Correio de Carajás

Dona Nazinha pariu seis, mas maternou vários filhos e 2 maridos

Natural do Ceará, com passagem pelo Maranhão, dona Nazinha revela como cuidou de tantos filhos e agregados e superou várias perdas, até dos maridos

Dona Nazinha, o bisneto Luís Bernardo e Lenita: a matriarca é referência para toda a família

Maria Nazinha Santos Lima, ou melhor, Dona Nazinha, de 77 anos, é o resultado das experiências que moldaram a sua história. Mãe de 6 filhos, trilhou uma jornada, de certa forma, solitária. Teve o primeiro aos 20 anos e, aos 27, na última gravidez, passou pela experiência da laqueadura.

Casou-se aos 17 anos, em Barra do Corda, interior do Maranhão, cidade em que morava com seus pais, que haviam migrado do Ceará durante sua infância. Veio para Marabá cinco anos após o seu marido que, cansado de trabalhar na roça, buscou nesta região uma oportunidade de vida melhor. Na época, Marabá já oferecia perspectivas promissoras, especialmente na construção civil, devido à expansão contínua da região.

Essa foi uma época difícil de sua vida, pois enquanto se dedicava na criação dos rebentos, o marido viajava frequentemente pelo Norte do país para acompanhar projetos das empresas em que trabalhava. Mesmo com o suporte financeiro do pai dos seus filhos, se viu enfrentando sozinha o peso emocional da maternidade.

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Nesse período, tentava suprir as necessidades básicas da família. “Fui mãe, fui esposa, fui lavadeira de roupa, fui passadeira, fiz um curso de auxiliar de enfermagem para ajudar a criar meus filhos. Então, eu acho que eu fui tudo”, acrescenta.

João Alves voltou 16 anos depois, quando Nazinha já estava casada com Jerônimo. Curiosamente, a mulher que cuidou de tantos filhos, por obra do destino, acabou recebendo em sua casa e cuidando também do ex-marido, que ficou doente algum tempo depois;

Sua história não é muito diferente da de tantas outras mulheres, que deixaram a feminilidade de lado para se entregar ao maternar.

Na psicologia, o termo maternar é empregado para descrever o ato de cuidar de crianças por mães ou outros responsáveis. Essa palavra destaca não apenas as tarefas práticas do cuidado, mas também o aspecto emocional envolvido. As pessoas maternais são aquelas que apoiam grandes causas, demonstram grandes preocupações e se importam plenamente com o bem-estar de outras.

Dona Nazinha vivenciou a maternidade de maneiras diversas, ultrapassando barreiras em suas múltiplas facetas de ser mãe. Ao longo da vida, experimentou a maternagem em momentos e formas distintas, reconhecendo o valor único de cada uma dessas experiências para sua jornada. “Ser mãe, ser avó é uma coisa maravilhosa, viu? Eu acho que Deus escolheu muito bem nós, mulheres, para o papel de mãe”, comenta.

Acolhimento

Nazinha criou seus filhos, participou da educação dos netos e bisnetos e acolheu outras pessoas em sua casa, em especial, Lenita.

O acolhimento é uma manifestação de cuidado e proteção oferecida a quem, embora não seja formalmente adotado, é recebido e incluído na família de outra pessoa.

Esse ato pode acontecer em diferentes contextos, um parente que assume a responsabilidade do cuidado do outro, ou em relações não sanguíneas, em que amigos desenvolvem laços afetivos profundos ao longo do tempo e acabam sendo considerados parte da família.

A envolvente ligação de confiança dessa relação foi construída ainda quando Elenita Rodrigues era só uma criança deficiente. “Ela entrou na minha vida porque brincava com minha filha mais nova, ela era engraçadinha, tinha o cabelinho lisinho. A mãe dela sempre vinha aqui para me ajudar com meus filhos. Os anos foram passando, a mãe faleceu, algumas coisas aconteceram e ela veio parar aqui em casa”, relembra.

A trajetória não foi tão simples como parece. Lenita já era uma mulher adulta, porém com os traumas e limitações, necessitava de cuidado, em especial, de companhia. “Somos só eu e ela. As meninas ficam aqui comigo, mas todo mundo tem compromisso. Sou eu e ela, é cara e coroa todo dia”, explica.

Dona Nazinha reconhece profundamente a necessidade universal de ser acolhida e amada. Para ela, isso transcende qualquer distinção. Com Lenita, essa verdade se torna tangível em seu cuidado quase infantil. Ela briga até por algo tão simples quanto almoçar, tentando fazer com certa paciência, pois é ciente das adversidades que enfrenta.

Emocionada, conta que tem pensado com mais frequência sobre o futuro da sua companheira e, vez ou outra, a questiona: “como você vai ficar quando eu fechar os olhos?”. Ela sabe que lidar com uma pessoa especial não é uma tarefa fácil. “Ela é uma pessoa boa, mas ela prende a gente. Eu era presa na minha na minha juventude por causa dos filhos e na minha velhice sou presa por causa dela”, destaca, enfatizando que nunca deixa de levá-la a todos os lugares que pode.

Entre lutos, lutas e o conforto dos netos

 

Ao experimentar o luto algumas vezes ao longo dos seus 77 anos, Dona Nazinha pode afirmar que a dor de perder um filho é realmente a maior que alguém pode sentir e não hesita em apontar que foram os dois piores dias de sua vida. “A minha maior alegria era ver um filho meu nascer e minha maior tristeza foi ter que enterrá-los”, relembra emocionada.

No inevitável ciclo da vida, é esperado que um filho siga adiante e enterre um pai. Mas para Dona Nazinha, a vida reservou uma dor incomensurável ao ter que enfrentar esse destino duas vezes. Em sua jornada, ela teve que se despedir não de um, mas de dois dos seus seis filhos.

O primeiro, ainda nos anos 70, veio a falecer por desidratação com apenas 6 meses e 12 dias de vida. “O tanto que eu lutei, mas não teve jeito”, recorda.

No entanto, a distinção da dor é marcante, a filha mais nova de Nazinha faleceu em 2011, após um grave acidente de carro. “A diferença é grande, porque o meu filho era um bebezinho, Deus o levou mas não foi por falta de cuidado, já minha filha foi de repente”.

Para ela, perder a Izana foi uma dor muito grande, porque além da saudade ela deixou duas filhas. Eu fiquei sem saber o que fazer. Depois de 4 anos o pai delas também faleceu. Nós ficamos sem chão”, comenta.

Atualmente, Dona Nazinha tenta contornar a saudade com a presença das netas e do bisneto, que moram com ela na mesma casa. E conta que a tamanha semelhança da neta mais velha com a falecida filha, às vezes, assusta, mas traz conforto.

Ao narrar as perdas que já teve na vida, Nazinha se emociona na frente dos repórteres

Alicerce

Hoje, avó de 13 netos e com 12 bisnetos, Nazinha fala que seu amor cresce de forma exponencial. “A gente ama os filhos, ama os netos em dobro, quando vêm os bisnetos o amor é triplicado”, declara.

Atualmente, a família está grande, espalhada em diferentes cidades e países, mas Dona Nazinha se mantém presente na vida de cada um. Agradece por ter feito parte da criação dos seus descendentes, ao contrário da sua própria experiência, em que criou os filhos sem rede de apoio. Seus filhos tiveram o prazer de tê-la por perto.

E ao observar sua descendência progredir, avalia que datas como o Dia das Mães ganham um significado mais profundo. “A gente acha que a vida é difícil, mas quando temos vontade e amor, ela flui”, finaliza.

(Mirella Carvalho é acadêmica de Jornalismo na Unifesspa e estagiária no Correio)