Considerado, há muito tempo, o braço direito e coringa do prefeito Tião Miranda, o advogado Luciano Lopes Dias não ascendeu por acaso ao cargo de vice-prefeito de Marabá. A trajetória ao lado de Tião na seara política começou quando este ainda era deputado estadual e indicou Luciano para o cargo de presidente da Cosanpa. Foi a destacada atuação à frente de uma companhia inundada de problemas que provou sua capacidade de gestão para o serviço público.
Quando voltou ao cargo de prefeito, em 2017, Tião “tomou” Luciano do governo de Simão Jatene para que ele assumisse um grande abacaxi, à época: a Secretaria de Educação. Depois de pacificada a SEMED foi assumir o cargo de secretário de Saúde, de onde saiu para candidatar-se a vice-prefeito. Há pouco mais de um mês, divide a função com a de secretário de Saúde (novamente). A seguir, entrevista com ele, realizada na última sexta-feira, em seu gabinete na Prefeitura:
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Correio de Carajás: Podemos afirmar que a terceira onda da covid-19 não está mais em Marabá?
Luciano Dias: Não posso afirmar que a terceira onda não está em Marabá, porque esse é um dado muito restrito. Mas a nossa observação, quanto aos casos que temos aqui, é que já passamos pelas piores fases da covid-19. Em 2022, tivemos o maior índice de contaminação, mas o menor índice de internação hospitalar. Isso resulta em uma avaliação clara: a eficácia da vacina para que as pessoas diminuíssem a gravidade da covid-19. No Hospital Municipal de Marabá tivemos uma baixa pressão, em razão da eficácia da vacina, e um sentimento de que a terceira onda já se foi. Mas a gente não sabe o que virá. Essa é uma doença que veio pra ficar, é uma síndrome respiratória aguda grave, e a gente vai ter que conviver com isso, tomando os devidos cuidados sempre.
Correio de Carajás: Agora em março completamos dois anos de covid-19. Como está a atual situação do Hospital Municipal de Marabá em relação aos atendimentos de pacientes infectados?
Luciano Dias: Hoje está bem mais tranquilo. A pressão sobre o HMM aliviou profundamente. Temos um histórico desde o início da pandemia, e tivemos momentos de pressão absoluta, de 64 leitos disponíveis e 100% de lotação. Foram criados espaços dentro do HMM, diminuímos certos procedimentos, eliminamos 100% as cirurgias eletivas por um período, para cuidar exclusivamente de pacientes com covid-19. Hoje (sexta-feira, 11) estamos com 10 leitos de UTI e 6 ocupados, e 7 leitos de UCE e 4 ocupados. O número mostra que a vacina gerou uma boa imunidade, apesar do elevado índice de contaminação.
Correio de Carajás: Agora que as internações por covid-19 diminuíra, as cirurgias eletivas voltaram ao HMM?
Luciano Dias: Ainda não. Dentro do HMM a gente está fazendo cirurgias de emergência. Temos um hospital credenciado, que é o Santa Terezinha, que está realizando essas cirurgias eletivas. Por um curto período suspendemos as cirurgias eletivas, mas voltamos a oferecer. E não fazemos no HMM porque lá existe um maior índice de contaminação interna de covid-19. A gente prefere não fazer enquanto não tiver uma calmaria total em relação à covid-19, como estamos começando a experimentar a partir de agora.
Correio de Carajás: Ainda sobre o HMM, observou-se, nas últimas semanas, principalmente depois que você reassumiu a Secretaria de Saúde, que não tivemos grandes reclamações em relação ao atendimento. A mudança de gestão na SMS levou à diminuição de casos de covid-19 ou mérito da gestão do hospital?
Luciano Dias: Não é nem uma coisa isolada, nem outra. É um conjunto de fatores. Você acaba tendo influência de um tipo de gestão que você faz. Mas, digo que houve diminuição da pressão hospitalar sobre o servidor também. Nós tivemos no mês de janeiro um movimento que nunca houve, nem no auge da covid-19, com atendimentos absurdos. Então, isso acaba pressionando o hospital, pelo longo tempo de espera dentro daquele ambiente. Fico feliz de experimentar dias melhores dentro do HMM, e isso é o que nos alegra.
Correio de Carajás: Apesar da aparente tranquilidade no HMM, dias atrás os servidores estavam reclamando sobre a retirada dos 40% de gratificação de quem trabalha na ala covid-19. Ela não vai voltar?
Luciano Dias: Isso é superado. O motivo pelo qual foi conferida a gratificação de 40% é em razão do risco de contaminação e de vida. Você não paga a vida de ninguém com 40%, com 50%, com 100%. Mas foi uma gratificação, um valor que creditamos ao servidor até para que ele se motivasse a ajudar naquele período. Mas o motivo cessou. Com a vacina e a imunidade, não tinha mais motivação que gerou a gratificação, que era justamente o risco e a falta de imunizante.
