Embora o Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves tenha prazo legal de 10 dias para confecção do laudo pericial sobre a morte de Dayse Dyana Sousa e Silva, de 35 anos, a equipe que realizou a perícia está absolutamente convencida de que não houve suicídio: ela foi assassinada.
Após periciar o corpo da vítima e também a casa onde ela morava com o acusado, o agente do Detran Diógenes dos Santos Samaritano, ficou claro para os peritos que Dayse foi agredida pelo companheiro e, depois, quando estava desacordada, foi jogada da janela do segundo piso da casa em que moravam.
Diógenes e sua defesa sustentam que a vítima se atirou da janela, mas as evidências encontradas pela perícia e também o histórico de violência de Diógenes apontam para mais um caso de feminicídio na região. A tragédia ocorreu na manhã do último domingo (31) e, embora tenha acontecido em Parauapebas, deixou Marabá chocada, pois o casal é bastante conhecido na cidade, local onde o corpo dela foi velado e sepultado ontem (1º).
Leia mais:Ouvido com exclusividade pelo Jornal CORREIO, na manhã de ontem, o perito Pablo Castro, do CPC Renato Chaves, explicou que a equipe foi acionada na manhã de domingo para periciar uma suposta cena de suicídio, onde a vítima teria se jogado da janela do segundo piso, mas ao chegar à residência do casal, na Rua Canindé, no Bairro Parque dos Carajás, Pablo encontrou outra situação.
“Iniciando os exames de praxe a gente percebeu que, na realidade, não era uma cena de suicídio, mas sim uma cena repleta de sinais de luta corporal, com muito sangue, uma cena de bastante violência”, explica o perito, acrescentando que os vestígios indicavam que a vítima tinha sido atingida, com um objeto contundente ou mesmo com as mãos. “No corpo da vítima nós tínhamos vários elementos indicativos de agressões e que realmente não se tratava de uma precipitação, ou seja, ela não se jogou; não se tratava de um suicídio”.
Dentro do prazo legal ainda serão realizados vários exames complementares, como confronto genético, junto com o laudo necroscópico, para fornecer um norte para o inquérito policial. “Mas essas evidências que eu mencionei são bem claras para perícia”, completa.
O perito fez questão de frisar que o corpo apresentava algumas lesões que realmente indicam que a vítima foi atingida antes da queda. “Nós acreditamos também que, pelo padrão de queda, ela já estava desacordada no momento da queda. Isso é um ponto importante porque ela não manifestou nenhuma reação de defesa, que é natural do ser humano numa situação dessas. A dinâmica mais provável é que ela tenha sido golpeada”, reafirma, acrescentando que o corpo da vítima tinha marcas nos braços e marcas no pescoço que indicam tentativa de esganadura. “Fica muito evidente que não se tratou de um suicídio”, conclui.
Mais evidências
A declaração do perito dialoga com o que disse o delegado Gabriel Henrique. Segundo o policial, na casa do casal, os peritos encontraram facas escondidas debaixo do tapete, cortinas e toalhas sujas de sangue. Isso praticamente confirma que houve briga e agressão física antes de Dayse ser jogada pela janela.
O VHR das câmeras de segurança da residência foi levado, o que mostra, segundo a polícia, que o agente tentou descaracterizar a cena do crime para sustentar que a mulher cometeu suicídio. A polícia, no entanto, já solicitou as imagens de câmeras de segurança de casas vizinhas do casal, assim como câmeras nas proximidades do escritório dos advogados dele. “Quero saber como ele saiu de casa e como chegou ao escritório dos advogados dele”, frisa Gabriel Henrique.
Outro indício que descarta suicídio é o fato de o corpo estar muito perto da parede da janela. “Ali é um corredor, com pouco espaço. Se ela tivesse pulado, como ele [Diógenes] alegou, ela teria caído em cima do muro. Outra coisa, a altura da janela é de uns quatro metros. Uma queda dali iria causar ferimentos, como fratura, mas dificilmente a pessoa morreria na hora”, ressalta Henrique.
Comportamento do acusado contribuiu para prisão
Um dos detalhes que mais chamaram a atenção da Polícia Civil foi o comportamento de Diógenes Samaritano. Ele não chamou socorro ou comunicou a polícia, assim que a mulher supostamente caiu, e ainda fugiu do imóvel levando o filho.
“Não houve qualquer reação de sentimento da parte dele. Isso foi mais uma soma para descartamos a possibilidade de suicídio. A partir daí, mobilizei os investigadores que estavam de plantão e também pedi apoio da Polícia Militar e passamos a realizar diligências para tentar localizá-lo”, frisa o delegado Gabriel Henrique.
A autoridade policial relata que ele resolveu passar em frente ao escritório dos advogados do agente e observou um movimento. Isso chamou a atenção dele, que deduziu que Diógenes poderia estar ali.
“Eu vi que a porta estava fechada pelo lado de dentro. Eu parei meu carro e fiquei observando. Avisei a equipe que ia montar campana lá e que ia precisar de reforço. Passado algum tempo, por volta de 2 horas, um dos advogados saiu e o outro ficou observando o movimento da rua e plotou meu carro. Ao fazer isso, eu liguei para o advogado que tinha saído e avisei que ia ficar lá e que ia entrar. Nessa hora eu já comecei a tentar contato com o juiz de plantão para solicitar mandado de busca e apreensão. Pouco depois o advogado veio, conversou comigo e pediu para que seu cliente não fosse custodiado na Carceragem do Rio e para que ele se apresentasse só hoje (ontem) na delegacia. Eu concordei com a primeira exigência, mas neguei a segunda e disse que ia prendê-lo ainda ontem. Ele então permitiu que eu entrasse no escritório e o prendi”, acrescenta o delegado.
Ainda de acordo com ele, Diógenes Samaritano foi conduzido por ele em seu carro particular, junto com o advogado. Durante o trajeto até a delegacia, ele falou apenas onde o filho estava.
Repercussão do caso
Diógenes Samaritano é muito conhecido em Marabá e Parauapebas onde foi agente de trânsito do DMTU e do DMTT. Atualmente ele é agente do Detran em Parauapebas. Como servidor público, sua ficha é extremamente manchada, respondendo a processos por corrupção e abuso de autoridade, além dos processos que respondia por agressão contra Dayse, sendo inclusive condenado em um dos casos.
Após a notícia que Dayse tinha se jogado pela janela do segundo piso da casa onde morava, a família dela não teve dúvidas de que a mulher foi morta pelo marido, que sumiu com o filho do casal. Pelas redes sociais, a irmã dela divulgou o caso e pediu a quem soubesse do paradeiro dele que informasse à polícia.
“Foragido matou minha irmã – Redondezas de Parauapebas quem souber onde está ligue para a Polícia. Matou minha irmã, jogou de cima da casa, funcionário do Detran, Diógenes Samaritano. Já tem várias denúncias em aberto”, postou Stephannye Lemos, irmã da vítima, em seu Facebook.
Dayse é filha da advogada e professora Wilma Lemos, bastante conhecida em Marabá. Muito amigo de Wilma, o presidente da OAB local, Ismael Gaia, esteve acompanhando ela em Parauapebas, juntamente com um grupo de advogados, amigos da família.
Segundo informações, Dayse se separou de Diógenes há pouco tempo e foi para Marabá com a mãe, que por sua vez ingressou com uma ação de divórcio e pedido de medida protetiva, uma vez que a relação do casal vinha bastante conturbada. Nesse meio tempo, nos últimos dias, Dayse voltou a conviver com o marido na casa deles em Parauapebas, onde morreu. (Tina Santos e Chagas Filho)