📅 Publicado em 24/09/2025 16h01✏️ Atualizado em 25/09/2025 11h36
No dia em que se celebra a resistência e a tradição das quebradeiras de coco babaçu, a Defensoria Pública do Pará reuniu mulheres de várias comunidades para reforçar a luta por direitos e dar visibilidade à essas histórias, em Marabá. O evento acontece das 8h30 às 16 horas, nesta quarta-feira (24), no teatro da Usina da Paz, na Cidade Nova. A ação voltada às mulheres, reúne cerca de 150 participantes.
A programação faz parte da iniciativa “Defensorias nos Babaçuais – O acesso à Justiça”, que reúne instituições públicas do Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí. Entre as comunidades, fazem parte os municípios de Itupiranga, São João do Araguaia, São Domingos do Araguaia e Palestina do Pará.
Na abertura, a mesa de autoridades contou com a presença de Cézar Barreto, defensor público agroambiental de Marabá, Fabrício Oliveira, gerente executivo do INSS, além de Cleudineusa Maria, representante das mulheres quebradeiras de coco.
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Responsável pelo projeto, o Correio de Carajás conversou com o defensor agroambiental de Marabá, Cézar Barreto, que explicou o objetivo central do projeto, que segundo ele busca aproximar o poder público de uma comunidade tradicional que há décadas enfrenta dificuldades para garantir direitos. “A iniciativa interestadual tem a ideia de aproximar as instituições dessa comunidade, mulheres extrativistas que vivem da retirada do coco”, explica o defensor.

Segundo ele, além das questões sociais e de gênero, essas mulheres têm enfrentado entraves para exercer sua atividade devido ao avanço da agropecuária e da agricultura na região. “Elas vêm encontrando, ao longo dos anos, dificuldade em extrair o babaçu e em ter contato com a palmeira, em razão do crescimento do agronegócio, o que gera conflitos com proprietários. A ideia é dar visibilidade a esse movimento e, principalmente, voz a essas mulheres”, destaca.
O projeto busca ainda fortalecer a luta pela aprovação de um projeto de lei em tramitação na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), que reconhece o direito das quebradeiras de acessar livremente as palmeiras de babaçu, conforme compartilhou Cézar.
A VOZ DAS QUEBRADEIRAS
Entre as participantes estava Lenir Alves da Silva, de Palestina do Pará, que vive do babaçu e da roça, mas enfrenta a redução dos babaçuais e a pressão de fazendeiros. “Hoje nós não temos mais babaçu, porque os fazendeiros estão devorando os babaçuais”, diz Lenir.
Ela complementa que para quebrar, tem que pedir autorização. “Antigamente, o coco era livre. Na época da minha mãe, não existia isso. O babaçu era na mata, livre. Hoje não tem mais”, compartilha a quebradeira.

Em sua fala, Lenir comemorou o apoio das instituições. “Acho muito importante ter quem nos apoia. Queremos o babaçu livre para produzir”.
De São Domingos do Araguaia, Iracema Vieira Félix, que mantém uma pequena terra na Vila São Benedito, também compartilhou sua trajetória. Ela começou cedo, aprendendo o ofício com a mãe. “Comecei a quebrar coco com 10 anos. Nós éramos oito mulheres e um homem, e todo mundo tinha que aprender um pouquinho. Tive quatro filhos, criei duas netas e todas também sabem quebrar coco”, conta.
Para dona Iracema, a quebra do coco é mais do que sobrevivência: é cultura, memória e canto. “A gente vai trabalhando e cantando: ‘Sou quebradeira, vivo de quebrar o coco. Tenho minhas mãos calejadas, meu senhor. Me falta a terra, falta a casa e falta pão… vivo debaixo do povo trabalhador’”, entoou, emocionando o público.

APOIO INSTITUCIONAL
O momento acontece em parceria com a Usina da Paz, que abriu espaço e deu suporte às atividades. Para o diretor da unidade em Marabá, Antônio Araújo, a presença das quebradeiras simboliza resistência e merece destaque. “É uma honra muito grande estar recebendo esse evento patrocinado pela Defensoria, no sentido de mostrar o valor dessas mulheres quebradeiras de coco”.

Segundo ele, por saber da luta e trabalho que elas enfrentam e desenvolvem, todo incentivo é bem-vindo. “Essa iniciativa vem para mostrar à sociedade em geral a importância dessas mulheres e da luta delas pela inclusão social”, afirma o diretor.
ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Durante a ação, além da assistência jurídica da Defensoria, estão sendo oferecidos serviços de saúde, emissão de documentos e atendimentos sociais. A iniciativa conta com a participação do INSS, Parapaz, Usina da Paz e Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), que disponibilizou vacinação, testes rápidos, atendimento clínico, psicológico e odontológico.
Em alusão ao Dia da Quebradeira de Coco, a Defensoria idealizou o momento como a busca pela inclusão cidadã, como refletiu Cézar. “Muitas dessas mulheres não têm registro de nascimento ou documento de identificação, e a ausência desse direito básico impede o acesso a benefícios sociais. Buscamos o resultado de dar legitimidade ao movimento, para que seja reconhecido pela comunidade e conquiste avanços como a aprovação da legislação em defesa das quebradeiras”, encerra o defensor.

UM MOVIMENTO LEGÍTIMO
Para o defensor, a ação vai além de um mutirão de serviços, se trata do fortalecimento de uma tradição histórica da região. “A Defensoria Pública enxerga esse movimento como legítimo e essencial para empoderar as mulheres. Eu cresci em Marabá, e conheço a história dessas mulheres, então nosso compromisso é fortalecer a luta por direitos”, conclui.