Correio de Carajás

DIA DOS NAMORADOS: O amor renasce 45 anos depois do primeiro beijo

Quando o destino os separou em 1975, Raimundo e Joísa eram namorados. Viviam grudadinhos na Praça Duque de Caxias, na Velha Marabá. Ele a carregava para cima e para baixo na garupa de sua bicicleta barra circular. Os pombinhos não imaginavam que voltariam a se reencontrar pelos laços do amor 45 anos depois.

A distância os levou a outros relacionamentos e casaram, tiveram filhos e, esporadicamente, se viam em eventos da igreja a que fazem parte. “A gente nunca imaginava que nos uniríamos novamente. Eu era feliz com meu marido, que morreu em 2009. Agora, estou eu aqui, amando o Raimundo novamente”, diz Joísa, em tom de satisfação e parecendo uma adolescente que acabou de descobrir o amor.

Leia mais:

Aliás, Joísa Nascimento Hertel, que é professora aposentada da rede municipal de ensino, faz questão de ressaltar que Raimundo foi seu primeiro namorado. Ela nasceu em Araguaína, ainda estado do Goiás, e veio para Marabá em 1974, com 18 anos de idade. Logo conheceu Raimundo na travessa Parsondas de Carvalho e os dois começaram a namorar. Ele a chamava de Rosa. Apaixonaram-se em pouco tempo, mas em 1975 os pais dela a encaminharam para estudar em um colégio interno em Belém de Maria-PE.

Raimundo Vieira da Silva nasceu na pequena comunidade de Londrissal, no Estado do Piauí e veio para Marabá em 1966. Depois que ela foi embora, o relacionamento não morreu porque conversavam por meio de cartas. Ele queria casar, mas sua Rosa já estava encantada com a nova vida no Nordeste. Dois anos depois ela veio passear em Marabá, mas não quis saber da proposta de casamento, como ele desejava. Retornou para o colégio interno e, em 1980, Rosa foi morar em Belém, onde trabalhou como educadora. Em 1985 retornou para Marabá, mas não se encontrava mais com o primeiro namorado. Casou-se com José Getúlio Hertel, com quem teve uma filha. O relacionamento dela durou 24 anos e o esposo morreu em 2009.

A GENTE SE REENCONTRA NO WHATS

A vida de Raimundo Vieira da Silva tomou outro rumo. Virou pedreiro, depois mestre de obras, casou-se com Maria Alves, teve duas filhas e conviveu com a esposa até julho do ano passado, quando ela faleceu. Os ex-namorados, agora livres, redescobriram-se e começaram bate-papos via Whatsapp e ficaram assim por vários meses, até que decidiram assumir o relacionamento publicamente.

Na última sexta-feira, 7, selaram a união com um casamento no civil e Raimundo foi morar na casa de Joísa, na Avenida Manaus, Bairro Belo Horizonte. Ele com 70 e ela com 63, não fazem planos para o futuro, mas para o presente. Decidiram tomar café da manhã e almoçar fora de casa quase todos os dias e ir ao shopping regularmente.

E o futuro do presente está recheado de novidades. Eles já estão de passagens compradas para lua de mel no Rio Grande do Norte, depois darão uma esticadinha em Teresina-PI e de lá seguem para Goiânia. “Teremos muitos roteiros daqui para frente”, diz ela, encantada com o novo (velho) amor, que garante que está pronto para seguir o ritmo frenético de sua Rosa.

Enquanto estão em Marabá, os dois se divertem cuidando do orquidário que ela mantém no fundo do quintal de casa e aos finais de semana vão para um sítio localizado a 20 km de casa.

A história de Raimundo e Joísa lembra a de Florentino Ariza e Fermina Daza em “O amor nos tempos do Cólera”, de Gabriel García Márquez. Florentino espera por Fermina cinquenta anos, nove meses e quatro dias, até que ela fica viúva e decide casar-se com ele.

A gente sabe que dá medo arriscar e ter fé “cega” em algo – no amor, nos sonhos, na vida, em tudo – mas, “tente, ainda que você esteja morrendo de medo, ainda que depois se arrependa”, apenas se dê uma chance. Poderia ser só Joísa dizendo, mas foi o Gabriel García Márquez. Deem um crédito a ele. (Ulisses Pompeu)