Fazendo jus ao nome, o decenário do Sarau da Lua Cheia, em Marabá, aconteceu nesta quinta-feira (9), sob a luz de um luar robusto e luminoso, bem como a roda dos que se fizeram presente na casa do reverenciado artista Javier Di Mar-y-abá, dando continuidade, mas, principalmente comemorando os 120 meses de uma rica contribuição para a cultura marabaense com músicas e poesias, entre um público que envolvia os idealizadores, fãs e, claro, os grandes artistas do ramo.
Durante 10 anos, a itinerância do evento cultural teve um grande alcance e mobilizou artisticamente centenas de pessoas que acompanharam reuniões intimistas em residências, mas também em escolas, praças públicas, na Câmara Municipal e até mesmo na Praia do Tucunaré, durante o verão. Agora, o evento possui a intencionalidade de repassar a organização a novos e jovens rostos, para que o bastão seja mantido por uma nova geração que já se faz presente nos eventos.
Com o portão de sua casa aberto, simbolizando a solenidade pública, Francisco Xavier Pereira dos Santos, um dos grandes propagadores das raízes do Sarau, conversou com a reportagem do CORREIO e falou, carismaticamente, sobre a experiência desses 120 meses de acontecimento cultural: “O evento é um ato, não somente artístico, mas também possui um viés político, cuja intencionalidade é difundir as questões da leitura, o gosto pela poesia, bom papo e boa música. Quando pensado pelos idealizadores, o conceito principal era a persistência dessa propagação instrutiva”.
Leia mais:Estiveram presentes também os criadores do movimento, os poetas Airton Souza e Adriana Pereira. O primeiro, que realizou e ficou responsável pelos quatro primeiros anos do Sarau, não só compareceu como também declamou um poema de uma das suas mais recentes obras: “Horóscopo de batizar brumas contra a solidão das asas”, premiado pelo Festival de Música e Poesia de Paranavaí (FEMUP) e outro, nominado de “O amor são glândulas do amor de Deus”, vencedor do prêmio Carvalho Júnior de poesia, em Caxias, no Maranhão.
Para ele, nos dez anos de Sarau, foi possível alcançar resultados expressivos tanto individualmente quanto coletivamente, considerando o surgimento de vários outros grupos artísticos, como de contação de histórias, algo que faz parte da ideia do evento.
“A criação desse acontecimento cultural tratou-se, principalmente, de um trabalho de crença, de acreditar que era possível transformar a cidade em um local de muitos leitores e apreciadores dessa arte, o que não deixa de ainda ser o objetivo possibilitar o acesso à literatura através do evento”, elucida Airton.
Para a outra idealizadora do Sarau, honra e orgulho foram os sentimentos que definiram a noite. Eliane Pereira contou que o movimento nasceu em um momento de inspiração entre ela e outros colegas durante o lançamento de um poeta local. Ela narrou que eles entraram em um acordo que poderia ser um evento mensal e, desde então, possui uma trajetória longa na história de Marabá.
“Houve Saraus que contaram com a presença de mais de 100 pessoas em uma única noite. Ele foi, na grande parte de sua existência, itinerante. Sempre houve muitos convites e por isso nosso público sempre foi muito diversificado”, fala, acrescentando que durante a pandemia ele continuou online e, após as flexibilizações, graças ao trabalho do presidente da Associação e de Francisco Xavier, a força do movimento persistiu.
O cantador e participante de todas as edições do Sarau, Clauber Martins deu um show com seu violão, na companhia de Xavier e outros cantores presentes. Na percepção de quem viu o projeto nascer e chegar até aqui, foi possível colher muitos frutos e flores dessa jornada decenária. Ele diz que diante disso, torce para que o evento prossiga por mais gerações.
Comungando dessa alegria e torcendo para que esse bastão seja passado para frente por descendentes, o cantor garante que todos as 120 edições fizeram diferença: “Temos visto poesias e músicas novas surgindo, pessoas saindo do ostracismo e é muito positivo esse conteúdo”, pontua.
O ambiente repleto de palavras deslumbrantes, cantadas ou recitadas por figuras emblemáticas do nicho artístico, poético e musical de Marabá deixou no ar um gostinho de quero mais e a esperança de que, de fato, esse ciclo continue sendo abastecido com muita identidade nortista. A partir de agora, com novas gerações, propagando a essência da trajetória do movimento. (Thays Araujo)