Correio de Carajás

De lojinha de rua a império varejista: o histórico da Americanas

Empresa reportou "inconsistências contábeis" de R$ 20 bilhões; CVM abriu dois processos administrativos para analisar informações.

Americanas encontrou inconsistência contábil de R$ 20 bi. — Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters

Quinto maior império varejista do Brasil em 2022, a Americanas passou por um derretimento de suas ações na bolsa de valores nesta quinta-feira (12), após tornar público um comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” da ordem de quase R$ 20 bilhões.

O rombo detectado fez com que o presidente e o diretor financeiro da companhia, empossados no início de janeiro, decidissem deixar a empresa. Além disso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda abriu dois processos administrativos para analisar essas inconsistências. Os procedimentos são iniciais e, a depender das primeiras conclusões, podem ou não ter um processo sancionador como resultado.

Ainda que os próximos passos estejam incertos, o episódio desta quinta (12) não é o primeiro sobressalto a sacudir a empresa quase centenária no país.

Leia mais:

A companhia surgiu basicamente como uma loja de R$ 1,99 no Rio de Janeiro, em 1929. Um grupo de estadunidenses recém-chegados ao Brasil buscava um público de renda estável e usava o slogan “nada além de 2 mil réis”. Assim, nasceram as Lojas Americanas.

O negócio ganhou força principalmente a partir da década de 80, quando a 3G Capital Partners — comandada pelos sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira— adquiriu a companhia.

Com a missão de reverter o prejuízo da rede, o trio fez uma revisão do plano de investimentos e reestruturou a operação da Lojas Americanas, conseguindo torná-la lucrativa pouco tempo depois.

De olho nas tendências do varejo, o próximo passo seria adaptar o negócio para o mundo online. Assim, a companhia “entrou na internet” e foi criada a Americanas.com — primeiro de maneira experimental em 1999 e, depois, com o lançamento nacional do site no início dos anos 2000.

A crescente demanda dos consumidores pelo mercado online deu fôlego para a companhia, que fez uma série de aquisições nos anos seguintes. Em 2005, por exemplo, comprou o Shoptime e a Ingresso.com e, um ano depois, o site Submarino.

Em 2006a fusão da Americanas.com e do Submarino resultou na criação da B2W e, com a incorporação do Shoptime em 2007, a companhia se tornou uma das maiores empresas de comércio eletrônico da América Latina.

O “céu de brigadeiro”, no entanto, não durou muito. Em 2011, com o aumento da concorrência no varejo online, a empresa viu seu resultado enfraquecer e enfrentou uma série de dificuldades operacionais, como o atraso de entregas.

Na época, a companhia chegou até a ser multada em R$ 860 mil pela Justiça do Rio de Janeiro por não respeitar uma liminar que suspendia suas vendas pela internet até que todas as entregas atrasadas fossem resolvidas — eram mais de 25 mil reclamações.

Ainda naquele ano, a B2W chegou a anunciar um aumento de R$ 1 bilhão de seu capital privado, por meio da emissão de mais de 46 milhões de ações ordinárias.

O objetivo era acelerar o crescimento da empresa e, segundo comunicado apresentado na época, os recursos permitiram um “aumento significativo dos investimentos destinados à inovação tecnológica e ao desenvolvimento de logística e operações”. Mesmo assim, a empresa reportou um prejuízo líquido de R$ 83,2 milhões em 2011.

Nos anos seguintes, conseguiu reverter o prejuízo e manter os resultados anuais no azul. Uma série de novas aquisições também veio em seguida, bem como novos aumentos de capital.

O próximo grande passo da companhia veio em 2021, quando a B2W anunciou a combinação de suas operações com a Lojas Americanas, resultando na criação da Americanas S.A.

Com a fusão, o trio de sócios da 3G decidiu abrir mão do controle societário da empresa após 40 anos, sem cobrar um prêmio por isso. Eles se tornaram, então, “acionistas de referência”, sem deter mais do que 50% do capital votante — estrutura mantida até o momento.

Em 2022, um ranking feito pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA), nomeou a Americanas como a quinta maior varejista brasileira em faturamento, atrás de Carrefour, Assaí, Magazine Luiza e Via Varejo.

Veja, abaixo, o Raio-X da Americanas:

 

Investidores de referência: 3G Capital (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira) — estavam no controle da Lojas Americanas S.A. desde os anos 80 e renunciaram ao controle para serem acionistas de referência da Americanas S.A. quando a companhia fez a combinação operacional de seus negócios, em 2021. Detém 31,13% do total de ações da companhia.

Conselho de administração e diretoria:

  • Anna Saicali – CEO (Ame Digital)
  • Timotheo Barros – Vice-Presidente (Lojas Físicas, Logística e Tecnologia)
  • Marcio Cruz – Vice-Presidente (Digital, Consumo e Marketing)
  • João Guerra – CHRO (Recursos Humanos)
  • Carlos Alberto da Veiga Sicupira – Representantes dos Acionistas de Referência
  • Cláudio Moniz Barreto Garcia – Representantes dos Acionistas de Referência
  • Eduardo Saggioro Garcia – Representantes dos Acionistas de Referência
  • Paulo Alberto Lemann – Representantes dos Acionistas de Referência
  • Mauro Muratorio Not – membro independente do Conselho de Administração
  • Sidney Victor da Costa Breyer – membro independente do Conselho de Administração
  • Vanessa Claro Lopes – membro independente do Conselho de Administração

 

Raio-X da Americanas — Foto: g1
Raio-X da Americanas — Foto: g1

(Fonte:G1)