Dois homens morreram após troca de tiros e quatro suspeitos foram presos. Nove armas de fogo, munições, celulares e rádios comunicadores foram apreendidos. Este foi o saldo de uma operação realizada pela Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (DECA), na Fazenda Mutamba, em Marabá, nesta sexta-feira (11).
A operação investiga o envolvimento de um grupo nos crimes de organização criminosa majorada, porte ilegal de arma de fogo, dano qualificado, furto qualificado, extração ilegal de madeira, incêndio e queimadas de área de preservação e desobediência a ordem judicial dentro da fazenda.
A operação foi chefiada pelo delegado Antônio Mororó, titular da DECA em Marabá. Sobre as duas intervenções policiais, ele foi direto: “Nós fomos recebidos a tiros”.
Ainda de acordo com o policial, o depoimento de dois dos quatro presos revelou que havia entre 12 e 20 homens armados na área onde a polícia fez a incursão para cumprir mandados de busca e apreensão, assim como mandado de prisão preventiva.
Leia mais:Além disso, dois dias antes, uma viatura descaracterizada da Polícia Civil, que foi até a área para fazer um levantamento prévio, foi alvo de atentado a bala. Inicialmente, os policiais imaginavam que os tiradores não sabiam que estavam atirando contra homens da lei, mas depois descobriram que os criminosos que estão no interior da fazenda sabiam muito bem o que estavam fazendo.
Ainda de acordo com o delegado, desde 2013 a situação na Fazenda Mutamba vem se agravando devido à organização criminosa instalada no interior da área de preservação ambiental. Esse grupo criminoso vem até mesmo extorquindo sem-terra que ocupam parte da área, cobrando taxas de R$ 1.400 para permitir que os sem-terra continuem na área.
Mas com a operação “Fortis Status”, que significa Estado Forte, essa prática criminosa foi cessada. Agora as investigações continuam no sentido de colher mais informações sobre a atuação do bando.
A operação da DECA contou com apoio de várias outas unidades policiais, inclusive do GRAESP, que enviou dois helicópteros para dar apoio na fiscalização aérea do local. Essas aeronaves continuam sobrevoando a área.
Delegado Mororó criticou os boatos de “chacina” contra camponeses, que circularam pelas redes sociais, assim que a operação foi desencadeada. O policial fez questão de frisar que os alvos da operação não são trabalhadores rurais.
Histórico
Não é de hoje que a Fazenda Mutamba tem sido alvo de ataques de posseiros, a maioria sem qualquer ligação com movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. O interesse maior dos invasores seria extrair madeira da reserva legal existente na propriedade.
Há, por outro lado, membros da Associação Rural dos Agricultores do Acampamento Balão III e IV e Associação Rural Terra Prometida.
Os ataques na Fazenda Mutamba resultam em roubo de madeira e também de gado, assim como ameaças a vaqueiros e outros funcionários da propriedade rural. Os invasores também já atearam fogo em pontes e atiraram em pneus. Nem mesmo a sede da fazenda foi poupada. Já houve destruição da sede.
Em março deste ano, o juiz da Vara Agrária de Marabá, Amarildo José Mazutti, decidiu que a posse da Fazenda Mutamba pertence à família Mutran. Determinou, com isso, que os membros das associações rurais Terra Prometida e Balão III e IV deixassem a ocupação.
No entanto, em maio, o ministro Cristiano Zanin, do STF, suspendeu a ordem de reintegração, determinando a observância de um regime de transição para remoção, conforme a ADPF 828.
Em abril, um grupo armado invadiu a fazenda e ameaçou funcionários que estavam fazendo limpeza de pasto. De lá para cá, não são incomuns os registros de crimes cometidos por posseiros dentro da área da Fazenda Mutamba. Agora veio o estopim.
(Chagas Filho)