, em ato de campanha, em 8 de março de 2024. — Foto: Joao Henriques/ AP
O ex-premiê de Portugal António Costa (no centro, segurando o guarda-chuva), ao lado do atual líder do Partido Socialista de Portugal, Pedro Nuno Santos, em ato de campanha, em 8 de março de 2024. — Foto: Joao Henriques/ AP

(Fonte:G1)