No Pará, a expectativa é que sejam registrados 1.020 novos casos de câncer de mama somente este ano. A doença tem como fatores de risco a obesidade, o sedentarismo, o uso prolongado de contraceptivos e histórico familiar. Os especialistas recomendam a consulta ao médico, ao se perceber mudança de textura na pele das mamas, lesão que não cicatriza, secreção ou, ainda, afundamento ou endurecimento da pele.
Mas, tão necessário quanto o tratamento clínico para combater o câncer de mama é o acompanhamento da saúde mental da paciente no antes, durante e depois, visto que se trata de um enfrentamento que costuma exigir muito emocionalmente, a ponto até de interferir no processo de cura se for negligenciada. Um dos objetivos da campanha Outubro Rosa de conscientização para a prevenção e enfrentamento da doença, bem como do câncer de colo de útero, é justamente frisar o tanto que é essencial haver essa atenção dupla e em mesmo nível de importância.
Quem pode falar disso com muita propriedade é a servidora pública e cantora Noemi Cunha, de 56 anos, que enfrenta um câncer de mama descoberto em maio de 2021 no Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, local onde cumpre e segue cumprindo todas as fases do tratamento – incluindo o acolhimento emocional.
Leia mais:“Foram dois meses desde a primeira consulta até a conclusão do diagnóstico, desde o início foi tudo no HOL, e desde esse período eu já passei a receber suporte psicológico, que foi importante demais para mim, ao perder a minha mãe para a mesma doença. Esse acompanhamento me fortaleceu”, confirma. “Posso dizer que em um tratamento como esse, o cuidado com a saúde mental é o primeiro passo. No Hospital mesmo digo que fiz uma família, que apoia, que troca experiências, de onde recebo uma energia muito bacana. Da consulta à cirurgia e ao acolhimento, tudo foi muito completo até agora, eu não tenho uma reclamação”, reforça.
Repercussões – Psicóloga do Hospital Ophir Loyola, Marcela Andrade explica que o câncer de mama pode acarretar muitas consequências emocionais que necessitam de suporte e cuidado. O tratamento não deve se resumir apenas à parte clínica, mas abrange também esses atravessamentos psicológicos, porque o suporte profissional e familiar ajuda nesse enfrentamento do paciente e favorece que ele viva esse processo de uma forma mais acolhedora, humanizada e respeitosa.
“Os problemas mais comuns de saúde mental envolvem ansiedade, medo, insegurança, angústia, tristeza, preocupação com o quadro clínico, com a cirurgia em si, com os possíveis desdobramentos, tais como a possibilidade de complicações clínicas, mudanças na autoimagem, na funcionalidade, na dinâmica familiar. Como recomendações, é importante investir tempo de qualidade com pessoas próximas, praticar atividades de lazer, ampliar o cuidado de si e buscar ajuda profissional para ajudar nessa trajetória terapêutica quando for necessário, acolher os sentimentos que permeiam essa experiência e se cercar de recursos que possam auxiliar no processo de enfrentamento”, recomenda a profissional.
Ainda de acordo com Marcela esses recursos podem envolver aspectos ligados ao suporte da família, ao suporte social, à espiritualidade, o autocuidado, à percepção de si em suas potências, entre outros. Também por isso o HOL oferece apoio psicológico.
“Minha experiência profissional, no caso, envolve a atuação na internação e no ambulatório, mas também existe o apoio no processo de quimioterapia. Geralmente, os pacientes internos, para realizar cirurgias, como, por exemplo, a mastectomia e a reconstrução da mama, elas recebem suporte emocional nesse momento importante. Na internação, são feitas visitas psicológicas aos leitos, avaliando e acompanhando a demanda emocional de cada paciente. O hospital também oferece acompanhamento psicológico ambulatorial e o encaminhamento pode ser feito por outros profissionais do ambulatório, pelo acolhimento psicológico ou após a alta da internação, quando identificada a necessidade”, detalha.
Atualmente, o ambulatório da psicologia funciona terça e quinta, de 9h30 às 13h, conforme a demanda. O tempo do apoio psicológico é conforme a demanda emocional que o paciente apresentar, então é observado de caso para caso.
Atenção indispensável – Mastologista do Ophir Loyola, Camila Loureiro, lembra que saúde mental é um componente importantíssimo da saúde integral do ser humano, independente de seu estado clínico, tendo uma importância ainda mais relevante no contexto do diagnóstico e do tratamento do câncer de mama. Isso porquê muitas vezes a pessoa com esse diagnóstico se vê diante de muitas mudanças físicas, como alteração de peso, alterações da pele, perda de cabelo, por exemplo, que podem trazer desconhecimento de si mesma e angústia. Além disso, o tratamento pode levar a alterações de sua rotina, como afastamentos do trabalho e de determinados convives com familiares e amigos, e a pessoa pode sofrer com esse isolamento social.
“Somando-se a este contexto, toda a apreensão decorrente do diagnóstico em si de uma doença tão envolvida em preconceito durante tanto tempo, pode fazer com que essa apreensão traga o sentimento de solidão, tristeza e angústia, inclusive de insegurança a respeito de suas relações interpessoais, mesmo as mais íntimas. É fundamental que não só quem está passando pelo processo de tratamento do câncer de mama mas também quem participa do seu convívio, em especial os mais próximos, atentem para este momento e reforcem a rede de apoio, dando mais autoconfiança e positividade para fortalecer a resiliência necessária para seguir adiante”, garante a médica.
Camila faz questão de reforçar que é imperativo que toda equipe multidisciplinar esteja atenta à saúde mental e emocional da paciente com câncer de mama, inclusive sinalizando familiares e acompanhantes a respeito de sinais de alerta. “Mesmo com as melhores intenções, por vezes testemunhamos em consultório falas de pessoas próximas a pacientes que podem levá-la a um lugar de culpa, por não procurar ajuda médica antes ou por supostamente ter negligenciado a doença, por exemplo. Agora, uma intervenção respeitosa do profissional se faz necessária, com acolhimento não só para a paciente, mas também para seus acompanhantes, pois muitos podem não perceber o peso de suas palavras”, justifica.
Ela pontua inclusive ser indispensável cuidar desse cuidador, pois todo o entorno da pessoa com câncer de mama está participando da jornada de tratamento. Caso se perceba sinais persistentes de emoções como ansiedade e angústia que prejudiquem a qualidade de vida da paciente ou o andamento de seu tratamento, é importante que se procure ajuda de profissional para acompanhamento em conjunto.
Prorrogação – A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) leva até dezembro a campanha do Outubro Rosa que este ano traz o tema “Vem te cuidar”. Dentre os objetivos da ação estão o fortalecimento e a detecção precoce dos cânceres de mama e colo do útero, além da facilitação ao acesso à rede estadual de média e alta complexidade composta pelo HOL, Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, Hospital Regional Castanhal (HRPC), Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) e Hospital Regional de Tucuruí (HRT).
Segundo a coordenadora de Oncologia da Sespa, Patrícia Martins, a expectativa é que entre outubro e dezembro sejam realizadas três mil consultas ginecológicas, mil biópsias de colo do útero e colposcopia, mil cirurgias ginecológicas, 115 reconstruções mamárias pós-mastectomia, 400 cirurgias mamárias, mil biopsias de mama, dez mil ultrassonografias mamárias e ginecológicas, 15 mil mamografias e três mil consultas com mastologista.
(Agência Pará)