Correio de Carajás

CRÔNICA OURIÇO CHEIO| O ontem com cara de amanhã em Marabá

Talvez 15 de novembro seja o dia mais importante do ano em Marabá. E em várias partes do País. Será dia de voto na urna, de buscar mudança ou de manter algo que se pensa estar dando certo.

Será um dia marcante, feito um daqueles depois da noite de Natal. Dia seguinte, achando bom, mais ou menos ou ruim o presente recebido. Ou decepcionado, mesmo, porque presente não há.

Um dia semelhante, talvez, a um 1º de janeiro de todo ano e a expectativa de que algo será melhor só porque, na noite anterior, despachamos o amargoso que ficou do ano velho.

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Dificilmente amanhecerá, debaixo da rede, uma boneca Amiguinha ou o Autorama do Fittipaldi. Para alguns, provável. Os rumos de 2021, 2022, 2023 e 2024 começaram a se desenhar nesta quarta-feira, dia 16, quando encerraram as composições das chapas para definição dos nomes de candidatos a prefeito e vereador para o próximo quadriênio. Eles chamam isso de convenções partidárias.

Eu chamo de o dia de escavar o futuro, mas por meio de voto. De qualquer jeito, com os cinco candidatos a prefeito que já temos em Marabá, vou pra rua assim que amanhecer 16 de novembro. Entender o que será dali pra frente.

Para mim, parece o Natal. Meninos e meninas na calçada, uns puxando o cordão do carrinho de plástico, outras embalando bonecas de papelão, alguns de revólver e espoleta.

Fico lembrando! Quando não havia dinheiro para ir ao Armazém Paraíba ou à A Credilar comprar um sonho de consumo – martelado o mês inteiro nos outubros – se reinventava a gramática da brincadeira.

Trepar goiabeira, jogar de pedra, chutar bola de meia no gol a gol, jogar peteca, pular elástico, rachar com uma bola Dente de Leite no meio da rua, brincando o travinha…

Presente, quem sabe, seja este tempo. Com todos os perigos e os riscos de voltarem os valentões, os preconceituosos, os que acabavam com a brincadeira porque eram os donos da bola. Sim, o futuro também nos mete medo. De voltarmos ao passado recente, de atropelos e fantasias.

Era como na infância. A volta das abestadas que faziam inveja porque só elas tinham a boneca que mandava beijo e andava de velocípede.

Ainda bem que uma geração de brincantes, nascida no pós-ditadura (1964-1985), não aceita mais os que querem acabar a brincadeira na porrada. Um povo que não engole os que acham que meninos só brincam de bola e meninas, de boneca.

Um bando de gente que não conheceu o “cala boca, menino”. Porque “cala boca”, de verdade, já morreu faz tempo e ninguém manda na vida de ninguém.

Vamos fazer assim, quando o galo amanhecer em 16 de novembro, e insistir em cantar – com presente ou sem regalo – vai ter brincadeira de qualquer jeito.

Vou para o meio da rua, não exatamente para comemorar, mas para sonhar. Porque após o resultado de toda eleição, precisamos nos permitir sonhar.

Mas, antes de sonhar, é preciso votar com consciência, analisando o perfil do candidato. Não adianta votar no amigo, no vizinho, mas naquele que fará o melhor pela cidade inteira.

Na minha mente, política, voto e infância têm a ver sim. Estão interligadas porque falam de sonho.

Eu quero continuar sonhando. Por que sonhar não custa nada.

 

* O autor é jornalista há 24 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira