O nosso querido e saudoso Ariano Suassuna foi mais longe, ao dizer que “Quem gosta de ler, não morre só”. O ato de ler, a leitura tem essa força e esse poder.
Começo dizendo que o hábito de ler se encontra tão raro, quase escasso, como bem trouxe a recente pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” realizada pelo Instituo Pró-Livro (2024). Os dados coletados demonstram que mais da metade da população brasileira não leu um livro nos últimos 3 meses anteriores à pesquisa. Muitos alegam falta de tempo, dificuldade de concentração, falta de influência, outros simplesmente dizem: NÃO GOSTO DE LER!
A verdade é que o brasileiro está lendo cada vez menos e um dos principais responsáveis por essa diminuição é o uso das telas. Com os estímulos que os recursos tecnológicos e redes sociais oferecem ao leitor, é muito difícil competir. As telas contribuem com a diminuição no interesse pela leitura na medida que afeta a concentração e sendo a leitura, por excelência, uma atividade silenciosa e solitária, a competição se mostra desleal.
Leia mais:É preciso recuperar o gosto pela leitura. É urgente que a Literatura seja tomada como uma arte útil, que mesmo não tendo uma função prática imediata, uma vez que ela não constrói edifícios ou pontes, por exemplo, mas, por outro lado, é a arte que chega mais longe nos conflitos e dilemas humanos. A Literatura, por meio da linguagem, nomeia os sentimentos humanos.
Não precisamos ler por um resultado imediato. Leia por entretenimento, pois a Literatura pode ser uma atividade prazerosa. E mesmo lendo apenas por diversão, como passatempo, a leitura sempre nos dará retorno. Nos fará ter uma melhor compreensão do mundo, ampliará nosso ambiente comunicativo. Nos permitirá nomear nossos sentimentos, expor nossas ideias… e isso, pode ter certeza, ISSO É MUITO!
A Literatura nos salva! Eu digo isso por experiência própria, pois quando precisei morar e trabalhar em outra cidade por 6 anos, longe da minha família e dos meus amigos, a Literatura me salvou, porque, como diz o poeta, quem lê nunca está sozinho. A leitura me salvou de desenvolver um transtorno de ansiedade; a leitura evitou que eu me sentisse sozinha, posso dizer que, sobretudo e principalmente, o hábito de ler me trouxe a companhia de Clarice, Machado, Érico, Guimarães, Aluísio, Lygia… e muitos outros que não me deixaram sozinha.
Caminharam comigo alguns dos mais complexos e encantadores personagens da Literatura…Macabéa, Capitu, Bentinho, Bertoleza, Rita Baiana, Riobaldo, Diadorim e tantos outros. Eles estiveram comigo, ao meu lado…e com eles eu sorri e chorei muitas vezes. Sim, a Literatura tem esse poder, porque é lá que os grandes e principais sentimentos e dramas humanos são abordados. E lá que o ciúme é experimentado até a última gota, eu vi isso por meio de Otelo (Otelo, Moro de Veneza – Shakespeare); foi lá que vi o tédio arrastar uma mulher até o fim de seus sonhos e ilusões (Madame Bovary, Gustave Flaubert); vi a pobreza e a indigência social de uma nordestina (A hora da Estrela, Clarice Lispector); vi uma família inteira fugir da seca e da miséria (Vidas Secas, Graciliano Ramos).
Assim como eu, milhares de pessoas, durante a Pandemia da Covid-19, se refugiaram na Literatura. Buscaram na arte o conforto necessário para enfrentar, driblar o medo, a insegurança e o distanciamento forçado e necessário a que doença nos obrigou. Eu posso afirmar, sem medo de errar, que a Literatura acolheu, amparou e salvou muita gente durante aquele período difícil.
Lembra aquela frase clichê: ler é viajar sem sair do lugar! Sim, ela é verdadeira! Imagine você, por meio de um romance de Jane Austen ou das irmãs Brontë, conhecer a Londres do século XIX, seria uma viagem histórico-cultural e no tempo. Imagine um passeio com os escritores contemporâneos Elena Ferrante e Sandro Veronesi, pelas cidades italianas de Roma, Nápoles, Milão.
Você poderia experimentar, por meio da Literatura, agradáveis viagens muito bem acompanhado (a); conhecer a luta pela conquista dos primeiros direitos civis do povo negro nos EUA, além de refletir sobre violência de gênero e conquistas femininas, lendo uma incrível e histórica narrativa de Alice Walker ou Toni Morrison (escritoras norte-americanas).
São tantas as vozes femininas na Literatura que bradam temas como casamento, maternidade, trabalho… é possível uma jornada de autoconhecimento pela palavra, como fez a dona de casa, mansa, submissa e sacrificial, Valéria, personagem de Alba de Céspedes (escritora ítalo-cubana), em Caderno Proibido. É a escrita como expressão da liberdade, como ato de sobrevivência. Eu me atrevo a dizer que o citado romance deveria ser uma leitura “obrigatória” para meninas e mulheres, pois, assim como Valéria, é sempre tempo de refletir, questionar os papeis sociais desempenhados e destinados a uma mulher.
Imagine conhecer a América do Sul na companhia de Gabriel García Márquez (escritor colombiano) e Isabel Allende (escritora Chilena/norte-americana). O deleite que seria experimentar o realismo mágico destes escritores, ao passear por um vilarejo que viveu 2 anos ininterruptos sob uma chuva torrencial (Cem anos de Solidão); conhecer uma menina chamada Clara que ficou 10 anos sem falar e somente voltou a pronunciar uma palavra quando anunciou seu casamento com um homem que ela não conhecia (A Casa dos Espíritos). Ah, caro leitor, seria uma aventura inenarrável por acontecimentos maravilhosos que simplesmente não têm explicação, eles acontecem.
A Literatura sempre pautou os dilemas humanos e problemas socias, inclusive se antecipou a muitos deles, como a pedofilia e adultização, este último em pauta nos derradeiros dias. Lolita, publicado em 1955, por Vladimir Nabokov (escritor russo-americano), já abordava esses temas que são tão caros e sensíveis. O narrador é um protagonista cínico, hábil manipulador que se envolve com uma adolescente e ao longo da narrativa tenta convencer o leitor que foi “seduzido” por Lolita, uma menina de 12 anos (Tem mais atual?).
Se você, meu caro leitor, não quer fazer essa viagem pela Literatura Clássica, viaje pela Literatura de Entretenimento, romances policias. Aqui você vai perder o fôlego com narrativas carregadas de suspense, reviravoltas inacreditáveis. A ficção contemporânea tem florescido no cenário nacional, sobretudo, os livros de suspense, mistério, thriller psicológico. Quem ainda não assistiu ou ouviu falar das séries e filmes que são adaptações de livros do escritor brasileiro Raphael Montes, criador e roteirista das séries Bom dia, Verônica e Dias Perfeitos? Diante disso, eu pergunto: por que não beber direto na fonte? O livro, de forma incrível, estimula nossa imaginação e criatividade, pois é entre uma página e outra que construímos lugares, pessoas, cheiros e sabores.
Eu poderia trazer aqui inúmeros motivos para alguém ler… sim, existem centenas, milhares. Mas eu direi apenas: LEIA, PORQUE LER É MUITO BOM! Até a próxima, querido e caro leitor!
Aqui você encontrará semanalmente ensaios, dicas de leitura, indicações de autores, faremos juntos um tour pelo mundo literário!
* Mari Hipólito, leitora voraz, por amor e vocação. É graduada em Letras pela UFPA e bacharela em Direito pela Unifesspa