Marabá se tornou a cidade que padece nas linhas de ônibus e, como era de se esperar, a audiência pública sobre o transporte público de Marabá na manhã desta quinta-feira (26), no Plenarinho da Câmara Municipal, rendeu duradoura discussão e críticas de representantes da comunidade e estudantes universitários. Entre os principais pontos levantados, estão a concorrência desleal com transportes alternativos, a falta de integração e a necessidade de melhorias na qualidade do serviço da empresa Integração.
Estudantes universitários compartilharam suas experiências de locomoção com rotas universitárias inadequadas e falta de horários regulares. Com propriedade sobre o assunto, eles defenderam o passe livre, argumentando que grande parte dos estudantes é de baixa renda e enfrenta desafios financeiros consideráveis.
“Seis rotas foram cortadas e, agora, muitas das aulas, que eram para encerrar às 18 horas, acabam uma hora e meia antes. Mas, nem todos os professores se compadecem com nossa realidade e, por isso, acabamos recebendo falta”, relatou Vitória, estudante de agronomia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
Leia mais:Seu colega de turma, Afonso, também fez uso da tribuna e aproveitou para citar que uma corrida de aplicativo da Nova Marabá ao Campus 3 da universidade custa, em média, R$ 25,00. O que, para ele, é fora de cogitação, considerando que não tem dinheiro nem para pagar o Restaurante Universitário no valor de R$ 2,00.
E AS AUTORIDADES?
A concorrência desleal com transportes alternativos, incluindo serviços clandestinos, foi um dos problemas mais urgentes discutidos. O vereador Coronel Araújo foi incisivo em suas palavras e, durante sua avaliação, classificou a situação como “muito crítica”.
O representante demonstrou uma clareza impressionante ao levantar questões sobre o conhecimento do proprietário da empresa de ônibus em relação à concorrência desleal. Ele também questionou se, do ponto de vista empresarial, o proprietário consideraria a viabilidade de estabelecer seu negócio em um município onde a competição com o transporte público tradicional é tão desigual.
“Não conheço município que tenha tantos transportes alternativos, sem contar os clandestinos. Não quero culpar só o Executivo, mas ele é o responsável pela administração do transporte público. Creio que precisa de vontade política do gestor, que precisa se preocupar com a qualidade do transporte”, levantou.
A integração do sistema de transporte público também foi destaque na audiência. O presidente da Câmara, Alecio Stringari, ressaltou a problemática persistente do transporte coletivo na cidade, observando que, embora diversos governos tenham tentado resolver o problema, o cenário não parece melhorar.
Mas, os esforços do prefeito em subsidiar a empresa de transporte foram citados por ele, bem como palavras de esperanças em relação ao novo Terminal de Integração, cuja conclusão é prevista até o final do ano.
“Estou nessa Casa desde 2009 e o transporte público não deixou de ser problema em Marabá. Realmente, as várias modalidades alternativas que temos causam um problema difícil de resolver. Vi sempre os governos tentando solucionar essa situação. Agora, o prefeito Tião passou inclusive um subsídio mensal à empresa para diminuir os custos negativos”, relatou.
DESAFIOS E ESPERANÇAS PARA O FUTURO
O secretário de Viação e Obras Públicas, Fábio Moreira, foi outro que citou a construção do Terminal de Integração, aproveitando para enfatizar que a obra está próxima da conclusão. Ele aposta que ela poderá trazer uma melhora significativa para o transporte público na cidade, beneficiando principalmente os usuários.
“As obras foram iniciadas, mas a empresa teve problemas e abandonou. Marabá fez outra licitação e a obra tomou o rumo, está com 90% pronta e até final de dezembro deste ano estará concluída”, garantiu.
Jair Guimarães, secretário de Segurança Institucional, lembrou que em 2019 a TCA Nassom passou por um processo de caducidade. Citando alguns dos desafios enfrentados pela empresa Integração, que assumiu o serviço após a saída da empresa de transporte, ele ressaltou que, na época, não existiam os aplicativos de transporte por aplicativo e que apenas três modalidades de transporte estavam disponíveis.
“A empresa poderia levar 1 milhão de passageiros por mês e seria autossustentável. Na época, não havia aplicativo de quatro rodas e nem de duas rodas. Só havia três modais de transporte e nenhuma ameaça de pandemia.”, levantou, na tentativa de comparar o período atual e o antigo.
Jair também mencionou suas reuniões com a Unifesspa para discutir a rota universitária que atende tanto a federal quanto a Universidade do Estado do Pará (UEPA), ressaltando que esta última rota está operacional. Ele explicou que diversos ônibus levam os estudantes ao Campus I, onde a passagem é carimbada, permitindo que eles continuem sua jornada até os Campi II e III sem custos adicionais.
“Os alunos da Uepa contam com um sistema de cartão virtual que permite duas horas de viagem para chegar à universidade. Esse sistema tem funcionado eficazmente, proporcionando mais acessibilidade e comodidade aos estudantes”, mencionou.
O OUTRO LADO
Diretor da Integração, Clécio Marcio, trouxe o outro lado da moeda, detalhando os desafios enfrentados pelo sistema de transporte coletivo em Marabá. Ele destacou a concorrência de serviços alternativos, a falta de infraestrutura exclusiva para ônibus na cidade como obstáculos significativos e revelou que serão investidos mais R$14 milhões no ano de 2024.
O representante, que veio de Anápolis, em Goiás, para assumir a gestão do serviço, confessou que quando chegou ao município paraense para investir R$ 40 milhões de reais, não imaginava que seria tão complicado.
“Minha parte da culpa eu sei. Sei onde estamos falhando. Espero que os demais também saibam as suas”, disse, acrescentando que, nos próximos 15 dias será realizada uma avaliação e, consequentemente, uma solução aos pontos mais críticos.
O diretor também apontou a falta de vias exclusivas para ônibus e os congestionamentos frequentes nas pontes da cidade como desafios que a empresa enfrenta. Além disso, esclareceu que a Integração não recebe subsídios significativos do município, mas sim um complemento de receita para subsidiar passagens gratuitas, meia-passagem e benefícios a grupos especiais, e que a empresa investiu em tecnologia para aprimorar a qualidade do serviço.
“Em relação a ter transporte de qualidade, estarei à frente do serviço a partir de agora. Dos 20 anos de concessão, trabalhei em três anos. Estou sendo sincero com todos vocês. Existem falhas, sim, mas economicamente todos sabem que está inviável”, pontuou. (Thays Araujo)