Correio de Carajás

Documentário de Marabá é selecionado para festival nacional de cinema

Documentário produzido em Marabá concorre ao prêmio de melhor filme na mostra Olhar Panorâmico

O documentário de curta-metragem “Como estamos nós, Barruel”, de Marcelo Barbalho, foi selecionado para o 7º Festival de Cinema da Amazônia – Olhar do Norte. A obra concorre ao prêmio de melhor filme na mostra Olhar Panorâmico. O festival, um dos mais importantes da região Norte do país, acontecerá entre os dias 17 e 21 de setembro, no Teatro Amazonas, em Manaus (AM). Logo após o festival, “Como estamos nós, Barruel” será exibido gratuitamente na plataforma Itaú Cultural Play, entre os dias 22 de setembro e 11 de outubro. O documentário de Marcelo Barbalho parte do livro “Marabá: cidade do diamante e da castanha”, de H. D. Barruel de Lagenest, que viveu em Marabá em 1955.

Na obra, Barruel retrata a cidade de forma crítica, apontando a “exploração do homem pelo homem” como um dos principais problemas da região. Marcelo Barbalho procura dar uma resposta ao sociólogo francês, mostrando aspectos da cidade hoje, setenta anos após a publicação do livro. “Como estamos nós, Barruel” foi realizado com apoio do Edital de Audiovisual Fomento Inciso I – Lei Paulo Gustavo Marabá, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Fundação Casa da Cultura de Marabá.

A seguir, o diretor fala sobre seu primeiro filme e sobre a importância para o audiovisual de Marabá estar representado em um festival nacional de cinema.

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Qual é a importância de participar de um festival nacional de cinema?

É muito gratificante ter um filme selecionado para um festival nacional. Isso representa o reconhecimento de um trabalho coletivo – câmera, som, edição, montagem, pesquisa, produção. Participar de um festival de cinema também pode ser importante para conhecer e trocar informações com cineastas de diversas partes do país.  Além disso, o fato de um festival de cinema exibir um filme realizado em Marabá, e por pessoas que atuam na região, pode contribuir para dar visibilidade e fortalecer a produção audiovisual local. Percebo que neste momento há várias pessoas com interesse no audiovisual. O Edital de Audiovisual da Lei Paulo Gustavo, organizado pelo governo municipal, possibilitou a produção de uma nova safra de filmes. No entanto, o circuito de exibição dessas obras é muito restrito. Um circuito capaz de colocar em contato os realizadores e o público para debater essa produção me parece fundamental para o crescimento do audiovisual em Marabá. Também faz falta na cidade um festival que abra espaço para a diversidade da produção local, com maior variedade de temas e gêneros cinematográficos.

Marcelo Barbalho: “Como estamos nós, Barruel” mostra como a leitura do livro influenciou a minha visão sobre a cidade”

Como foi o processo de produção do documentário?

“Como estamos nós, Barruel” é meu primeiro trabalho como realizador de cinema, e foi um grande aprendizado. Percebi que, mesmo com toda a preparação – roteiro, escolha de equipamentos e equipe –, o contato com a realidade filmada pode mudar radicalmente o planejamento inicial. Por exemplo, estavam previstas entrevistas com três pessoas. No final, não há nenhuma entrevista – apenas Emannuel Wambergue, o Manu, aparece em cena, posando para um retrato filmado, mas sem dizer nenhuma palavra. A narrativa é conduzida por uma narração em off, feita por mim, um recurso que surgiu durante a montagem. Enfim, a realidade se impôs e o documentário foi feito na edição, no processo de montagem, que demorou seis meses para ser concluído – um enorme contraste em relação ao período de filmagem: apenas três dias, e com uma equipe reduzida, composta por mim, Ricardo d’Almeida (câmera) e Itair Rodrigues (som). Eu tenho especial interesse pela forma, pela linguagem do documentário. Talvez até mais do que pelo tema. Acho que isso contribuiu para as diversas tentativas de montar o filme, algumas delas frustradas, que ocorreram ao longo do processo.

Por que você decidiu realizar um documentário e não uma ficção?

O documentário é uma escolha natural para mim. Sou um documentarista, algo que está ligado à minha formação como jornalista e fotógrafo de imprensa. Nessas atividades, existe uma relação direta com o real. O real é a matéria-prima do repórter, do fotojornalista e do fotodocumentarista. Então, realizar um documentário cinematográfico é uma extensão da minha trajetória profissional. No entanto, não vejo o documentário como uma reprodução fiel da realidade, mas como uma representação. “Como estamos nós, Barruel” aborda a minha relação com Marabá e ao mesmo tempo mostra como a leitura do livro de Barruel influenciou a minha visão sobre a cidade. O filme, portanto, não é uma representação fiel de Marabá, não é uma sentença sobre a cidade. É uma obra produzida sob uma perspectiva bastante particular, marcada pela minha subjetividade e por uma série de escolhas técnicas e estéticas. O documentário, como um filme de ficção, é carregado pela subjetividade do diretor. Jean-Luc Godard dizia que o documentário tende à ficção e a ficção tende ao documentário. Ou seja, não há uma separação absoluta entre eles.

 

Qual foi o papel do edital da Lei Paulo Gustavo na realização do filme?

O edital teve um papel central na realização do documentário. Esse mecanismo público de fomento, quando bem executado, contribui de maneira decisiva para o desenvolvimento do setor audiovisual, para a preservação da memória coletiva e para a construção de uma identidade cultural. O edital também permite que mais pessoas se aproximem da produção audiovisual. É o meu caso. Graças a ele, me aproximei pela primeira vez do cinema, não como espectador, mas como realizador. Dificilmente teria espaço em modelos tradicionais de financiamento, voltados para o retorno comercial.

Para maiores informações:

Marcelo Barbalho: (85) 98802-0030 | leitebarbalho@gmail.com