O assassinato do paciente Bruno Fernandes Mendes, de 20 anos, morto a tiros por pistoleiros, dentro do Hospital Municipal de Marabá (HMM), na madrugada de terça-feira (27), chama atenção para outro problema: a falta de segurança dos servidores que trabalham na casa de saúde. Até porque esta não foi a primeira vez que algo do tipo aconteceu. O problema é que talvez não será a última.
Glécia Milhomem, técnica em Enfermagem, que atuou por 11 anos no HMM, relata que já viveu situações de apreensão e medo no hospital. Ela diz já ter visto, durante uma madrugada, um paciente baleado ser arrancado do leito, com os curativos ainda no corpo, e ser levado para fora porque pessoas queriam fazer justiça com as próprias mãos. “Invadiram o hospital, arrastaram o rapaz, arrancaram o dreno, foi uma situação bem complicada, bem difícil. Até hoje meu psicológico fica afetado”, relata, ao acrescentar que os profissionais de Saúde estão ali para atender a todos que chegam, independente do que fizeram.
Ainda de acordo com ela, os profissionais de Saúde precisam ter o mínimo de segurança porque trabalham com vidas humanas e ninguém merece presenciar uma mãe (a genitora de Bruno) testemunhar o assassinato do filho sem nada poder fazer.
Leia mais:“Me chocou muito essa situação de uma mãe gritando, pedindo ajuda e a gente sem poder fazer nada nessa situação de violência, isso fica marcado na alma do servidor, na alma dos usuários que ali estavam presentes”, observa.
Glécia, que integra o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Pará (Sintesp), em Marabá, explica que a entidade está cobrando providências das autoridades, porque não é a primeira vez que isso ocorre. Para tanto, o sindicato encaminhará ofícios, nesta quinta-feira (29), pedindo reunião com representantes da Secretaria Municipal de Saúde, da Câmara Municipal, do Ministério Público e com o próprio prefeito.
Hospital se manifesta
Durante esta quarta-feira, o CORREIO enviou mensagens e fez telefonemas para a Secretaria Municipal de Segurança Institucional (SMSI), na tentativa de saber se alguma nova medida de segurança seria tomada em relação à segurança de servidores e usuários da casa de saúde, mas não houve retorno. Por outro lado, a direção do HMM se manifestou ainda na terça-feira sobre o assunto.
Em nota, a direção explicou que os cinco criminosos que tiraram a vida do paciente entraram normalmente no hospital, em direção ao Pronto Socorro, como se procurassem atendimento. “Lembrando que o HMM é um Hospital de portas abertas, que não pode negar atendimento nem entrada de quem quer que seja”, diz nota do hospital.
Ainda de acordo com a direção da casa de saúde, as cinco pessoas desceram rapidamente do carro, renderam um dos maqueiros que foi em direção ao veículo para prestar auxílio aos possíveis pacientes. Sob mira de armas, todos se dirigiram ao bloco B (ala cirúrgica), onde se encontrava a vítima, que havia sido operada na noite de domingo (25), devido a uma outra tentativa de assassinato a bala, cujo projetil perfurou o intestino.
“Assim que os invasores executaram a vítima, se evadiram do local. É importante ressaltar que o HMM possui segurança normal e com Guardas Patrimoniais e que o acesso ao Pronto Socorro é livre em função do serviço prestado”, diz a nota do HMM.
Histórico de invasões
Esta não foi a primeira vez que uma ocorrência desse tipo se registrou em Marabá. Em 2015, dois homens que haviam matado um policial e foram baleados, acabaram mortos a facadas dentro do hospital. Foi uma madrugada de terror.
No início dos anos 2000, um assaltante baleado também foi alvo de criminosos, que tentaram matá-lo dentro do Municipal. Ele sofreu cerca de 10 tiros, mas sobreviveu ao atentado.
Mais recentemente no Hospital Regional de Marabá, pistoleiros entraram na casa de saúde e tentaram matar um cabo da Polícia Militar, que estava internado lá. E em Parauapebas, no ano de 2017, um líder sem-terra também foi morto por homens encapuzados dentro do hospital.
Várias imagens estão sendo verificadas
Além das imagens das câmeras do circuito interno do Hospital Municipal de Marabá, que foram encaminhadas para a Polícia Civil, para ajudar nas investigações, o Departamento de Homicídios está colhendo imagens também de outras câmeras de segurança espalhadas ao redor da cidade.
A informação foi repassada ontem (28) pelo delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana. Segundo ele, a intenção da Polícia Judiciária é tentar identificar a rota traçada pelos pistoleiros que mataram Bruno Fernandes Mendes.
“Sempre é um desdobramento natural fazer a coleta de imagens no local. A polícia esteve no hospital municipal já fazendo a análise dessas imagens e, inclusive, em outros locais para compreender toda a dinâmica do deslocamento desses criminosos e a dinâmica desse crime”, disse o delegado.
(Chagas Filho, Ulisses Pompeu e Zeus Bandeira)