Correio de Carajás

Da periferia de Marabá às boas notas na Redação do Enem

Professoras da Escola Liberdade, Jesuslane e Rose comemoram com seus alunos o bom desempenho na redação do Exame Nacional do Ensino Médio

- Nas extremidades, as professoras Jesuslane e Rose vieram à Redação do CORREIO compartilhar os resultados no ENEM junto com os alunos

O Inep (Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais) divulgou na quinta-feira, 9, as notas do Enem 2022. Em Marabá, dez alunos da Escola Estadual de Ensino Médio Liberdade, ao lerem seus resultados, tiveram uma feliz surpresa: a pontuação na redação foi igual ou maior que 800 (200 pontos acima da média nacional).

Em entrevista ao CORREIO, nesta sexta-feira, quatro desses alunos e duas professoras contaram sobre os desafios enfrentados ao longo dos últimos anos e, também, como não poderia deixar de ser, compartilharam a alegria e empolgação com cada nota.

Jesuslane Alaine de Brito Carvalho Milhomem, professora de Língua Portuguesa, e Rose Lima Bezerra, professora de Sociologia são duas peças fundamentais nessa conquista. Juntas, ao longo de 2022, as educadoras lideraram um projeto interdisciplinar que trabalhou tanto o lado técnico e estrutural da redação, quanto propostas de intervenção para a prova (sugestão de ação ou medida para minimizar ou apontar um caminho para resolver determinada questão social).

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As atividades aconteceram ao longo de todo o ano letivo, com as três turmas do 3º ano da instituição, e culminaram em um ótimo resultado para alunos, professoras e escola. “Eles, em meio a inúmeras dificuldades que a escola apresenta – e a gente sabe da dificuldade que as escolas públicas passam por falta de políticas públicas -, se superaram e alcançaram uma nota que está bem acima da média”, celebra Jesuslane.

Rose, por sua vez, além de enxergar a importância da celebração da conquista, também destaca que as boas notas destes estudantes são fonte de inspiração para os demais: “Isso serve de influência e motivação para outros alunos da nossa comunidade, no sentido de verem a universidade e o ensino superior como uma meta, como um objetivo de superar as condições que a gente vive”.

E é justamente sobre a proposta de intervenção que a professora de Sociologia atuou com os alunos: “Nesse caso específico, a grande questão é que você tem um problema presente na sociedade, dada à violação de direitos (humanos) e instiga que o estudante pense, problematize e sugira a superação desses dilemas”. A interação entre a sua disciplina e a de Jesuslane é de construir o diálogo entre o domínio da escrita e da leitura de problemas sociais, propondo alternativas para sua superação.

Além do contato dentro da sala de aula, as professoras deram um passo a mais e acompanharam os alunos fora dela, através de um grupo de WhatsApp com aqueles que se inscreveram para a prova. A partir disso, foi possível saber quais notas eles alcançaram e quais faculdades eles irão buscar aprovação. A iniciativa é inédita para a escola, que até então não tinha informações sobre os resultados dos egressos.

Jesuslane e Rose se uniram para garantir que o máximo possível de alunos se inscrevesse no Enem, disponibilizando até mesmo um computador na escola para que o objetivo fosse alcançado. Elas também estão se disponibilizando para realizar as inscrições nas próximas etapas, como PROUNI e SISU.

COM VOCÊS, OS ALUNOS!

O jovem Diego Lugano dos Santos Lima, 16 anos, emplacou 900 pontos na redação. Ele explica que no dia da prova, enquanto se preparava para sair de casa, ouviu a música “Que país é esse?” da banda Legião Urbana e teve uma inspiração para escrever seu texto.

Ao descobrir o tema da redação, percebeu que seu “insight” combinava com a proposta e a partir daí, seu trabalho ficou mais fácil e ele afirma que terminou rápido e saiu confiante da prova. O que não esperava era alcançar os 900 pontos, conquista que rendeu uma longa comemoração com a família. Agora, ele está em busca da aprovação no curso de Psicologia e, no futuro, Filosofia.

“Foi difícil, eu não tinha muito apoio financeiro da minha família para fazer cursinho ou outros tipos de cursos além da escola pública. O meu maior apoio veio das professoras Jesuslane e Rose e houve um pouco de esforço da minha parte fazendo redações em casa, pesquisando assuntos sobre o Enem e estudando da minha casa mesmo. Cheguei na prova e eu estava calmo, não me desesperei, sabia que poderia conseguir uma nota boa. Eu achei um tema fácil”, recorda.

Já Tainá Santos Ferraz, 18 anos, alcançou 880 pontos e destaca os desafios vividos durante o período de preparação para a prova, como a ausência de materiais e recursos tecnológicos: “A preparação para o Enem foi um desafio, a gente não tinha todos os materiais, a falta da sala de informática, da biblioteca, de Datashow. Então, dificultou muito pra gente aprender muita coisa”.

Ela revela que este foi seu primeiro contato com a prova e que não esperava um bom resultado, alegando que muitas vezes alunos de escola pública se subestimam diante do Enem. Para o futuro, ela deseja o curso de Pedagogia.

Joyce de Oliveira Tabosa, 18 anos, alcançou 860 pontos e recebeu a notícia com grande alegria: “Quando descobri minha nota eu gritei, chorei de alegria e liguei para minha mãe. Achei que ia tirar uma nota mais baixa, que não ia alcançar um resultado tão bom. Quando eu vi, só soube agradecer a Deus, a minha mãe e às professoras. Se não fosse por elas, acho que nem conseguiria isso. Quero cursar Psicologia porque sempre tive um amor por essa área e se não der certo, vou tentar fisioterapia. Fiquei muito feliz pelo meu desempenho”.

“FIZ O QUE TNHA NA MINHA CABEÇA”

“Eu consegui trabalhar a redação do Enem de uma maneira muito mais simples. Cheguei lá e não me assustei, fiz o que eu tinha na cabeça”, é o que conta Sara Cristina da Silva de Carvalho, 18 anos, que marcou 900 pontos. Sua primeira opção seria medicina e para conseguir a aprovação, terá que tentar o Enem mais uma vez. A jovem destacou a gratidão pelo projeto interdisciplinar, iniciativa que possibilitou que ela aprendesse tanto sobre as estruturas da redação, quanto a como trabalhar as propostas de intervenção.

(Luciana Araújo)