No dia 11 de junho, o Instituto Transformance realizou sua primeira oficina de formação em eco-pedagogia através das artes do Projeto Viveiro Bem Viver, com a docência da escola Municipal Martinho Motta, na Folha 27.
Oferecida pelo arte-educador Dan Baron, em solidariedade com professores e alunos sofrendo os efeitos do colapso climático, a oficina demonstrou os potenciais do que ele chama de ‘alfabetização eco-cultural’, inspirada pelo educador brasileiro Paulo Freire, evoluída ao longo de 25 anos de projetos comunitários no sul do Pará, e praticada no Cabelo Seco, no projeto Rios de Encontro.
Cristina Arcanjo, diretora da Escola Martinho Motta, explica que visitou o projeto para agendar uma visita dos alunos à Casa dos Rios para que eles conhecessem um ambiente educacional fora das paredes da escola. “Após umas perguntas sobre a saúde de nossos alunos e professores, propus ao Dan uma oficina para nossa docência, para reimaginar a escola como o ambiente do futuro que queremos”, explica ela.
Leia mais:Por sua vez, no início da oficina, Dan Baron resumiu que os dois desafios principais diante de um futuro em chamas no mundo são cultivar a calma e a esperança em tempos de pânico e pessimismo.
Os 12 participantes foram organizados para estimular um ambiente dialógico. Cada pessoa sentou em uma roda de duplas para cochicharem sobre seu desafio pessoal prioritário na sala de aula e sua maior qualidade para transformá-lo.
“Com todas as duplas cochichando simultaneamente, criamos tempo dialógico e a intimidade para criar laços de confiança e empatia. Em 30 minutos, geramos um ambiente escolar de escuta, cuidado e solidariedade”, celebra o arte-educador.
Depois, as duplas se transformaram em estátuas humanas para ler no corpo de seu par seu jeito de comunicar. Depois, usaram dança coletiva para resgatar suas raízes ribeirinhas e camponesas. “Sem palavras, todos perceberam quanto todo ser humano é artista plástico, ator e plateia, dançarino e coreógrafo; e que as artes podem cultivar autoconsciência e autoconfiança coletivas”, resume Dan Baron.
Em grupos de quatro, os professores contaram a história da maior transformação de suas vidas, captada num ‘objeto íntimo’. Em rodas de perguntas, cada grupo aprendeu de cada história e depois somou os objetos em um objetivo coletivo. “Nesse processo de escuta e criação, cada voz tem espaço, cada participante está sentindo o apoio de arriscar, oferecer e responder a perguntas inéditas, se conhecendo e aprendendo como criar um ambiente de democracia participativa”, sintetiza Dan Baron.
Na roda final de cochichos, cada dupla ‘desabafou’ sobre a falta de apoio e de cuidado do Estado para lidar com as múltiplas crises de choro, desmaio, vômito, depressão e insegurança nos alunos, sofrendo ‘ansiedade climática’, e a falta de tempo na vida do professor para descansar e preparar aulas criativas.
Na roda de reflexão final, todo grupo comentou quão rápido as quatro horas da oficina passaram, e por que razão. “Cada um de nós estava proativo, o tempo inteiro”, relembra ele.
O próximo passo é cultivar viveiros de legumes, frutas, plantas medicinais e peixe na escola como projeto coletivo, comunitário. “Não paro de sonhar sobre a escola como viveiro”, diz a diretora Cristina Arcanjo.
Este é o motivo pelo qual o Instituto Transformance oferece a formação solidária, na ausência de uma política pública de reimaginar educação, em particular na Amazônia.
“Mesmo com olhos ardendo e gargantas inflamadas, os gestores dos governos municipal, estadual e federal se calam. Ou pior, defendem o modelo de progresso que causa a seca na Amazônia e as inundações do Rio Grande do Sul. Temos de demonstrar que uma solução barata já existe: eco-pedagogia através de nossas artes”, resume Dan Baron.