Quem tem diabetes sabe: a insulina é indispensável para impedir que o açúcar se acumule no sangue e gere hiperglicemia. Em decorrência desta necessidade de quem sofre da doença, a Lei Federal de N° 11.347/2006 determina que estes pacientes recebam do Sistema Único de Saúde (SUS), de forma gratuita, os medicamentos necessários para o tratamento, os materiais exigidos para a aplicação e a monitoração da glicemia capilar.
Apesar dessa obrigatoriedade, em Parauapebas a lei não é seguida à risca. Amadeus Soares da Silva, de 53 anos, é diabético e hipertenso. O tratamento mensal dele para diabetes é realizado com três frascos de insulina NPH e um de insulina Regular. Diariamente, ele injeta 52 unidades de NPH de manhã, oito unidades ao meio-dia e 35 à noite. Também consome 8 unidades diárias da Regular.
Amadeus é dependente, ainda, do glicocímetro, aparelho que serve para medir a glicose no sangue. As tiras reagentes utilizadas três vezes ao dia e as agulhas para extração do sangue também devem ser fornecidas pelo SUS. O grande problema é que Amadeus vive enfrentando dificuldade tanto para conseguir a medicação quanto para os demais acessórios.
Leia mais:“Tem meses que só acho dois vidros de insulina e preciso de quatro, o remédio que tem é só o AAS, que tomo um comprimido por dia, aí quando falta eu tenho que tirar do meu dinheiro e, por mês, o tratamento custa em média R$ 600. Aí vem a dificuldade. A gente trabalha tanto, paga os impostos em dia e quando a precisa da nossa cidade… que é rica e ao mesmo tempo pobre, porque tem projeto para tudo, menos para a saúde”, reclama.
Ele é atendido pelo Posto de Saúde próximo de sua casa e quando não encontra a medicação é orientado a procurar em outros, onde, afirma, dificilmente é atendido. A alternativa é procurar a Secretaria Municipal de Saúde, onde a resposta é frequentemente a mesma. “Quando a gente vai pro posto não tem, a gente vai pra SMS e dizem que o remédio está em distribuição pros postos. Ficam um jogando para o outro. A SMS diz que vai distribuir e o posto não tem, eu não entendo o que acontece”, afirma.
Amadeus acabou infectado pela Covid-19 e, por conta da saúde abalada, necessitava de cinco injeções de anticoagulante. Ao final, conseguiu apenas três. “Disseram que só tinha pra paciente internado, mas a doutora dizia que se eu não tomasse ficaria internado também. Tinha que tomar cinco injeções destas, só tomei três e duas não tomei porque não tinha, fui nos postos todos e não tinha, tomei a medicação incompleta”, ressalta.
O repórter Caetano Silva, de 51 anos, também diabético, enfrenta situação similar. Ele necessita de quantidade menor de insulina por mês, um frasco de NPH, mas já sentiu falta das fitas e até das agulhas próprias para o tratamento. Ele conta ser cadastrado no posto Popular II, mas na última vez que esteve no local para retirada do medicamento foi exigido que realizasse consulta.
“Exigiram renovação da receita e sempre pego só o necessário. Às vezes pego só as tiras e às vezes vou pegar só a insulina porque acho que se eu pego o necessário não deixo outras pessoas em falta. Mas está tendo problema porque às vezes você pensa que vai chegar e pegar, mas tem dificuldade, até má vontade, para receber remédios que não podem faltar (…)Tive que passar de novo pelo médico porque a moça da farmácia disse que era norma, mas eu já sou cadastrado e isso não é uma doença que você amanhece bom, já se sabe que é remédio contínuo”, lembra.
Caetano afirma que a diabetes dele está sempre alta por conta do ritmo de trabalho que mantém. Por conta disso, tem medo de aplicar a insulina sem medir a glicose, mas muitas vezes não consegue as fitas reagentes ou agulhas. “Tenho tido dificuldade em pegar as tiras e também o remédio, esse mês com muita luta consegui, mas passei uns 15 dias tentando receber”.
Em uma crise, relata, precisou ser atendido no hospital com o nível muito alto, mas não havia insulina no próprio hospital. Noutro dia, saiu de casa para aplicar a insulina em um posto, mas chegando lá não havia agulha. Nesta ocasião, precisou pegar o medicamento e ir para casa utilizar as agulhas que possuía na residência. Tudo em meio a uma crise.
“Isso é um absurdo porque remédios simples, são recorrentes, que faltam e não entendo isso. Você pega uma receita com três remédios e só encontra um, aí tem que tirar xerox pra deixar a receita lá e ir no outro (posto), aí lá no outro não recebem porque não é cadastrado lá, aí sai de um posto para procurar outro e tem que sair distribuindo receita porque precisa do remédio contínuo”, desabafa.
O Correio de Carajás procurou a Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de Parauapebas na manhã desta terça-feira (21), mas até o fechamento desta reportagem não obteve posicionamento. (Luciana Marschall e Ronaldo Modesto)