O pequeno Arthur Gabriel Sousa Nunes nasceu no dia 13 de maio deste ano no Hospital Geral de Parauapebas, mas nem bem completou um mês e meio de vida. O bebê amanheceu morto nesta segunda-feira, dia 29 de junho, no Apartamento 35 do Bloco 22 do Residencial Alto Bonito, um conjunto habitacional popular da capital do minério.
No mesmo dia foram presas a mãe biológica, Glenda Sousa Nunes, de 27 anos, e a companheira dela, Anna Terra Valadares Cunha, de 31 anos, que estavam na casa junto do bebê e de mais dois meninos pequenos, também filhos de Glenda. As duas foram autuadas em flagrante por homicídio pelo delegado Felipe Oliveira Freitas.
Conforme o Instituto Médico Legal (IML) de Parauapebas, o laudo que deverá constatar a causa da morte da criança, cujo corpo foi necropsiado, será finalizado no prazo de 60 dias. Nesta quarta-feira (1º), o Correio de Carajás teve acesso aos depoimentos das mulheres presas e também de testemunhas que foram ouvidas pela Polícia Civil, que investiga o caso. Os relatos diferem uns dos outros sobre o que ocorreu entre o domingo (28) e a segunda (29).
Leia mais:O agente da Polícia Civil que apresentou as mulheres na 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil informou que a equipe foi acionada por volta das 10h30 da segunda com a informação de que um recém-nascido havia sido encontrado sem vida. Conforme ele, a mãe alegava que ao acordar, pela manhã, encontrou a criança morta.
Vizinhos informaram que o casal, Glenda e Anna Terra, estavam consumindo bebida alcoólica durante a madrugada e que teriam escutado barulhos de brigas, quebradeira e choro de criança durante esse período. Quando o policial chegou ao local observou que o apartamento havia sido lavado, ainda havendo poças úmidas no chão, além de terem sido encontrados utensílios domésticos aparentando terem sido recentemente quebrados.
Ele relatou que o IML foi acionado e a criança ostentava manchas no corpo, possivelmente hematomas, nas costas, coxas e pé. Uma mulher ouvida na delegacia disse que estava no apartamento do cunhado, no mesmo bloco, quando escutou, por volta das 4 horas, uma discussão entre duas mulheres, além de choro de bebê. O barulho acabou por volta das 4h30.
O cunhado dela teria informado, durante a discussão, que as duas mulheres eram um casal e tinham o costume de brigar. Às 7 horas, conta, as duas mulheres saíram da casa e a testemunha afirma ter ouvido Anna Terra gritar: “meu filho morreu, ele não tinha culpa de nada, ele não merecia isso”, enquanto carregava o bebê nu no colo.
Ainda segundo a testemunha, a mãe biológica, Glenda, não demonstrou tristeza. A testemunha afirma que Anna pegou o bebê, enrolou em um pano e depois o vestiu dizendo que um motorista de aplicativo estava embaixo esperando para levar as duas e o bebê ao hospital, porém diz ter observado que não havia ninguém embaixo e acredita que o casal de mulheres estava se preparando para fugir.
O relato aponta que as testemunhas viram os hematomas na criança e que impediram as duas de saírem do bloco, acrescentando ter ouvido das mulheres que estas haviam acionado o Samu, porém mais tarde um policial militar declarou que não havia registro de chamado para a PM ou para o Samu. Por fim, a testemunha declarou que as duas aparentavam estar embriagadas e que a mãe da criança só começou a chorar com a chegada de policiais militares.
O marido dela também prestou depoimento informando ter ouvido a briga entre as mulheres, por volta das 3h30, mas não ter escutado choro de bebê. Diz ter visto, pela manhã, Glenda com o bebê no colo gritando que o filho estava morto. Ele confirmou que as duas pareciam preparadas para fugirem, mas que eles não permitiram. O marido afirmou também ter sido informado por policial militar que ninguém havia acionado a ambulância.
Outra vizinha, esta de porta, informou que pela madrugada ouviu barulho de gente falando em voz alta no apartamento das mulheres e que no local havia mais pessoas adultas além de Anna e Glenda. Disse que por volta das 10h30 ouviu gritos e saiu verificar o que estava acontecendo, foi quando visualizou Glenda com o filho nos braços, chorando, tentando reanimar a criança, fazendo respiração boca a boca, e falando que a criança estava morta. Sobre Anna, ela diz que esta ficava se questionando o motivo da criança estar morta.
PRESAS
As versões das duas mulheres presas apresentam algumas incoerências entre elas, mas ambas contam que havia mais pessoas na casa durante a madrugada, garantem que não houve qualquer briga e que nada ocorreu com a criança até pela manhã. Negam também terem tentado fugir. Afirmam, ainda, que se relacionaram por quatro anos, que Glenda engravidou enquanto estavam separadas e que atualmente viviam na mesma casa, mas em quartos separados.
Glenda diz ter percebido por volta das 8h15 que Arthur estava roxo e gelado e que gritou chamando Anna Terra, afirmando que estava no quarto junto ao bebê e aos outros dois filhos. Ela relata que quando as duas começaram a gritar, vizinhos apareceram e ligaram para o Samu e que este demorou. Mais uma vez foi telefonado, conforme o depoimento dela, mas quando disseram que a criança estava sem vida foram orientados a acionarem a Polícia Militar.
Glenda disse que o último banho da criança havia sido na manhã anterior, dado por Anna, responsável por cuidar das crianças frequentemente, e que não havia hematomas neste momento. Diz que houve confraternização e que estavam na casa, além das duas e das crianças, um homem e duas mulheres. Sobre utensílios quebrados na residência, afirmou que um ventilador foi quebrado por uma das convidadas que pisou no objeto e que esta pessoa e Anna estavam bebendo, negando que ela mesma tenha bebido.
Relatou ter ido dormir por volta das 23h30, apenas ela e os três filhos no quarto, e que o bebê dormiu com a roupa que usava durante o dia. Sobre a casa limpa, afirmou que uma vizinha foi quem passou o pano e lavou as louças.
Anna Terra relatou ter ido dormir entre 4 e 5 da manhã e diz que acordou por volta das 9 horas com Glenda gritando por socorro. Também informou que além das duas e das crianças estavam no apartamento três mulheres e um homem. Na versão dela, entretanto, ela mesma pisou no ventilador e afirma que Glenda teria ingerido bebida alcóolica, menos de quatro latas. Confirmou que não havia hematomas na criança quando deu banho nela no dia anterior e que não sabe como apareceram as marcas na criança.
Em ambos os depoimentos, uma defende a atuação da outra em relação às crianças. Glenda diz que Anna é praticamente parente dos filhos dela, sendo que os mais velhos a chamam de tia. Anna afirma nunca ter visto Glenda ser agressiva com os filhos e que nenhuma das duas jamais tocaria no bebê com intenção agressiva. O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil. (Luciana Marschall)