Correio de Carajás

Crime ambiental com morte de capivaras, jacarés e peixes em Marabá

Região dos Lagos sofre ataque violento de predadores humanos em Marabá. Ministério Público já está agindo para identificar os responsáveis e puni-los na forma da lei

Moradores registram imagens de um jacaré que sofreu um corte profundo no pescoço

O meio ambiente marabaense tem sido violentado de maneira cruel e intensa há alguns dias. Animais como capivaras, jacarés e peixes têm sofrido nas mãos do predador mais feroz da natureza: o homem. O crime ambiental, que já está sendo investigado pelo Ministério Público do Pará (MPPA), acontece na “região do Carrapato”, próximo ao Geladinho, em Marabá. Os danos causados àquele ecossistema possuem um impacto incalculável.

Na região está localizada a chamada planície de inundação, uma área alagável que se conecta ao rio e foi batizada como Paleocanal do Rio Tocantins. Atualmente, a comunidade científica da região de Carajás luta para tornar essa área em uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável, chamada de Área de Proteção Ambiental (APA). Diante da degradação a qual esse ambiente é exposto, a luta intensa pela sua preservação deve ser vencida o quanto antes.

A rica diversidade ecológica do Paleocanal do Rio Tocantins o torna um alvo fácil para predadores

A denúncia recebida pelo Correio de Carajás está acompanhada de imagens chocantes, que registram a ferocidade dos predadores humanos e o impacto das ações selvagens. O relato adverte que um pré-candidato a vereador está por trás da mecânica da ação criminosa. O seu nome não foi revelado, mas as autoridades estão investigando.

Leia mais:

Ele seria responsável por instigar moradores locais – e até mesmo de fora – a usarem aquele local de forma predatória. Alguns deles são oriundos dos estados do Maranhão e do Tocantins.

DESTRUIÇÃO

Um cinegrafista amador filmou os restos mortais de uma capivara. Dela, os caçadores só pouparam a cabeça e o couro, pois a carne foi retirada e levada para ser consumida ou vendida. Conforme a gravação avança, é possível ver alguns filhotes mortos, espalhados pelo chão. A hipótese é que a capivara era uma fêmea que estava prenha quando seu corpo foi dilacerado.

Esta capivara fêmea foi morta para retirada da carne; os filhotes morreram por inanição

Além dessa espécie, também há registro de vários jacarés mortos ou feridos. Um deles foi golpeado com um objeto cortante na região do seu pescoço. Aparentemente. a intenção do predador humano que o golpeou era decepar sua cabeça, mas não foi bem sucedido. Entretanto, um outro animal não teve a mesma sorte e uma outra foto mostra um crânio de jacaré jogado no meio da estrada.

Até mesmo um cachorro sofreu na mão dos criminosos e parte de seu corpo ficou extremamente ferida.

Até mesmo um cachorro foi vítima da violência dos predadores

Uma outra filmagem mostra alguns peixes no chão, mortos. A pessoa que está filmando explica que o método adotado para a pesca utiliza um produto que é jogado na água para atordoá-los e facilitar a captura. O homem lamenta que a ação depredadora ocorreu no quintal de sua casa.

A situação é tão crítica que levou ao desespero algumas famílias que moram nas margens dos lagos. Uma das residências, que possui câmera de segurança, registrou a chegada de alguns dos caçadores que provavelmente estavam à procura de um local para fixar acampamento e atuar na madrugada. Sem saber como combater os predadores, eles clamam ao poder público por ajuda.

 

 

LAGO DO DESERTO

A depredação ocorreu na região do Lago do Deserto, que está dentro do Paleocanal do Rio Tocantins. Devido sua proximidade com o núcleo São Félix e a fácil chegada pela estrada do Geladinho, o local está vulnerável ao acesso indiscriminado de pessoas.

Moradores locais fizeram fotos que mostram diversos veículos estacionados naquela região. Pessoas que vão até ali com um único objetivo: destruir aquele ecossistema.

O Lago do Deserto é um dos 56 lagos que estão em uma área de 31.736,9 hectares, dentro da área do Paleocanal do Rio Tocantins, que abrange regiões dos municípios de Marabá, Itupiranga e Nova Ipixuna.

Atualmente, cientistas da Fundação Casa da Cultura e da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) trabalham para tornar a área do Paleocanal do Rio Tocantins uma Área de Preservação Ambiental.

A região dos lagos possui uma imensurável importância geológica, biológica e arqueológica que ainda precisa ser catalogada.

Devido sua riqueza ecológica, a região é um alvo fácil para os predadores humanos, o que reforça a importância do MPPA em combater os crimes ambientais que são registrados de maneira recorrente naquele lugar. (Luciana Araújo e Ulisses Pompeu)