Celebrado em 24 de junho, o Dia de São João marca o ápice das festas juninas no Brasil, que ainda festejam Santo Antônio, em 13 de junho, além de São Pedro e São Paulo, no dia 29.
Segundo a tradição bíblica, São João, ou João Batista, era filho de Zacarias e Isabel, prima de Maria, a mãe de Jesus, sendo João considerado primo de Cristo. Sua missão era preparar o povo para a chegada de alguém maior, anunciando a transformação espiritual e social que se aproximava.
“João representa todo cristão que, ao escolher seguir Jesus, deve também ser seu anunciador, apontando para o Cristo. Sua importância está no fato de ser o precursor, anunciador de Jesus, proclamando que o Messias (palavra hebraica que significa “ungido”, com o correspondente grego “Cristo”) estava chegando, e que todos deveriam segui-lo. O próprio Jesus afirmava que “não houve profeta maior que João””, explica o teólogo e historiador Antonio Sergio Giacomo Macedo, professor do curso de História da Estácio.
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São João: o simbolismo do 24 de junho
De acordo com a doutora em Teologia Ana Beatriz Dias Pinto, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a origem da festividade remonta ao cristianismo primitivo, que associava datas festivas aos ciclos solares como forma de inculturar a fé.
No que diz respeito ao dia 24 de junho, na tradição católica, ele anuncia que faltam seis meses para o nascimento de Jesus, em 24 de dezembro. “Junto com Maria, mãe de Jesus, e o próprio Jesus, João é o único a possuir uma data de nascimento celebrada, além da data de sua morte, em agosto. Todos os demais santos são comemorados apenas na data de morte, ou, segundo a tradição da Igreja, de “entrada definitiva no céu””, diz Antonio.
O São João no Brasil
No Brasil, a festa de São João chegou com os colonizadores portugueses, especialmente com os Jesuítas, que valorizavam as celebrações populares como espaços de catequese. Porém, por aqui, a festa se fundiu com elementos indígenas e africanos, resultando, na opinião de Ana, em um “rico sincretismo cultural.”
“Nas zonas rurais, a festa passou a celebrar não apenas o santo, mas também o ciclo das colheitas, as relações comunitárias, os ritos de passagem e os festejos da fertilidade. No século XX, com o êxodo rural e os processos de urbanização, a festa foi “transportada” para as cidades, especialmente nas escolas, igrejas e centros comunitários. Contudo, ela manteve sua identidade de celebração da roça, do povo simples, do coletivo”, avalia Ana.
A fogueira e os símbolos juninos

Dentre os muitos itens encontrados nas festas juninas, a fogueira é um dos principais símbolos. No São João, ela remete à narrativa do nascimento de João Batista, visto que, segundo consta, Isabel teria acendido uma fogueira no alto de um monte para avisar sua prima Maria sobre o nascimento do menino João.
“Na teologia, o fogo é entendido como arquétipo de transformação. Então, nas festas juninas, reunir-se ao redor da fogueira é uma prática ancestral que remete à purificação, ao vínculo comunitário e à suspensão do tempo comum para fazer algo celebrativo. A fogueira de São João não fala tão somente de um fogo que aquece e ilumina, mas é um símbolo que remete a se queimar o velho e consagrar o novo”, esclarece a professora da PUCPR.
Abaixo, Ana explica o significado de outros símbolos juninos:
- Balões: simbolizam o envio de pedidos e mensagens aos céus. “Tradicionalmente associados à religiosidade popular, evocam a conexão entre o humano e o divino, mesmo sendo atualmente proibidos por risco de incêndio”;
- Bandeirinhas coloridas: representam a alegria e a diversidade da festa. “Criam um “céu simbólico” sobre o espaço junino, tornando o ambiente coletivo mais lúdico, sagrado e visualmente acolhedor”;
- Roupas caipiras: inspiradas na estética do homem do campo, as vestes funcionam como performance cultural. “Carregam elementos de humor, memória e identidade coletiva, resgatando valores como simplicidade, trabalho, vínculos comunitários e gratidão ao homem do campo por cultivar o alimento da população”;
- Quadrilha: provém das danças de salão francesas, com adventos da cultura local. Segundo a professora, a dança tradicional coreografada simboliza união, colheita, casamento e vida no campo;
- Pula-fogueira e fogos de artifício: atos simbólicos de purificação, coragem e celebração. “Os fogos funcionam como linguagem sonora festiva, tradicionalmente associados à “chamada” para que São João abençoe a festa.”
As comidas típicas de festa junina
As comidas típicas são, certamente, um dos itens mais celebrados das festas juninas e, assim como boa parte da cultura nacional, ela também é fruto da miscigenação.
“O milho, por exemplo, é o grande protagonista da festa, símbolo da fartura nas culturas indígenas e base de pratos como pamonha, curau, canjica e bolo de milho. O amendoim, a mandioca e o coco também têm raízes nas culturas indígenas e africanas, e foram reelaborados em receitas que hoje associamos à festa, a exemplo da cocada e do pé-de-moleque”, finaliza Ana.
(Fonte:G1/Gladys Ferraz – Casa Vogue)