Correio de Carajás

COP30: Unifesspa destaca papel estratégico das universidades amazônicas na transição climática justa

Realizado na quinta-feira (13) pelo Ministério da Educação (MEC), o painel “Universidades Amazônicas e a Transição Climática Justa: ciência, saberes tradicionais e inovação para um futuro sustentável” integrou a programação oficial do governo brasileiro na COP30 e reuniu lideranças acadêmicas para debater os desafios da educação superior na região. Participaram da mesa, além do reitor da Unifesspa, professor Francisco Ribeiro da Costa, as reitoras Aldenize Xavier (UFOPA) e Ana Beatriz (UFSCar), Gilmar Silva (UFPA), além de  Marcos Davi da Secretaria de Educação Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC). O encontro foi marcado por análises densas e complementares sobre o papel estratégico das instituições amazônicas no enfrentamento da crise climática.

Amazônia como centro da transição climática

Em sua intervenção, o professor Francisco enfatizou o protagonismo das universidades federais amazônicas como eixo estratégico do Estado brasileiro. São 14 instituições, com 78 campi distribuídos em mais de 150 municípios, inseridas em um território vasto e complexo que compõe a Amazônia Legal.

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Para ele, essa rede de ensino, pesquisa e extensão constitui “um dos pilares mais robustos do Estado brasileiro na região — e, paradoxalmente, uma das dimensões menos reconhecidas nos debates globais”. A compreensão dos desafios climáticos, afirmou, passa necessariamente pela valorização dessas instituições e de seus vínculos com as populações amazônicas.

A Unifesspa no contexto da Amazônia profunda

O reitor apresentou o lugar singular da Unifesspa dentro desse ecossistema institucional. Localizada em uma zona de transição entre biomas, conectada à bacia Araguaia–Tocantins e situada em uma região que reúne mais de 500 assentamentos rurais, a universidade está imersa em um território marcado por fortes pressões ambientais, diversidade sociocultural, conflitos contemporâneos e um patrimônio arqueológico ainda subexplorado.

“O sul e sudeste do Pará é um território onde conflitos do presente convivem com uma profundidade histórica extraordinária”, observou.

Memória profunda e saberes tradicionais

Ao destacar que não é possível compreender a Amazônia sem reconhecer a longa presença humana na região, o professor Francisco lembrou que os registros arqueológicos apontam ocupações no Brasil entre 13 e 15 mil anos, com hipóteses que chegam a 20 mil. Na própria Amazônia, ressaltou, sítios do alto Rio Madeira ultrapassam 11 mil anos e revelam sociedades complexas. Ao longo desse vasto período, povos diversos manejaram espécies, transformaram paisagens e desenvolveram tecnologias que moldaram a floresta por milênios.

Ele relatou sua visita recente ao acervo arqueológico da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), onde cerâmicas detalhadas e artefatos líticos evidenciam a sofisticação dessas sociedades. E reforçou: a falta de escavações, pessoal e continuidade revela a urgência de fortalecer as pesquisas arqueológicas e etno-históricas na Amazônia.

Diversidade indígena como fundamento da justiça climática

O reitor também destacou que a bacia amazônica abriga mais de 350 etnias, enquanto o Censo 2022 identificou 391 etnias no Brasil, muitas delas concentradas na região. No Pará, estima-se a presença de mais de 50 povos indígenas, sendo 11 apenas no sudeste do estado.

Essa diversidade expressa milhares de anos de adaptação e inovação — e deve orientar políticas públicas e ações institucionais que busquem justiça climática.

UNIND: uma universidade indígena em construção

Francisco apresentou ainda os resultados do Grupo de Trabalho da SESU/MEC sobre a criação da Universidade Indígena (UNIND), do qual fez parte. O GT consolidou uma minuta de lei e um documento de justificativa que fundamentam a necessidade histórica dessa nova instituição pública federal voltada às demandas e às epistemologias dos povos indígenas.

PSI-Q: protagonismo dos estudantes indígenas e quilombolas

No encerramento da participação, o reitor enfatizou o protagonismo dos estudantes indígenas e quilombolas da Unifesspa, especialmente por meio do Programa de Seleção Indígena e Quilombola (PSI-Q). Esses estudantes, destacou, trazem indicadores ambientais, narrativas de origem, práticas de manejo e saberes ancestrais que constituem formas altamente refinadas de conhecimento, essenciais para pensar futuros sustentáveis.

“Ignorar esse legado é repetir os erros que produziram desigualdades sociais e perdas ambientais profundas”, afirmou.

Transição climática justa: memória, tecnologia e diálogo

Para o professor Francisco, uma transição climática justa depende de reconhecer a profundidade histórica da presença humana na floresta. Tecnologias indígenas — como a terra preta, sistemas agrícolas biodiversos e paisagens manejadas — são, segundo ele, parte indispensável das soluções para o futuro.

“Ignorar esse legado é repetir os erros que produziram desigualdades sociais e perdas ambientais profundas”, afirmou.

Ao concluir sua fala, o reitor reiterou o compromisso da Unifesspa com uma ciência construída em diálogo com os saberes tradicionais, com o fortalecimento das pesquisas arqueológicas, ambientais e socioculturais, e com a defesa de uma Amazônia viva, justa e construída por seus povos.

(Fonte:Ascom Unifesspa)