Correio de Carajás

Da telona para as páginas: História do Cine Marrocos vai virar livro

Da telona para as páginas: História do Cine Marrocos vai virar livro

A história de um dos maiores cinemas da região, o Cine Marrocos, vai virar livro graças a um projeto de pesquisa do curso de História da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). Isso porque os estudos sobre o primeiro cinema da cidade, ícone cultural que atingiu seu auge entre as décadas de 1950 e 1980, estão sendo realizados no Arquivo Público Municipal “Manoel Domingues”, localizado na Fundação Casa da Cultura de Marabá.

A ideia de resgatar a memória do cinema surgiu há pouco mais de dois anos, nas primeiras visitas do então recém-chegado professor Dr. Geovanni Gomes Cabral, atualmente diretor do curso de História da Unifesspa, à Fundação Casa da Cultura, onde ele se deparou com um grande acervo de fotografias antigas, entre as quais chamaram a atenção do historiador aquelas que registraram a efervescência do velho cinema.

A história

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De acordo com o docente, após a participação no projeto que visava realizar um levantamento histórico de diversas fotos que, em sua maioria eram doadas, surgiu então, em 2018, a ideia de se pensar em algo direcionado ao Cine Marrocos. Apaixonado por cinema, os cartazes dos filmes sempre foram um dos objetos que mais chamaram a atenção de Geovanni, que afirma admirar as imagens e os traços artísticos que esses anúncios trazem.

Além do amor pela sétima arte, que coincidiu com a admiração ao cinema da Velha Marabá, para o professor, a história é curiosa e um marco importante para a região. “O Cine Marrocos aqui para Marabá é algo que chama bastante atenção, porque é uma cidade no sul do Pará, onde você tinha um cinema apenas, que, ouvindo algumas pessoas falarem, teve uma grande representatividade afetiva. Então, foi isso que despertou nossa curiosidade”, explica o professor ao CORREIO.

Em uma pesquisa minuciosa, por onde diversos dados históricos foram levantados, entre eles o ano de fundação, entrevistas, período de atividades paralisadas e cartazes de filmes da época, o historiador pôde se basear em documentos para assim conseguir mapear os eventos cronológicos e produzir a narrativa sobre o cinema.

“Queremos saber o que representou o Cine Marrocos. As sessões, os filmes, as leituras, porque é a história de um cinema que tem toda uma prática cultural em torno da Velha Marabá. Então, as pessoas viviam esse cinema. Já ouvi relatos de pessoas que não perdiam uma sessão, assistiam a todos os filmes, os lançamentos. Assim as pessoas sorriam, choravam, aplaudiam”, conta.

Professor Geovanni e os bolsistas Milena e Kleylson, que estão mergulhados no acervo da FCCM

O projeto

De acordo com o coordenador, o projeto é fomentado pelo PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica), plano que tem a intenção de apoiar e incentivar a política de iniciação científica criada nas instituições públicas e privadas de ensino e pesquisa, de todo o Brasil, como a Unifesspa.

Com o avanço dos trabalhos de pesquisa, a acadêmica Milena Tainar Lima Belchor foi a felizarda ao ser convidada pelo professor para atuar na coleta de informações que levarão à produção do livro. Acadêmica do curso de História da Unifesspa, estando atualmente no sexto período, ela ajudará na construção e entrevistas que serão desenvolvidas ao longo da pesquisa. “O projeto tem duração de um ano e durante esse tempo estaremos fazendo o mapeamento, realizando entrevistas com a população e escrevendo ao mesmo tempo. O que vai culminar no lançamento de um livro com as memórias do Cine Marrocos de Marabá”, esclarece.

Ainda de acordo com o professor, o trabalho da estudante visa pôr os alunos na iniciação científica e assim eles desenvolvem pesquisas e apresentam os resultados em congressos, simpósios, seminários e iniciação científica.

“No nosso caso, além do produto final que será o lançamento do livro e uma exposição no Palacete Augusto Dias, vamos ter também apresentações de trabalhos ao longo do percurso. Pretendo, se tudo correr bem, lançar o produto no final em novembro do próximo ano, por ocasião do aniversário da Fundação Casa da Cultura”, prevê.

O Cine Marrocos, atualmente é gerenciado pela Secretaria de Cultura do município. O prédio bem preservado revela sua nobreza com palco, escadarias, diversos assentos e ambiente climatizado. É um local que até hoje recebe shows de diversos artistas renomados do país e que permanece gravado na memória dos marabaenses.

À reportagem do Correio, Milena disse que as entrevistas com personalidades que viveram a era do Cine Marrocos só deve acontecer depois que analisar o material do rico acervo existente na FCCM. “Venho para cá todas as tardes, porque durante a manhã eu frequento as aulas do curso”, explica ela.

Ela iniciou a pesquisa em agosto último e já analisou mais de 350 fotografias sobre os filmes que eram exibidos no Cine Marrocos.

ACERVO DE FAMÍLIAS

Outra pesquisa que está em execução no acervo Arquivo Público Municipal “Manoel Domingues” é em relação aos álbuns de fotografias doados por famílias de Marabá e região. O trabalho é executado pelo bolsista Kleylson Lima das Virgens, também acadêmico do curso de História. “Mas também estou selecionando fotografias e realizando um trabalho escrito dos eventos culturais da cidade de Marabá com as fotografias disponíveis na Casa da Cultura. São eventos como Círio, aniversário de Marabá, Maraluar, Jogos Indígenas, Jogos Estudantis, Fecam, Festejo Junino e enchentes”, explica Kleylson, que está no primeiro ano da graduação e já analisou mais de 2.500 imagens. (Karine Sued e Ulisses Pompeu)