O nome dela é Delvira Araújo da Silva. Mas pode chamá-la de Joana ou, então, Marabá (se quiser embarcar na celebração lúdica criada pelo marketing da Prefeitura Municipal). O certo é que o café da manhã em comemoração aos 106 anos de aniversário do município, nesta sexta-feira, 5, parecia um evento político tradicional, com discursos melosos para lá e para cá. Mas, então, deram o microfone na mão dela. Pronto, Joaninha salvou a manhã.
Tia Joana falou logo depois do senador Zequinha Marinho e em seu discurso logo agradecendo a Deus por ainda estar viva e participar da festa dos 106 anos de aniversário de Marabá e também ao “homem que me meteu nessa encarrascada também”, disse, referindo-se à responsabilidade de falar em nome dos moradores mais antigos do bairro.
Ela também desejou saúde e felicidade ao prefeito Tião Miranda e ao governador Helder Barbalho, e disse que só não estava satisfeita totalmente porque sua amiga, Vanda Américo (presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá), não estava ao seu lado, entre as autoridades. “Por que ele não botou ela aqui, mais eu?”, questionou a tiazinha em tom de autoridade absoluta no evento.
Leia mais:Depois da escalação feita por Tia Joana, o público presente passou a pedir que Vanda saísse de sua cadeira, no auditório, e ficasse ao lado da octogenária. Rapidamente, a equipe do cerimonial da Prefeitura arranjou mais uma cadeira e Vanda foi recebido sob forte aplauso no palanque. “Eu tava aqui sozinha no meio desse horror de homem…nam, minha filha”, disse ela, feliz ao lado de sua amiga.
Só depois disso, de fato, Joana tratou de dar sua mensagem pelo aniversário de Marabá e saudou de filhos a bisnetos presentes. Pediu que lhe desejassem saúde, fortuna e felicidade.
Depois, disse que desejava saúde para a cidade de Marabá, porque “tem uma doença de enchente que afeta muita gente”.
Tia Joana pediu orações com medo de não estar viva no próximo aniversário de Marabá e terminou seu discurso simples com uma frase lacônica e com eco: “Obrigado, meu Deus!”.
Vanda, emocionada, agradeceu as palavras de Tia Joana e disse que a amizade de pessoas como ela fazem o trabalho e a vida valerem a pena.
Quando usou o microfone, alguns minutos depois, o governador Helder tratou de reconhecer que o discurso de Tia Joana foi o mais “bacana” que ouviu de todos, pela sinceridade, carinho, espontaneidade e simbolismo. Ele só não concordou com ela em um ponto, observando que não poderia dizer que não estará viva no aniversário de 107 anos de Marabá. “A senhora ainda viverá muitos anos aqui”, profetizou.
Tia Joana nasceu lá mesmo no Cabelo Seco, em 12 de setembro de 1934. Tem nove filhos e mantém um sorriso tão doce e contagiante no rosto que ninguém consegue ficar sério ou triste por perto. (Ulisses Pompeu)