Retomar as aulas por meio de ensino remoto, para não prejudicar o ano letivo dos estudantes, mas ao mesmo tempo sem provocar exclusão dos que não têm Internet segura para fazer as atividades. Esta é a encruzilhada enfrentada neste momento pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que ao mesmo tempo se vê pressionada pelo governo federal a retomar as atividades como se não estivéssemos ainda no meio de uma pandemia que já matou mais de 70 mil pessoas no Brasil e cerca de 150 em Marabá.
Toda essa problemática foi debatida no programa “InFoco”, da Fanpage NoAuge.mba, do jornalista Magno Barros, que entrevistou o professor Rigler Aragão, da Unifesspa, em uma live pelo Facebook.
Rigler, que coordena o Sindicato dos Docentes da Unifesspa (SindUnifesspa), fez questão de iniciar o debate afirmando que, embora o ensino presencial tenha sido suspenso na segunda quinzena de março, a Unifesspa não parou, várias atividades de formação, de pesquisa e de extensão continuam ocorrendo, dentro de um limite de segurança.
Leia mais:Inclusive, há grupos de pesquisa atuando no combate e na pesquisa sobre a pandemia, pois todos os acontecimentos advindos do coronavírus causam impactos não apenas na saúde física e mental, mas também na questão social, notadamente por conta do isolamento social e do desemprego que aumentou no período.
“Não é fácil ficar em isolamento. Tanto é que as pessoas ficaram por um momento e agora a tendência é diminuir o isolamento”, observa Rigler, dando como exemplo as praias lotadas neste mês de julho.
Especificamente sobre a Unifesspa, Rigler Aragão observa que a instituição compreende que ainda não é o momento de voltar às atividades presenciais. E é justamente aí que se forma um nó que precisa ser desatado.
Foi proposta a criação de um calendário emergencial para o retorno de algumas atividades, como a oferta de disciplinas, que ocorreriam através de ensino remoto (não confundir com ensino a distância, que tem legislação específica). Mas o primeiro calendário proposto não foi aceito.
Desde então, a Unifesspa analisa formas de garantir a inclusão de todos os alunos, o que é algo difícil neste momento, pois a maioria dos estudantes é de baixa renda, sem acesso à Internet segura. Aliás, o acesso à rede de mundial por parte de muitos alunos se dá somente na universidade.
Desse modo, o grande desafio agora é como ofertar componentes curriculares sem reproduzir exclusão social, deixando os menores favorecidos financeiramente de fora. “Se for pra ofertar, que a gente possa incluir todos e que não seja uma questão meramente opcional”, explica Rigler.
O professor observa que muita gente – mesmo antes da pandemia – nunca teve como comprar um bom pacote de internet. Além disso, depois da pandemia, muita gente perdeu emprego ou teve a renda diminuída.
Como a primeira proposta para um período emergencial de aulas foi rejeitada, o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) está promovendo um debate mais amplo na comunidade acadêmica, ouvindo não apenas professores e técnicos, mas também tentando saber o que os estudantes pensam e qual é o perfil desse acadêmico. O problema é que nem todos têm conseguido participar da consulta.
Rigler comenta que os coordenadores de cursos tentam entrar em contato com alunos, mas nem todos têm acesso a internet para comparecer nas reuniões virtuais por meio de programas de conferência.
A Unifesspa tem feito pesquisas através de formulários, onde o aluno responde perguntas como quais as mídias de acesso à Internet que ele tem em casa, se tem condições mentais e sociais de ter aulas remotas. Mas até agora os resultados dessas pesquisas não foram divulgados.
Em outras instituições de ensino superior, apenas 40% dos estudantes conseguem responder a essas pesquisas. “É um número muito baixo que demonstra por si só a dificuldade de acesso à Internet”, comenta Rigler, acrescentando que uma prova dessa precariedade é que o ENEM teve de ser suspenso. “Até o momento o que se analisa é que aulas remotas provocariam exclusão social”, resume. (Chagas Filho)