O filme Coringa, do diretor americano Todd Phillips, conquistou no sábado o Leão de Ouro, o prêmio máximo concedido para o melhor filme do festival de Veneza.
O longa-metragem, que retrata uma versão alternativa à origem do supervilão das histórias em quadrinhos do Batman, estrelado pelo ator Joaquin Phoenix, deixou muitos espectadores surpresos e críticos alvoroçados em Veneza, embora não seja o tipo de filme que costuma fazer sucesso na mostra.
As películas Roma, de Alfonso Cuarón, e A Forma d’Água, de Guillermo del Toro, foram as vencedoras nos anos anteriores – e, na sequência, arremataram a estatueta do Oscar de melhor filme estrangeiro e melhor filme, respectivamente.
Leia mais:Mas um filme de super-herói nunca havia conquistado esse prêmio. Até hoje.
Tanto o filme – com estreia prevista para outubro na maior parte do mundo – quanto a atuação de Phoenix foram aclamados por grande parte da crítica.
O jornal britânico The Guardian classificou o longa como “gloriosamente ousado”, enquanto a revista Total Film, especializada em cinema, afirmou que era “desafiador e subversivo”.
A interpretação de Phoenix foi descrita como “imponente” e “incrível” pelas revistas americanas The Hollywood Reporter e Variety, respectivamente.
Há, no entanto, quem não tenha ficado tão entusiasmado, como Stephanie Zacharek, da revista Time, que em sua crítica chama o filme de “agressivo e possivelmente irresponsável”.
“Phillips pode querer que a gente pense que ele está lançando um filme sobre o vazio da nossa cultura. Mas, na realidade, só está oferecendo um excelente exemplo disso”, escreveu Zacharek.
Ao retratar a vida do comediante Arthur Fleck, que vem a se tornar o Coringa, o longa apresenta uma crítica à maneira pela qual a sociedade marginaliza pessoas com doenças mentais.
Fleck, que trabalhava como palhaço durante o dia, vê sua vida caminhar para a criminalidade quando seu sonho de ser comediante de stand-up começa a desvanecer.
O trailer do filme, lançado no fim da semana passada, já teve mais de 30 milhões de visualizações.
A caminho do Oscar?
O personagem Coringa já foi interpretado pelo ator australiano Heath Ledger, falecido em 2008, que ganhou o Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante por sua atuação em Batman: O Cavaleiro das Trevas, sucesso de bilheteria em 2008.
Mas, de acordo com o crítico Jim Vejvoda, Phoenix também merece um Oscar por sua interpretação “fascinante (e) totalmente comprometida”.
“Um indicado ao Oscar já está a caminho”, concordou David Sexton no tabloide inglês London Evening Standard, elogiando a “performance absolutamente conturbada” de Phoenix.
O ator de 44 anos já recebeu indicações ao Oscar por seus papéis nos filmes Gladiador, Johnny & Junee e O Mestre.
Mas ainda não ganhou o prêmio.
De acordo com Phil De Semlyen, da revista Time Out, Coringa é uma “reinvenção implacável, sombria e visceral do supervilão da DC (Comics, editora americana especializada em histórias em quadrinhos)”.
No entanto, o crítico Glenn Kenny não hesita em desqualificar a suposta mensagem do filme: “Como crítica social, Coringa é um lixo pernicioso.”
Zacharek, que criticou a agressividade do filme na revista Time, ironiza: “Phoenix se esforça tanto para atuar que você pode sentir o desespero pulsando em suas veias.”
“Dá vontade de começar uma arrecadação de fundos no GoFundMe para que ele não precise voltar a suar tanto no trabalho. Mas a agressividade terrível na atuação não é totalmente culpa dele”, diz Zacharek ao criticar a história apresentada por Phillips.
“Os buracos no filme, e praticamente só há buracos, estão cheios de falsa filosofia”, acrescenta. (Fonte:BBC)