Correio de Carajás

DDD dá nome para grupo de RAP marabaense

Parece uma sopa de letras e números, mas o nome de um grupo de RAP de Marabá faz todo sentido para três jovens que há três anos se uniram em prol de um estilo de música que usa a rima para falar de temáticas sociais, como racismo, mas também flerta com a metalinguagem, ao abordar o próprio processo de produção de suas canções.

Entenda bem: o grupo se chama 094 REC. Em outras palavras, o 094 representa a região onde o grupo de RAP está: nasceu em Marabá, mas representa os 39 municípios das regiões sul e sudeste do Pará. O REC é uma abreviação da palavra Record, em inglês, e aponta para o fato de que eles gravam as próprias canções.

Hayone e Juzin VM durante o processo de composição das canções que eles produzem e gravam

A Reportagem do CORREIO conversou com dois membros do 094 REC nesta semana. Marcos André Assunção Santos (Hayone) e Júlio César Carvalho Filho (Juzin VM) receberam a equipe do Portal na residência do primeiro, localizada na Folha 11, Nova Marabá, onde também funciona o estúdio de gravação, improvisado em um dos cômodos da casa.

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Uma das coisas que eles deixaram claro é que também faz parte do grupo o colega Davi Cardoso, que não pôde participar da entrevista.

Hayone explica que a banda começa, agora, a trilhar o seu percurso na cena cultural de Marabá e região, após a premiação do álbum Realidade Suburbana, por meio da Lei Aldir Blanc, em 2020, no tópico Cultura Urbana e Periférica de Vozes da Periferia. A premiação é voltada mais para a cultura hip-hop e tudo que gira em torno dela, como grafite, break e o próprio RAP.

O CD, intitulado Realidade Urbana, apresenta 15 faixas, as quais discorrem sobre a realidade vivida pelos jovens músicos, retratando o dia a dia deles. As canções abordam temas sociais como racismo, amor, curtição com os amigos, entre outros.  

Juzin VM e Hayone, dois dos três integrantes atuais da banda

Por exemplo, a faixa intitulada “Destinatário” diz “…parado na esquina, fiz sinal, o busão parou, apaguei o cigarro e a viatura parou. Qual é a fita desses três neguinhos sem caô? Foi mal seu polícia, estamos atrasados para o show…” citando como é a abordagem dos polícias com pessoas negras.

Os três jovens cresceram em meio às batalhas de rima na cidade de Marabá e, a partir daí, foram cada dia mais se envolvendo na cultura hip-hop. Tiveram a ideia de formar o grupo para difundir o RAP na cidade para fortalecer a diversidade cultural do município.

“Um dos principais pontos do grupo é trazer destaque, não só para a gente, mas para a região Norte do país, pois a mídia só dá destaque para os artistas dos grandes centros que ficam no Sul e Sudeste do Brasil”, lamenta Juzin VM.

A cereja do bolo foi exatamente a premiação da Lei Aldir Blanc, que impulsionar o trio a comprar novos equipamentos para dar mais qualidade na produção das músicas. Contudo, Hayone cita que prestam serviços de produção, no estúdio improvisado deles para outros artistas, que não são do cenário do RAP, mas sim de outros estilos como MPB e Samba Rock. Assim complementando juntamente com as outras formas de renda.

Que por enquanto, a motivação é o principal combustível para 094 REC, que não conta, ainda só, com aporte financeiro com a venda das canções em plataformas de streaming. Os dois têm outras fontes de renda. Hayone trabalha na Secretaria de Comunicação da Prefeitura, enquanto Juzin VM trabalha como autônomo um tio, na Praia do Tucunaré.

O álbum está disponível em todas as plataformas e pode ser apreciado no Youtube, pelo endereço: https://youtube.com/channel/UCiWatw3z19mI1XVDmRCcOpw

SAIBA MAIS

O termo RAP significa rhythm and poetry (ritmo e poesia). O RAP surgiu na Jamaica na década de 1960. Este gênero musical foi levado pelos jamaicanos para os Estados Unidos, mais especificamente para os bairros pobres de Nova Iorque, no começo da década de 1970. Jovens de origens negra e espanhola, em busca de uma sonoridade nova, deram um significativo impulso ao RAP.

O RAP tem uma batida rápida e acelerada e a letra vem em forma de discurso, muita informação e pouca melodia. (Henrique Garcia)