📅 Publicado em 26/11/2025 16h55
A chegada da Black Friday movimenta o comércio marabaense, mas também expõe particularidades da economia local que influenciam diretamente no preço dos produtos e no comportamento dos consumidores. Em entrevista ao Correio de Carajás, Giliard Silva, professor doutor em Economia da Unifesspa, analisou o cenário atual, apontou desafios e ofereceu orientações para compras mais conscientes neste período de grande apelo promocional.
Produção local limitada encarece produtos
Segundo o professor, Marabá tem uma característica estrutural que pesa sobre os preços: produz poucos itens da indústria de transformação. Isso significa que a maior parte dos produtos vendidos – especialmente eletrônicos, eletrodomésticos e alimentos processados – vem de outras regiões, acumulando frete e margem de comercialização.
Leia mais:“Marabá sofre com preços relativamente mais altos por causa do impacto do frete e da margem de comércio”, explica. A situação se agrava para itens importados, comuns na Black Friday, que também sofrem influência do câmbio e de impostos específicos.
O professor destaca ainda uma prática recorrente no mercado nacional e, também, percebida localmente, que é o reajuste prévio de preços antes do período promocional.
Segundo ele, “o preço cai, mas cai para um nível muito próximo do que estava antes”, o que salienta a necessidade de atenção redobrada do consumidor. Além disso, há uma diferença significativa entre preços à vista e a prazo, que muitas vezes passa despercebida. Produtos parcelados podem custar muito mais do que o valor original, comprometendo o orçamento futuro.
Comportamento do consumidor local
Embora ainda faltem dados mais robustos, os quais devem surgir com pesquisas acadêmicas nos próximos anos, o professor afirma que um ponto é evidente: ainda há pouco planejamento financeiro.
“Muita gente assume que tem uma renda X e pode gastar X, mas esquece que parte dessa renda já está comprometida com despesas fixas”, destaca. Esse comportamento, segundo ele, favorece decisões por impulso, comuns em épocas de promoção.
Descontos ilusórios
A principal orientação é simples: pesquisar. O professor sugere que o consumidor trate compras de menor valor com a mesma cautela que teria ao adquirir um carro ou motocicleta.
Ele também recomenda comparar preços em diferentes lojas, verificar valores em marketplaces e sempre incluir frete na conta, especialmente em compras online. “Nunca compre por impulso. Compare preços e não se satisfaça com a primeira oferta”, afirma.
Aumento da massa salarial impulsiona vendas
Além da dinâmica da Black Friday, há um contexto econômico favorável ao consumo em 2024 e 2025. O professor aponta que Marabá registrou aumento da massa salarial e das ocupações formais nos últimos anos, o que tende a refletir em maior movimentação no comércio.
“Quando há aumento de massa salarial, cresce também a compra de bens que não fazem parte do consumo recorrente”, avalia. Isso inclui eletrônicos, móveis e outros itens típicos da Black Friday.
A influência dos desafios pós-pandemia reorganizou o modo como o marabaense consome. Marketplaces ganharam força e, hoje, o comércio local disputa clientes não apenas com outras lojas da cidade, mas com vendedores de todo o mundo.
“É o lojista de Marabá concorrendo com o de São Paulo, Taiwan ou Nova York”, observa. Isso exigiu adaptações tecnológicas, mudanças de estratégia e maior eficiência para manter a competitividade.
Uso do crédito: aliado ou vilão?
Para finalizar, o professor alerta que crédito não deve ser confundido com renda extra. Ele reforça que ao parcelar uma compra, o consumidor está comprometendo seu orçamento dos meses seguintes.
“O crédito não é um orçamento a mais. É o seu orçamento futuro trazido para o presente”, explica. Quando mal administrado, pode se tornar um grande risco financeiro. O equilíbrio, segundo ele, é fundamental para evitar endividamento excessivo.
