Quando a vida no seu curso quase que natural me convocou à definição de que rumo profissional seguir, fiz falar mais alto o gosto pela leitura e por disciplinas como Literatura, História e Língua Portuguesa, das quais, ainda que na condição de estudantes inquieto do Ensino Médio, e não raro advertido, conseguia detectar aptidão e extrair bons resultados. Em linhas gerais, o bê-á-bá da grande maioria dos relatos dos colegas.
A partir daí não demorou para que o Jornalismo entrasse nos meus trilhos, ou eu entrasse nos seus. E foi exatamente durante uma greve da UFPA, em 1996, que aproveitei o horário vago das manhãs para tentar mendigar uma vaga de estagiário sem remuneração na Redação do Jornal CORREIO DO TOCANTINS.
Precisei ir dez vezes (não é hipérbole) para tentar falar com o chefão Mascarenhas Carvalho, o diretor-presidente que tinha mil funções em sua empresa.
Leia mais:Até que eu fizesse parte desta engrenagem, foram alguns “nãos” que, percebo novamente ao produzir esse relato, tiveram muita importância na medida em que me abasteceram de ânimo para seguir buscando o primeiro estágio. Até entrar na Redação, enfim, graças à boa vontade e intuição de Mascarenhas após a entrevista.
Cultivo com bom humor a lembrança de o “sim“ ter me feito sair andando em minha bicicleta Caloi 10, num tipo de alegria que ainda não havia experimentado e, por isso mesmo, não sabia direito como lidar.
Até queria dizer que a VP-8 estava tomada de ipês, de modo a conferir certo contorno poético ao texto. Pura mentira! Era só mesmo o engarrafamento e o som das buzinas que ali pelo fim da manhã davam ritmo àquele meu agito interno, posteriormente regado a um lanche na Lanchonete Amazonas, com dois amigos.
E assim foi ao pisar pela primeira vez e muito nervoso na Redação para iniciar no Jornal e, pouco depois, ajudar a produzir as matérias sobre o Massacre de Eldorado do Carajás, num lapso de atrevimento encorajado pelo jornalista Waldyr Silva.
Fiquei por lá uns três meses e, quando findou a greve, ele me pediu para continuar trabalhando, pelo menos à noite. E mesmo frequentando os bancos da universidade, a relação já existente com o CORREIO DO TOCANTINS prosseguiu e foi, ao seu tempo, se preenchendo de sentido.
Ainda apenas no campo da intuição, via nas páginas deste aniversariante de 38 anos qualquer coisa com que me identificava. Não sabia bem o que era, não havia ainda conseguido transferir aquelas sensações para o terreno da razão.
Talvez tenha sido um conjunto de frases simples e claras vindas de professores e de meu colega Waldyr Silva, a abertura de uma porta para o entendimento sobre essa afinidade mal compreendida. Lembro de uma do meu amigo Ademir Braz que resume bem: “Vá para o CORREIO, que fuça mais as histórias”.
É possível que tenha sido ali que eu tenha percebido com mais clareza a conexão entre o meu jeito inquieto e o DNA deste Jornal, comprovado nos profissionais que passaram e estão nesta Casa, nas reportagens que assinaram, que me fizeram ficar. Em 24 anos, também dei minhas contribuições, sobretudo em reportagens especiais e ajudei nas concepções gráficas corajosas, de vanguarda mesmo, para produção de cadernos especiais.
O único ressentimento que tenho é de ainda não ter ganho um prêmio de jornalismo por este veículo (mas também, nunca tentei inscrever uma reportagem em premiação pelo impresso). Nos últimos anos, me afastei mais da Redação do Jornal e fiquei mais focado como editor do Portal CORREIO DE CARAJÁS, vieram dois prêmios de jornalismo, mostrando que o filho do impresso tem futuro.
Olho, agora, para o nosso estagiário da Redação, Henrique Garcia, que começa a forjar seu caminho por aqui, enquanto suas aulas presenciais no curso de jornalismo estão suspensas.
Nem tudo são flores, mas existem bases muito sólidas, mantidas e renovadas, sobre as quais é possível se amparar em momentos bons e adversos do ofício. Por aqui, carrego o sentimento de que quero continuar. O autor é jornalista há 24 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira. (Ulisses Pompeu)