Correio de Carajás

Covid-19: insônia duradoura é uma das sequelas da doença

Mais de 70% de pacientes que sofreram a forma leve da doença, sem necessidade de internação, desenvolveram insônia depois de já não testarem mais positivo. Ansiedade e depressão pioram o quadro

Foto: Freepik

Um dos sintomas persistentes após a infecção por covid-19 é a insônia. Segundo um estudo publicado, ontem, na revista Frontiers in Public Health, pessoas que sofreram da forma leve da doença têm, de fato, um risco 76% mais elevado de desenvolver o distúrbio do sono. Ansiosos ou pacientes com depressão estão entre os mais vulneráveis, diz o estudo da Universidade de Phenikaa, no Vietnã.

“Como pesquisador do sono, recebi muitas perguntas e reclamações de parentes, amigos e colegas sobre seus distúrbios do sono após a recuperação da covid-19”, relata Hoang, principal autor do estudo. “Descobri que a maioria dos artigos se concentrava em pacientes hospitalizados. O ambiente de seu tratamento e quarentena seriam muito diferentes daqueles com sintomas mais leves.”

Utilizando a rede oficial de sobreviventes da covid-19 do país asiático, os cientistas recrutaram 1.056 pessoas com mais de 18 anos, que tinham sido diagnosticadas com a infecção, mas não foram hospitalizadas nos últimos seis meses, e que não relataram histórico de insônia ou problemas psiquiátricos antes do Sars-CoV-2.

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Gravidade

A pesquisa perguntou sobre características sociodemográficas, como idade, sexo e condições crônicas, além da duração e da gravidade da infecção por covid-19. Também mediu sintomas de ansiedade, estresse e depressão vivenciados pelos pacientes. Para investigar os níveis de insônia, os participantes foram convidados a comparar a qualidade e o tempo de sono, e quão fácil foi adormecer nas últimas duas semanas, em comparação com antes de contrair a doença.

No total, 76,1% dos participantes relataram ter insônia: 22,8% deles disseram ter a forma mais grave do distúrbio. Metade afirmou que acordava com mais frequência durante a noite, enquanto um terço destacou que tinha mais dificuldade para adormecer, dormia pior e por menos tempo.

A gravidade da infecção inicial não parecia estar correlacionada ao nível da insônia. Embora os pacientes assintomáticos com covid-19 tenham pontuado mais baixo no índice do distúrbio do sono, a diferença não foi estatisticamente significativa.

“Se você sentir insônia após a covid-19, não pense que isso é normal”, alerta Hoang. “Se a insônia não incomoda muito, você pode tomar algumas atitudes simples, como tomar um banho quente antes de dormir, desligar o celular pelo menos uma hora antes, fazer 30 minutos de exercícios por dia e evitar cafeína depois das 16h. Caso a insônia realmente o incomode, consulte um terapeuta do sono.”

Ansiedade

Dois grupos de pessoas apresentaram taxas mais altas de insônia estatisticamente significativas. Eram as que tinham uma condição crônica pré-existente ou sofriam de sintomas depressivos e de ansiedade. Em todos esses casos, o distúrbio do sono foi mais grave. Pacientes depressivos e ansiosos apresentaram os maiores escores da amostra.

No entanto, estas doenças não são completamente independentes umas das outras, ressalta Hoang. A insônia pode piorar a saúde física e mental, além de ser causada por esses mesmos problemas.

Os cientistas salientaram que a taxa de insônia relatada pelos pacientes não só é muito superior à verificada entre a população em geral, mas também à encontrada em pessoas hospitalizadas com covid-19.

Os pesquisadores também sublinham que é necessária uma abordagem holística para abordar todos os fatores que contribuem para a insônia, além de uma investigação mais aprofundada da relação entre covid-19, problemas de saúde mental e a insônia. “Como este é um estudo transversal, a relação da ansiedade e da depressão com a insônia não pode ser totalmente investigada”, alertou Hoang.

(Correio Braziliense)