Correio de Carajás

Crianças abandonadas geram muita comoção

As quatro crianças encontradas em situação de extrema vulnerabilidade social esta semana na Nova Marabá estão aos cuidados da prefeitura, no Espaço de Acolhimento Provisório (EAP). Com um futuro incerto, o caso delas é grave e revela o pior estágio da desagregação familiar, onde as crianças são sempre as que mais sofrem.

A Polícia Civil chegou até elas por meio de uma denúncia anônima. O caso se registrou na Folha 31 e não na Folha 11, como chegou a ser divulgado. No local, onde elas foram encontradas era insalubre, contaminado por lixo, fezes e não havia comida na geladeira. Uma das imagens que mais chamou atenção foi a foto de uma das crianças com queimaduras no rosto e no tórax, fruto de um acidente quando ela tentava cozinhar seu próprio alimento.

A mãe das crianças, Leudinalva Ribeiro Alves, de 30 anos, foi ouvida em auto de qualificação e interrogatório e indiciada, conforme explicou a delegada Simone Felinto, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DEACA).

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Ainda de acordo com a delegada, durante o depoimento a mãe das crianças revelou que foi vítima de tentativa de feminicídio pelo pai dos meninos, o qual inclusive está preso. “Uma família em extrema situação de vulnerabilidade”, resumiu a delegada, acrescentando que Leudinalva, durante o interrogatório, falou até em cometer suicídio.

Leudinalva passava o dia fora de casa e, às vezes, também a noite, fazendo “bicos” de venda de peixe na Feira da Folha 28, jogando baralho e ingerindo bebida alcoólica. A reportagem tentou falar com ela, mas não conseguiu encontrá-la. A informação obtida pela reportagem é que Leudinalva está passando a noite no abrigo com os quatro filhos.

A reportagem do jornal voltou ao local onde as crianças foram encontradas. Vizinhos, que preferiram não se identificar, disseram que as pequenas vítimas de maus tratos passavam o dia na rua e não tinham o que comer. Um dos moradores confirmou que eram as crianças que cozinhavam seu próprio alimento, por ficarem quase o tempo todo sozinhas.

Outro vizinho diz que os moradores da área ficavam o tempo inteiro de olho nas crianças temendo que algo de ruim acontecesse a elas. Inclusive, no dia anterior à descoberta da situação por parte das autoridades, as crianças ficaram na casa de uma vizinha, onde forma alimentadas e tomaram banho, até a hora de a mãe chegar, já de madrugada.

Os vizinhos comentaram que vez em quando ajudavam com doação de roupas e até colchão, mas não adiantava porque a mãe não cuidava como deveria. A situação foi se agravando até que foi feita a denúncia. “As crianças precisam ser tratadas com amor, com atenção, porque não é questão de ser pobre, porque a maioria de todos nós é pobre, mas vamos ter cuidado com as crianças, vamos ter limpeza”, desabafou uma das vizinhas.

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A Secretaria de Assistência Social da Prefeitura (SEASP) informou que sua parte está sendo feita, que é cuidar das crianças no EAP, ficando agora por conta do Poder Judiciário a decisão sobre o destino dessas crianças.

(Chagas Filho)