Correio de Carajás: Falando sobre vacina, na medida em que as pessoas foram sendo imunizadas, recebemos vacinas para crianças. Mas a gente percebe muita dificuldade para imunizar esse público. Existe um planejamento específico para alcançar crianças não vacinadas?
Luciano Dias: Reconheço que há uma resistência. Vacinamos até hoje cerca de 3.500 crianças apenas, isso dá menos que 10% do total que a gente deve alcançar. Mas a Secretaria de Saúde vem buscando estratégias pra isso, como parcerias com a Secretaria de Educação, além de mutirões específicos para alcançar o maior número de crianças possíveis.
Correio de Carajás: Como está sendo a experiência de ser dois em um, tendo que conciliar a função de vice-prefeito e secretário de Saúde?
Luciano Dias: Isso está bem organizado e tranquilo. As situações pertinentes à vice prefeitura eu procuro tratar num ambiente diferente da SMS para não confundir as situações. Temos administrado bem. São duas atribuições que fazem parte do trabalho. Quando o Tião me chamou para reassumir a SMS eu não titubeei, faz parte do trabalho. Esse é o compromisso que sempre disse: nosso objetivo enquanto gestor é trabalhar por Marabá, não interessa onde. Vai ser feito da melhor maneira possível onde eu puder ajudar.
Correio de Carajás: Continuamos ouvindo a necessidade de descentralizar o atendimento hospitalar. Havia muitas sugestões de criação de uma UPA ou hospital no Cidade Nova, agora já se avalia no São Félix também. A gestão municipal já avalia uma dessas duas possibilidades?
Luciano Dias: Uma UPA ou um novo hospital é uma estrutura que ainda não temos condições de oferecer em razão do alto custeio. Precisamos de apoio do Ministério da Saúde, e não temos. O custeio é o que nos afeta. Nós gastamos uma média de 34% dos recursos na saúde, isso é muito dinheiro. O que nós temos definido é que iremos dar início à construção de um novo Pronto Socorro em Marabá. Um ambiente maior e mais espaçoso, para que possamos acolher as pessoas fora do HMM. Hoje temos um PS junto com o hospital e isso dificulta o ambiente, que já não é mais satisfatório. Temos um projeto aprovado na Vigilância Sanitária para que o mais breve possível possamos iniciar a construção, e aí sim teremos um hospital municipal e um pronto socorro para atender os casos de urgência.
Correio de Carajás: Na Atenção Básica, qual o maior dilema na atualidade?
Luciano Dias: O maior problema que temos é a necessidade de mais profissionais para a Atenção Básica. Isso é um fato, tanto que o Governo Federal tem lançado editais constantemente para a contratação do programa Médicos Pelo Brasil. Essa é uma grande necessidade. Marabá não tem seu quadro completo de médicos da Estratégia de Saúde da Família, por falta de profissional interessado em trabalhar na Atenção Básica. Esse é o nosso maior drama. Se um paciente for atendido adequadamente na Atenção Básica, com regularidade, ajuda a tirar um pouco a pressão dos ambulatórios e do HMM. A gente continua em busca de médicos, nosso dever é não deixar faltar. Mas, às vezes, esbarramos em alguns problemas, como na zona rural, onde não temos médicos fixos porque não há interesse do profissional em morar naquela localidade ou se deslocar mais vezes na semana.
Correio de Carajás: O Hospital Materno Infantil também tem demandas que precisam ser solucionadas. ?
Luciano Dias: Assim como o Pronto Socorro, o HMI é uma maternidade regional. Então, nós temos lá entre 400 e 500 partos mensais. E no HMI não se faz só parto, faz consultas, acompanhamento. O HMI é um hospital preparado, com profissionais capacitados para atender a população. Temos leitos de UTI Neonatal, UCI, para atender imediatamente os recém-nascidos. Hoje, o Materno está melhor do que meses atrás. Terceirizamos o serviço médico e a empresa que ganhou a licitação é responsável pela escala.
Agora em janeiro terceirizamos o contrato da clínica médica do HMI, e temos duas empresas trabalhando na gerência desse corpo clínico, e isso está fazendo com que não haja falta de profissionais. Terceirizamos, assim como no HMM, o atendimento clínico, ambulatorial e emergencial.
Correio de Carajás: Em relação à enchente, pelo menos nos últimos dez anos não tivemos uma tão demorada e que mantém as famílias nos abrigos por mais de 60 dias. Isso tem um custo muito alto para o município, não é?
Luciano Dias: Sem dúvidas o gasto é alto, mas o mais preocupante é o custo social. Há muitos anos não se via uma enchente começar em janeiro. Não posso precisar, mas já foi gasto uma importante soma de recursos na construção, manutenção de abrigos, aquisição de cestas básicas, recarga de gás, colchões, material de limpeza, higiene, para que as pessoas possam ficar acomodadas da melhor maneira. Não importa o tipo de abrigo, não é a casa do cidadão. A casa dele, por mais simples que seja, é o lar dele. A gente aguarda que o rio diminua. Sabemos que todos os anos a enchente vem, mas nunca sabemos quando começa e quando termina. (Ulisses Pompeu e Ana Mangas)