Cultura popular, cotidiano, consciência crítica e cidadania participativa foram alguns dos pontos abordados durante a roda de conversa “Saberes Femininos”, sobre arte, educação e cultura, realizada no Campus 1 da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), na última segunda-feira (18).
A atividade é parte da programação que antecede a apresentação da peça musical A Fulô João do Vale, idealizada por Danielly Daissak, que participou da discussão junto das professoras Vanda Melo e Marize Fonseca e de Claudiana Guido, coordenadora de cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (Proex). O diálogo também contou com a presença de estudantes de pedagogia, tanto na graduação, quanto do mestrado, e de pessoas de fora da universidade. O convite foi feito pelo GERMINE Coletivas Femininas, com apoio da Proex/Unifesspa.
Segundo Danielly, as mulheres ali reunidas falaram sobre a arte ser um respiro e sobre como o processo da cultura popular, desenvolvida a partir da oralidade e da escuta, envolve uma retomada de quem a gente é. “Falamos dessa cosmo-percepção de viver a partir de outros lugares que a arte proporciona”.
Leia mais:A partir disso, diz, o grupo teceu questões que foram emergindo a partir das falas para citar a possibilidade de se “ser uma costureira de sonhos”, termo lançado na conversa pela professora Vanda Melo. “Como disse Vanda Melo, a arte é costurar sonhos, somos costureiras de sonhos”, observa Danielly.
Os participantes destacaram, ainda, a importância da cultura popular enquanto arte do cotidiano, que surge a partir de uma sensibilidade aflorada. “A gente canta na cultura popular para plantar, para colher, para comer, essa arte que vem para provocar, para enfrentar medos, que é feita em coletivo, nessa ação de transformar os lugares, onde a gente também passa, comemora, então é esse corpo que vai se moldando dentro dessa arte, que se desafia do desconforto”, diz Danielly.
Neste sentido, acrescenta, essa arte se constrói para além do grande espetáculo midiático, e sim no cotidiano, feita pelos trabalhadores da cultura popular como, por exemplo, os artesãos, costureiros e os abridores de letras, pessoas que fazem os desenhos em barcos de madeira. “É essa arte do cotidiano, que nos rodeia nas simplicidades. O simples é tão artístico quanto o espetáculo”.
Por fim, relata, o grupo debateu os desafios de se trabalhar com a arte e com a cultura popular e dividiu histórias e espelhamentos. “Tratamos das memórias e vivências que nossas produções vão nos trazendo e que partem da nossa realidade. A arte tem também esse papel de consciência critica e cidadania participativa”.
A FULÔ DO JOÃO DO VALE
A peça musical será apresentada pela primeira vez em 14 de outubro, no Teatro do Núcleo de Oficinas do Curro Velho, no bairro do Telégrafo, em Belém, e traz consigo a oportunidade de refletir sobre questões sociais latentes do Brasil, através de uma interpretação de obras do maranhense João do Vale, “o poeta do povo”, nascido em 11 de outubro de 1933, no Quilombo Lago da Onça, em Pedreira.
O espetáculo é idealizado por Danielly, artista paraense com origens maranhenses, e está sendo realizado graças ao edital Prêmio FCP de Incentivo às Artes e à Cultura – 2023, da Fundação Cultural do Pará, na categoria Música. O espetáculo será gratuito e livre para todos os públicos e será oferecida, ainda, uma oficina dividida em três partes e destinada a crianças de 7 a 12 anos, nos dias 18, 19 e 20 de outubro. (Thays Araujo)