Correio de Carajás

Desafios da agricultura familiar de Marabá e região são debatidos em fórum

Evento é realizado pela primeira vez no sul e sudeste do Pará pelo Ministério Público Estadual, com mais de 300 participantes

Promotora Alexssandra disse que vai lutar para regularização das terras dos pequenos agricultores

O Fórum da Sociobiodiversidade das Promotorias de Justiça das 3ª e 5ª Regiões Agrárias do Pará, acontece nesta quinta-feira, 31, na Câmara Municipal de Marabá, reunindo especialistas, autoridades locais e cerca de 300 produtores rurais para uma discussão franca e profunda sobre os desafios enfrentados pela agricultura familiar na região.

A programação é repleta de palestras e debates abrangendo diversas temáticas, como turismo de base comunitária, empoderamento da mulher no campo, desafios da agricultura familiar em Marabá, sistemas agroflorestais e gestão de empreendimentos familiares, refletiu a diversidade de tópicos cruciais para o desenvolvimento do setor.

A despeito da amplitude dos temas, os dilemas centrais debatidos no fórum foram amplamente reconhecidos pelos presentes: a escassez de capacitação adequada para a seleção e cultivo de produtos apropriados às propriedades e os obstáculos logísticos relacionados ao transporte da produção até os centros urbanos, complicados pela precariedade das estradas e a falta de um sistema de transporte eficiente.

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As palavras da promotora de Justiça Alexssandra Muniz Mardegan, que assumiu recentemente a 3ª Promotoria Agrária, refletiram o compromisso do Ministério Público em reconhecer e valorizar o trabalho dos produtores familiares: “Hoje, os desafios que os produtores da agricultura familiar enfrentam são imensos. Produzir, plantar, colher e escoar tornaram-se tarefas complexas”.

Ela coloca o escoamento como um dos principais problemas em nossa região, especialmente durante a época das chuvas, quando grande parte das estradas fica praticamente intransitável. Segundo Alexssandra, com este evento, o Ministério Público do Estado do Pará reafirma o compromisso de reconhecer e valorizar o trabalho dos produtores familiares e se esforça para proporcionar-lhes condições dignas de trabalho e escoamento, além de buscar a legalidade de suas terras de forma oficial.

Patrícia Pimentel, promotora agrária de Redenção e também anfitriã do evento, destaca o papel do MPPA como um canal acessível para os pequenos produtores obterem informações e apoio. Ela ressalta a importância de democratizar o acesso à informação, empoderando os agricultores com conhecimento sobre seus direitos e oportunidades.

Promotora Patrícia Pimentel: “MPPA é um canal acessível para os pequenos produtores obterem informações e apoio”

“Eles conseguem ter acesso a essa informação que é necessária tanto para escoar a produção, para eles se fortalecerem, para conhecerem quais são os direitos que têm, as linhas de crédito para fomentar suas atividades”, levanta.

Composta por figuras influentes da área, a mesa do fórum contou com o advogado Luiz Gustavo Trovo Garcia, representante da Comissão de Direitos Agrários da Ordem de Advogados do Brasil, que na tribuna expressou sua perspectiva enquanto filho de um agricultor e compartilhou seu senso de surpresa ao se deparar com o subdesenvolvimento da agricultura familiar na região.

“Quando vim para o Pará, há 25 anos, oriundo do Sul do Brasil, eu não entendia por que, com tantas terras disponíveis, a nossa agricultura familiar era tão pouco desenvolvida. O evento é muito importante para a nossa região e município”, disse, acrescentando que a programação incentiva e traz desenvolvimento, crescimento e conhecimento aos produtores.

Pequenos produtores de vários municípios trouxeram produtos para exposição numa feirinha na Câmara Municipal

O superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Reginaldo Rocha de Negreiros, usou seu discurso para enfatizar a relevância do homem do campo para a segurança alimentar e a necessidade de reconhecimento e apoio por parte da sociedade e das instituições.

“O homem do campo tem que ser venerado, deve ser tratado com mais respeito, com mais dignidade, e é isso que estamos tentando agora à frente do Incra: colocar a importância disso para toda a sociedade e resgatar as políticas públicas para impulsionar a produção e garantir a estabilidade do homem no campo”, afirma.

No fórum, pequenos produtores compartilharam suas experiências com a reportagem deste CORREIO. Leilian Bueno de Oliveira falou sobre seus planos e projetos para sua mini propriedade e como o evento agrega conhecimentos valiosos para o dia a dia na agricultura familiar: “Nossa produção é iniciante de modo geral, queremos começar com pastagem, criação de galinhas e uma mini horta”.

Marcelo Gomes, que é agricultor, abordou os desafios das condições das estradas e pontes que muitas vezes impedem o escoamento da produção. Satisfeito com o evento e a oportunidade de um dia inteiro de aprendizado e de discussão sobre os desafios que ele e amigos vivem diariamente. (Thays Araujo)