São os joelhos — com os tornozelos e os quadris — que suportam o peso do corpo quando caminhamos, subimos alguns lances de escada ou ficamos em pé. De tão solicitada, é uma articulação propensa a lesões e não é difícil encontrar alguém com dores ou inflamação na região, o que impacta a qualidade de vida.
E o equilíbrio do fêmur, tíbia e patela, dos ligamentos e músculos próximos só é possível com trabalho de mobilidade, flexibilidade e fortalecimento. Esse último pode surpreender muita gente, mas, sim, o treinamento de força — inclusive, com agachamentos — é importante para a saúde dos joelhos, tanto para quem tem problema na estrutura, por conter um avanço, como para quem não tem queixa alguma.
“O fortalecimento garante que impactos, como saltar e andar, sejam absorvidos pela musculatura. Caso contrário, não é possível compensá-los e a estrutura óssea sofre”, explica o personal trainer Caio Signoretti. As áreas de atenção são o core, considerado o centro do corpo, e os membros inferiores. Isso quer dizer que estabilizadores de coluna, ombros, lombar, posterior de coxa, quadríceps, adutores e, principalmente, glúteo médio têm importância direta nos joelhos.
Leia mais:Para tal, são recomendados abdução de quadril (movimento de abrir as pernas) e agachamentos e variações — exercícios muito completos. “O problema é fazer da maneira errada”, reforça. Atenção à execução incorreta e ao excesso de carga. “Isso porque, com muito peso, aumentam as chances de errar a técnica”, justifica. O ideal é, primeiro, treinar o movimento com o peso do corpo e adicionar sobrecarga aos poucos.
“O exercício físico não trata nem cura, ele previne”, aponta. Justamente por impedir um agravamento, a prática ajuda a aliviar dores. “É importante ressaltar que não é normal sentir dor. Deve-se buscar ajuda profissional assim que perceber incômodo intenso ou contínuo”, recomenda.
Desde pequena, a estudante Julia Santos, 20 anos, tem menisco discoide — uma malformação no menisco, que fica na parte mais externa do joelho. A condição compromete a proteção da estrutura, mas não dói. Em 2019, ela se machucou fazendo um passo simples de balé, modalidade que pratica há mais de dez anos. Após meses de tratamento, conseguiu retomar a musculação na academia. Com os cuidados a mais em relação à execução, sente-se mais segura ao dançar, realizar movimentos no treino e atividades do cotidiano.
Preparação
A fisioterapeuta Walkyria Fernandes, especialista em ortopedia e traumatologia desportiva, afirma que é normal o desgaste da cartilagem com o envelhecimento e corrobora que a fraqueza muscular, junto a patologias como as de Julia, são os principais fatores que antecipam o processo. “Os ligamentos têm função estática e os músculos, dinâmica, sempre que nos mexemos. Por esse motivo, é preciso ‘acordar’ a musculatura. Na fisioterapia, esse fortalecimento é feito em uma angulação de proteção para, depois, o paciente seguir com a manutenção na musculação.”
E quais profissionais buscar quando algo não parece certo com os joelhos? Dores intensas e contínuas requerem consulta com médico especialista, que direciona para exames de imagem. Queixas leves e eventuais podem ser tratadas por um fisioterapeuta desde o início. Algumas das complicações mais comuns são tendinite patelar, síndrome do trato iliotibial (síndrome do corredor) e artrose. O diagnóstico define o protocolo de tratamento.
É que, conforme Walkyria, nem sempre a causa da dor nos joelhos vem dos próprios joelhos. A coluna e os quadris têm influência. Por esse motivo, essas regiões também passam por avaliação. “Examinamos a mobilidade da lombar e o encaixe da pelve. Temos um teste para cada músculo, que, ao final, indicará se há coordenação dos joelhos. Cada dor está relacionada a uma estrutura diferente. Se envolve trauma ou se o paciente é atleta, observa-se se houve ruptura de ligamento, por exemplo”, esclarece.
Uma sessão costuma incluir movimentos de girar os quadris, esticar e dobrar pernas com movimento total, sem comprometer a amplitude, e estender tornozelos. Outro ponto é que o atendimento individualizado permite orientar um trabalho específico para as atividades do dia a dia de cada pessoa.
Ainda de acordo com a fisioterapeuta, mudar o calçado ou usar uma palmilha para ganhar altura não resolve nem melhora a saúde dos joelhos. “Pode ser que a pessoa tenha uma pisada mais para dentro, mas é porque o corpo dela já se acostumou. Se não sente dores, tudo bem. Mexer no calçado poderia, em tese, sobrecarregar o joelho”, acrescenta.
(Fonte: Correio Braziliense)