Um distrito industrial que virou uma cidade fantasma e uma alta taxa de desemprego são os resultados de uma região esquecida historicamente pelo governo do Estado. Assim está Marabá, município bem posicionado geograficamente, que já teve um parque industrial pulsante, mas que hoje vive apenas de esperança. Primeiro veio a promessa da ALPA, depois veio a Cevital, mas esses projetos nunca saíram do papel. Ficaram apenas o inchaço populacional e os prejuízos de investimentos que não deram em nada.
A possibilidade de implantação da Aços Laminados do Pará (ALPA) em um período em que muito se falava na necessidade de verticalizar a produção de ferro gusa, que segui a todo vapor em 11 guseiras que mantinham 28 fornos no Distrito Industrial de Marabá (DIM). O que ninguém poderia supor é que anos mais tarde, não viria nem verticalização e também a produção guseira iria declinar drasticamente.
Obviamente que a queda do Distrito Industrial não ocorreu por mera culpa do governo do Estado, houve vários fatores, como o crescente dano ambiental e também a desaceleração do mercado chinês, mas a necessidade de verticalizar a produção – ao invés de simplesmente enviar o gusa para o exterior – era uma necessidade estratégica que qualquer governo sério deveria levar adiante.
Leia mais:É assim que pensa Neiba Nunes Dias, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Marabá (SIMETAL). Ele compara a situação da ALPA com o porto de PECEM, no Ceará, um Estado bem menor e bem menos atrativo do que esta região do Pará, mas que conseguiu instalar ali uma companhia siderúrgica. “O que sobrou lá no Ceará, faltou aqui, que foi vontade política”, explica.
O caso da ALPA foi um escândalo. Houve uma pressão do então presidente Lula para que a Vale investisse em uma fábrica de aços planos em Marabá. A mineradora teoricamente acolheu a ideia, iniciou estudos para o derrocamento do Pedral do Lourenção para possibilitar o tráfego de grandes embarcações durante todo o ano pelo Rio Tocantins, para escoar a produção, mas nunca afirmou com todas as letras que faria o investimento.
INTERFERÊNCIA DESASTROSA
Enquanto os estudos se desenrolavam, ficava mais difícil o projeto ser efetivado, mesmo com lançamento de edital de publicação para início dos estudos, assinado pela outra presidente, Dilma Rousseff. Mas a Vale só desistiu mesmo da ideia quando o governador Simão Jatene entrou em cena e começou a negociar com o grupo argelino Cevital a criação de uma siderúrgica nos mesmos moldes da ALPA.
Foram cerca de dois anos de negociação envolvendo o governo do Estado/Vale com a Cevital, que, de fato, se mostrou interessada em implantar a siderúrgica em Marabá, no local que estava reservado para a ALPA.
ENGODO
À frente do processo, junto com Simão Jatene, o então secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, Adnan Demachki, disse, em Marabá, em agosto do ano passado, que a Cevital insistia em implantar a siderúrgica em Barcarena, onde há porto e o negócio seria mais rentável, do que em Marabá. Mas, para Barcarena, também não foi nada. “A Cevital foi mais um engodo do governo do Estado”, critica Neiba Dias.
Ainda em agosto de 2017, durante audiência pública em Marabá para discutir a Ferrovia Paraense – outra promessa do governo do Estado – Adnan admitiu serem justificáveis os argumentos da Cevital do ponto de vista econômico para não implantar uma indústria em Marabá.
Desse modo, nada foi feito, e o governo do Pará mantém uma dívida histórica com a região sudeste do Estado, pois não investe nem 5% do orçamento nesta região, e isso tem gerado insatisfação na população local, segundo explica Neiba Dias. “Não dá mais para Marabá ser apenas uma colônia de luxo para sustentar a corte paraense com os recursos naturais que saem daqui e geram impostos que vão pra lá e não retornam”, observa o metalúrgico.
PREJUÍZOS
Os prejuízos são enormes diante dessa postura. A ALPA tinha investimentos de cerca de R$ 5,2 bilhões, com uma previsão de capacidade anual de produção de 2 milhões de toneladas métricas de aços semiacabados (placas) e 500 mil toneladas de aços laminados (bobinas a quente e chapas grossas). A promessa era gerar cerca de 16 mil empregos durante a implantação e, na fase de operação, mais de 5.300 empregos diretos (entre próprios e terceirizados) e 16 mil indiretos.
No caso da CEVITAL, o governador Simão Jatene criou a expectativa de que seriam gerados cerca de 20 mil empregos, somente na fase de implantação da siderúrgica. O investimento para a implantação do complexo seria de R$ 6 bilhões. O que ficou de tudo isso está apenas nas páginas dos jornais e em matérias perdidas na rede mundial de computadores.
Para Neiba Nunes Dias, esses dois projetos trouxeram grandes prejuízos para Marabá, muitos investidores compraram lotes para atuar no comércio e também em pequenas indústrias. Mas, para ele, faltou vontade política.
“É incompreensível uma região que dispõe de vários modais de transporte, energia, minério, não conseguir atrair grandes projetos para verticalizar o minério e transformar essas riquezas para criar oportunidades para esta região” ressalta.
Distrito Industrial virou cemitério de ferro velho
Enquanto isso, o que há em Marabá são apenas lembranças de um tempo que poderia ter sido melhor aproveitado, caso o governo do Estado tivesse agido com pró-atividade e com maior zelo pela região que tem tratado apenas como seu almoxarifado. O maior exemplo disso é o Distrito Industrial. “O Distrito Industrial é um cemitério de ferro velho, dinheiro público desperdiçado e um povo sem esperança”, resume Neiba Nunes Dias.
Só em Marabá, a cidade fantasma que hoje é o DIM conseguia movimentar mais de R$ 1,5 bilhão por mês, com geração de 8.600 postos de trabalho diretos e 40 mil na cadeia produtiva. “O que restou foram problemas sociais”, observa Neiba, acrescentando que muitos trabalhadores da área tiveram que migrar para outras profissões, com remuneração inferior, ou tiveram mesmo de deixar Marabá.
Atualmente trabalham no Distrito Industrial de Marabá 1.490 profissionais, sendo 40 na Fermar, que atua no ramo de ferro-liga; 130 na guseira Âncora; 120 na Correias Mercúrio; e 1.200 na Sinobras, única grande siderúrgica em atividade. (Chagas Filho)